Delegados e peritos criminais federais reagiram negativamente às declarações dadas pelo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, em entrevista à agência Reuters. Segóvia disse que a PF deveria arquivar o inquérito que apura se o presidente Michel Temer recebeu propina para editar um decreto em favor da empresa Rodrimar, no porto de Santos. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também contestou a posição do diretor-geral. “Ele não pode em hipótese alguma atuar como espécie de advogado de defesa do senhor presidente Michel Temer. Ficam esclarecidos os encontros na calada da noite, em encontros fora da agenda previamente definida, com um réu em vários encontros, que é o senhor Michel Temer”, atacou Randolfe.
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Integrantes do grupo de inquéritos da Lava Jato reclamaram, em grupo de delegados no Whatsapp, que foram surpreendidos pelo diretor máximo do órgão. Segundo eles, a manifestação de Segóvia é pessoal e de sua inteira responsabilidade.
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“Os integrantes do Grupo de Inquéritos da Lava Jato no STF informam que a manifestação do Diretor Geral da Polícia Federal que está sendo noticiada pela imprensa, dando conta de que o inquérito que tem como investigado o Presidente da República tende a ser arquivado, é uma manifestação pessoal e de responsabilidade dele. Ninguém da equipe de investigação foi consultado ou referenda essa manifestação, inclusive pelo fato de que em três de anos de Lava Jato no STF nunca houve uma antecipação ou presunção de resultado de Investigação pela imprensa”, escreveram delegados da Lava Jato a colegas.
Temerário
A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) classificou como “temerário” que o diretor-geral da PF fale sobre investigação da qual não faz parte. “A Polícia Federal trabalha com independência, de modo que eventuais declarações à imprensa não afetarão a rotina dos colegas dedicados à apuração citada pelo diretor”, informou a entidade por meio de nota (veja íntegra abaixo).
Em entrevista à Reuters, Segóvia afirmou que a PF não encontrou provas de irregularidades envolvendo o presidente.
“No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, declarou aos repórteres Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito.
Segundo o diretor, a tendência é que a Polícia Federal recomende o arquivamento do caso. Mas a Procuradoria Geral da República pode aceitar ou não essa recomendação.
Segóvia disse que não há indícios de que a Rodrimar tenha sido beneficiada pelo decreto, editado em 2017, nem que tenha havido oferta de propina. A PF apura se a medida que ampliou para 35 anos as concessões do setor favoreceu a empresa. Além de Temer, são investigados o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures, o presidente da Rodrimar, Antônio Grecco, e o diretor da empresa Ricardo Mesquita.
Veja a íntegra da nota da APCF:
“É sempre temerário que a direção-geral emita opiniões pessoais sobre investigações nas quais não está diretamente envolvida. A Polícia Federal trabalha com independência, de modo que eventuais declarações à imprensa não afetarão a rotina dos colegas dedicados à apuração citada pelo diretor. Entre os elementos que garantem a isonomia da PF estão os laudos produzidos pela perícia criminal federal, que é uma carreira submetida, por força de lei, à necessidade de agir com equidistância das partes. Os laudos garantem a sustentação científica da investigação e do processo criminal.
Marcos Camargo, presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF)”
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