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Até o momento, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não solicitou diligências sobre as afirmações de Valério à Polícia Federal ou a servidores do Ministério Público ou mesmo pediu autorizações ao Supremo. Ele tem evitado comentar o assunto. Sua assessoria disse apenas que ele irá tomar decisões sobre o depoimento após o término do julgamento do mensalão – e manterá silêncio sobre o assunto por enquanto. Cabe a ele, e não à polícia, decidir pela abertura de investigação sobre o caso.
Gurgel opta pelo silêncio para não “contaminar” mensalão
Investigadores ligados a Gurgel alegam que, diferentemente de outras vezes, Marcos Valério não apresentou novos documentos. Por isso, não descartam a possibilidade de o procurador-geral da República sequer abrir inquérito e arquivar o depoimento por falta de indícios. Essa probabilidade não é bem aceita por setores da Polícia Federal. Mas há uma alternativa: o procurador requisitaria algum outro tipo de diligência e, só depois, optaria pelas quebras de sigilos bancário e fiscal.
Ainda assim, policiais federais creem ser possível conferir a veracidade – ou a mentira – das afirmações de Valério a partir de quebras de sigilo bancário e fiscal. Um deles – com ampla experiência no caso do mensalão – chegou a dizer serem “facilmente verificáveis” as declarações a respeito do episódio da suposta chantagem. “São indícios fortes que podem ser materializados em provas. Tem que abrir inquérito”, defendeu. O dinheiro sempre deixa pistas, lembram.
Revelado esta semana pelo jornal O Estado de S.Paulo, o depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público elenca uma série pagamentos, encontros e reuniões já desmentido em muitos pontos por integrantes do PT, como o próprio ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu e o atual presidente da legenda, Rui Falcão. Entretanto, as acusações que envolvem transferências de dinheiro poderiam ser comprovadas ou refutadas com uma investigação, analisaram os agentes e integrantes do MP que conversar com o site sob a condição de anonimato.
No depoimento, Marcos Valério diz, basicamente, que:
1) Segurança. A agência SMPB pagou R$ 100 mil à empresa ligada ao ex-segurança de Lula Freud Godoy e depois fez outro pagamento, não detalhado.
2) Advogado. O PT pagou R$ 4 milhões ao advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo.
3) Chantagem. O PT pediu a Valério R$ 6 milhões para entregar a Ronan Maria Pinto, para que ele parasse de chantagear Lula sobre o episódio da morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André (SP). Valério não aceitou. Mas o empresário e amigo de Lula José Carlos Bumlai pegou um empréstimo no banco Schahin e entregou a Ronan Maria Pinto, que comprou metade do jornal Diário do Grande ABC.
4) Campanha do senador. Valério pagou R$ 512.337 à campanha eleitoral de 2002 do senador Humberto Costa (PT-PE).
5) Pedágio de 2%. Os dirigentes do Banco do Brasil e do Banco Popular do Brasil pagavam as agências de publicidade, mas exigiam que 2% dos valores fossem remetidos ao PT, a título de pedágio.
Todos os personagens acima que se manifestaram até agora negaram as acusações de Valério. O próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já disse que Valério é “um jogador”, que age e fala da maneira como melhor lhe convém.
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“Follow the money”
Um dos policiais federais que investigaram o mensalão disse ao Congresso em Foco que algumas informações se assemelham a dados colhidos no relatório do delegado Luís Flávio Zampronha e entregue ao Supremo no ano passado, como o pagamento de R$ 98,5 mil à empresa de Freud Godoy em 23 de janeiro de 2003. O segurança diz que o repasse trata de despesas de campanha eleitoral. Marcos Valério diz agora que o recurso foi para bancar despesas pessoais do ex-presidente Lula. Declarações de Valério também se aproximam de documentos entregues por ele à CPI dos Correios em 2005, como depósitos de R$ 300 mil a uma prestadora de serviços da campanha de Humberto Costa.
Um especialista em crimes financeiros da Polícia Federal menciona a famosa frase do caso Watergate, que resultou na queda do ex-presidente dos EUA Richard Nixon nos anos 70. À época, repórteres do jornal Washington Post foram aconselhados por um policial a rastrearem o caminho do dinheiro usado no assalto ao comitê do partido democrata. No caso do depoimento de Valério, não seria diferente, analisou essa fonte. O importante seria cumprir o conceito de “follow the money” ou “sigam o dinheiro”.
Um procurador do Ministério Público com trânsito com Gurgel afirmou ao site que, nessa situação, o mais comum seria o procurador solicitar as informações diretamente ao Banco Central. Seria necessária uma autorização do Supremo. A PF ficaria de fora da investigação. Mesma opinião tem outro investigador que costuma dialogar com o procurador-geral. Para esse outro, o trabalho policial seria apenas acessório. Mesmo dentro da PF, é grande o sentimento de que a corporação não participará ativamente de uma futura investigação.
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