Mas, agora à noite, a assessoria do DEM procurou a reportagem para informar que o indicado não seria mais Júlio, mas Pauderney Avelino (DEM-AM). O motivo da mudança, afirma a assessoria, não foi a investigação contra Júlio Campos, mas o fato de Pauderney ter conseguido maior número de apoiadores entre os seus colegas de partido.
No começo da noite, Júlio afirmou ao Congresso em Foco que havia recebido o convite do líder da bancada, Mendonça Filho (PE), como uma “homenagem” e que decidiria se aceitava o cargo apenas nesta quarta-feira (26).
Ele disse não ver problemas em responder a um inquérito por duplo homicídio no Supremo e comandar a Comissão de Segurança Pública. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra”, disse o deputado à reportagem. “Em que eu posso me beneficiar em ser presidente dessa comissão? Parar o inquérito, não vai”, comentou. “Se o ministro aceitar a denúncia e o plenário acatar, eu vou ter de responder.” Júlio Campos afirma não ter praticado crime algum. O único motivo que poderia fazê-lo desistir do convite para presidir a comissão seria a fragilidade do seu estado de saúde, declarou.
Em janeiro do ano passado, o então procurador-geral da República Roberto Gurgel denunciou o deputado pela morte do geólogo Nicolau Ladislau e do empresário Antônio Ribeiro Filho, assassinados em São Paulo após questionarem a transferência fraudulenta da fazenda Cedrobom, em Mato Grosso. Segundo a acusação, a propriedade foi transferida para pessoas que admitiram ser “laranjas” de Júlio, ex-governador do estado. “As provas que integram este inquérito comprovam que José Júlio de Campos foi o mandante dos dois assassinatos”, afirma Gurgel na denúncia que está, há mais de um ano, nas mãos do relator do caso no STF, ministro Marco Aurélio Mello. O relator ainda não apresentou seu parecer.
Júlio Campos disse à reportagem que Mendonça Filho e os deputados do DEM “queriam prestar uma homenagem” a ele por causa da proximidade de sua despedida da Câmara. Aos 67 anos de idade e 45 de vida pública, ele vai encerrar a carreira política – já foi prefeito, governador, senador, deputado e conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso.
Pela divisão das comissões entre os partidos, o DEM ficaria com a de Viação e Transportes, mas a trocou, de última hora, pela Comissão de Segurança Pública.
Hoje à tarde, a Agência Câmara, veículo oficial da Casa, informou que Júlio Campos era o indicado do partido para assumir a comissão. À noite, a assessoria da Liderança do DEM confirmou a informação à reportagem. Após ser questionada sobre o processo do deputado por homicídio, a assessoria procurou o líder Mendonça Filho. Mais tarde, disse que Pauderney Avelino também quer presidir o colegiado. O parlamentar amazonense confirmou à reportagem o interesse. Em seguida, a Agência Câmara retirou do ar o nome do deputado da lista dos indicados e informou que ele disputava o cargo com o colega amazonense.
Júlio Campos disse que seu caso não tem nada a ver com os questionamentos feitos contra Blairo Maggi, um dos maiores agricultores do país, que assumiu a Comissão de Meio Ambiente do Senado, e Marco Feliciano, que é contra o casamento homossexual e assumiu a Comissão dos Direitos Humanos no ano passado. De acordo com Júlio Campos, Blairo “foi um bom presidente da comissão”. “E o Marco Feliciano foi muito imprudente nos primeiros meses dele lá. Eu tenho muito bom senso e equilíbrio”, disse o deputado do DEM.
Telefonemas
A denúncia da Procuradoria-Geral da República é embasada na quebra de sigilo telefônico dos assassinos, dos contratantes das mortes e do próprio Júlio Campos. Horas depois da morte de pelo menos uma das vítimas, o geólogo Ladislau, há troca de telefonemas entre o policial que executou o crime e o advogado de Júlio Campos, e deste com próprio deputado. O Ministério Público sustenta que o ex-governador pagou R$ 100 mil apenas para encomendar a morte do geólogo, a cargo de um policial civil. O deputado ainda é investigado por crimes eleitorais e falsificação de documento em outros dois inquéritos no Supremo.
Júlio Campos sempre rechaçou a denúncia da PGR. “Jamais cometeria um troço desses”, afirmou ele ao Congresso em Foco em 2011. Na noite desta terça-feira (25), ele disse que os telefonemas entre ele e seu advogado, que minutos antes conversava com o executor do crime contra Nicolau Ladislau, não comprovam a denúncia. “Não tem nada que me ligue ao assunto. O [suposto] intermediário é meu advogado em alguns assuntos e que estava vendendo minha televisão em Cuiabá. Está tudo documentado”, justificou Júlio Campos.
Ele destacou que a própria família de Ladislau “não tem nada contra” sua pessoa. Além disso, afirma que, por ser parlamentar, está mais exposto a denúncias e a pessoas que se aproveitam de sua visibilidade.
O deputado ainda acusou Roberto Gurgel e sua esposa, a ex-procuradora Cláudia Sampaio, de perseguição. “Lamentavelmente, no último dia da gestão do ex-procurador, ele encaminhou todos os processos de parlamentares. Ele pegou a cópia de um relatório que um delegado maluco de São Paulo escreveu, reescreveu a mesma coisa e mandou pra frente para não ficar na mesa dele.” Na verdade, a denúncia foi oferecida oito meses antes de Gurgel deixar o caso.
Júlio Campos questionou as “decisões políticas” de Gurgel que o desgastaram perante o Congresso. Lembrou que o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) acusa o procurador de fraude em um parecer. E reclamou do fato de a mulher do procurador, Cláudia Sampaio, ter segurado seu processo durante cinco anos, quando o caso ainda tramitava no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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