Diego Moraes |
Com tranqüilidade, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez ontem aquilo que a oposição e integrantes do próprio PT têm cobrado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: rebateu, de forma veemente, uma por uma as acusações feitas contra ele e enfrentou questionamentos dos jornalistas durante entrevista coletiva à imprensa, em pleno domingo. O alcance e a veracidade das declarações de Palocci vão ser postos à prova nos próximos dias, conforme a reação do mercado às investigações desencadeadas pelo Ministério Público, mas o mais influente dos ministros de Lula conseguiu, ao menos, impedir que a crise política contamine, por ora, a política econômica que conduziu nos últimos dois anos e oito meses. As denúncias, feitas na última sexta-feira, tiveram efeito imediato no mercado. O dólar teve alta de 2,94%, a maior em 15 meses; o risco-país subiu 3,2% e a Bovespa caiu 0,95%. O impacto das declarações do ministro deve ser sentido hoje, com a reabertura da Bolsa de Valores. Leia também Na primeira entrevista coletiva concedida por um membro do governo desde o início da crise política, há quase três meses, Palocci foi categórico ao refutar as denúncias de corrupção durante sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e enfatizou: não vai deixar o ministério, a menos que o pedido venha do Palácio do Planalto. "O presidente Lula pediu que eu transmitisse a vocês a sua decisão: ele não deseja que eu saia do Ministério da Fazenda, ele disse que não autorizará o meu afastamento, mesmo temporário", afirmou. Palocci convocou a imprensa para se defender das acusações feitas pelo seu ex-assessor na prefeitura de Ribeirão Preto, o advogado Rogério Buratti, que prestou depoimento ao Ministério Público na última sexta-feira (19). Buratti acusou Palocci de receber ilegalmente, quando ainda era prefeito do município, uma comissão mensal de R$ 50 mil da empresa Leão e Leão, responsável pela coleta de lixo no município. O dinheiro, supostamente pago entre os anos de 2001 e 2002, seria repassado ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para custear campanhas do diretório paulista. Apesar da alta no preço do dólar e da queda nas bolsas de valores, com a divulgação das denúncias, Palocci tentou tranqüilizar o mercado e também os investidores. Disse que as denúncias de Buratti não trazem riscos à economia e enfatizou que as políticas encampadas pelo governo nos últimos anos deram estabilidade ao cenário econômico brasileiro – que já não depende mais de nomes ou grupos de governo para continuar de pé. “A economia não reagirá negativamente com fatos que envolvem pessoas. Apenas quando envolver questões políticas. A economia deve continuar forte”, afirmou. Entretanto, o ministro ressaltou que não pretende fazer terrorismo quanto à sua permanência no cargo. Segundo ele, o cenário econômico não corre o risco de perder o rumo sem sua tutela. “Jamais vou utilizar a sensibilidade da economia para ficar no ministério. Ninguém é insubstituível”, disse o ministro. Palocci afirmou que o governo não vai fazer mudanças profundas na política econômica. Segundo ele, não haverá aperto fiscal extra para segurar a inflação, mas o ministério não pretende liberar os juros como forma de alterar a já abalada popularidade de Lula. “A política não será mais ortodoxa. Não é a política econômica que blinda a economia, mas sim os resultados dela própria”, disse. Palocci afirmou que os brasileiros souberam a importância do compromisso fiscal e que, por isso, a economia se fortaleceu em pilares consistentes, sem receitas exóticas ou milagres. “Mesmo se minha imagem for prejudicada, não vai ter abalo na economia”, tranqüilizou o ministro.
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