Na assumida tentativa de se explicar à sociedade e tentar se desvincular da crise do Senado, o PSDB, o DEM e senadores do PDT, PSB, Psol e PMDB anunciaram hoje (13) à tarde medidas para retaliar o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mesmo derrotados com a absolvição do alagoano ontem, eles querem fechar o cerco e fazê-lo deixar a presidência da Casa.
Por isso, anunciaram quatro medidas: querem pressa na apuração das novas denúncias contra Renan; querem pressa na aprovação de matérias para moralizar o Senado; sequer vão se reunir com o presidente da Casa; e vão escolher algumas medidas provisórias e projetos de lei para fazerem obstrução “seletiva” no plenário.
Participaram do encontro, os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), José Nery (Psol-PA) e Patrícia Saboya (PSB-CE). O líder do DEM, José Agripino (RN), usou a absolvição de Renan para explicar o que motivou os colegas a tomarem as decisões de hoje. “Mostrar ao país que nós não somos parte daquele cenário. Estamos demarcando nosso território.”
O grupo de senadores quer a rápida indicação dos relatores paras as denúncias ao Conselho de Ética, segundo as quais Renan usou laranjas para comprar rádios em Alagoas e participou do pagamento de propinas para obter benefícios ao PMDB.
A pauta ética defendida pelo grupo tem três matérias: a PEC 38/2004, do ex-senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que torna abertas todas as votações de cassação em plenário; o projeto de resolução de Delcídio Amaral (PT-MS) que acaba com as sessões secretas; e a proposta de resolução para afastar da Mesa Diretora e das comissões todos os acusados em processos no Conselho de Ética.
Segundo Agripino, nenhum dos três partidos e dos senadores participantes do encontro de hoje sequer vai participar de reuniões com Renan. Ontem, o presidente da Casa pediu reunião com os líderes para retomar o rumo das votações.
“Pauta seletiva”
O grupo promete se reunir semanalmente para avaliar a pauta de votações. Tudo o que não for considerado importante para o país será obstruído. Entram aí, por exemplo, as medidas provisórias que abrem créditos extraordinários ao governo federal. Os presentes não afirmaram, severamente, que a prorrogação da CPMF é um tema sem interesse nacional. “Ela nem chegou ao Senado. Não temos pressa de votar a CPMF. Isso é um problema do governo”, disse Agripino.
O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), chamou a obstrução de “pauta seletiva”. E negou barganhas. “Não vamos trocar nada por nada. Vamos discutir em cima de princípios”, afirmou Tasso. O objetivo é não votar essas matérias até Renan deixar a presidência.
Afastamento
Apesar de duvidarem que Renan deixe a presidência, o grupo de senadores vai continuar pedindo a saída do alagoano do posto, ainda que temporariamente. “Teríamos um certo alívio”, avaliou o líder dos tucanos, Arthur Virgílio (AM). No plenário, Cristovam Buarque já pediu hoje à tarde que Renan saia do cargo. O presidente da Casa respondeu com ironiza: “A democracia é bela porque permite momentos como esse”.
Sem condições de abalar o presidente do Senado, a idéia é mesmo marcar posição. “A crise vai persistir. Vamos aceitar? Vamos entrar no cocô?”, afirmou um parlamentar presente à reunião. “Vai ser uma forma de pressão. Temos que continuar na luta”, disse Patrícia de Saboya.
O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), afirmou que o partido apoia o pacote de medidas éticas.Entretanto, a sigla não vai adotar a obstrução e o boicote às reuniões com Renan. "Somos da base do governo. Temos que ir com calma. O que vai tirar Renan da presidência são os processos. Entrar em obstrução vai aumentar a crise", justificou ele, ao Congresso em Foco. Casagrande foi um dos dois relatores que pediram a cassação do presidente do Senado.
Frente pelo voto aberto
Paralelamente, os deputados que protagonizaram a quebra do regimento interno do Senado ontem – ao assistirem a sessão secreta que absolveu Renan – voltaram à carga. Na próxima terça-feira (18), às 17h, no plenário 4 da Câmara, eles instalam a Frente Parlamentar pelo Voto Aberto.
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) afirma que as votações sigilosas só tinham sentido na época da ditadura. (Eduardo Militão)
.
Atualizada às 18h51
Deixe um comentário