Roberto Marques, da Agência UniCeub
Cerca de 300 moradores da Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, a cerca de 20 quilômetros de Brasília, ocupam área de risco e podem ficar desalojados com o aumento das chuvas na região. Segundo a Defesa Civil, 76 casa estão em situação de risco. Os moradores, porém, alegam que não têm condições financeiras para saírem do local, e ainda esperam por uma resposta do governo que prometeu regularizar a situação.
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A Vila Cauhy é uma das 36 áreas de riscos no Distrito Federal registradas pela Defesa Civil. Em janeiro deste ano, o local já sofreu com uma inundação. Na ocasião, porém, os moradores tiveram apenas perdas materiais. Mesmo com os riscos e o prejuízo já causado pelas chuvas no início do ano, os moradores preferem ficar na casas de amigos e familiares da mesma região do que irem para o Centro Comunitário do Núcleo Bandeirantes.
A vila tem cerca de 470 residências. Em janeiro, pelo menos 200 casas ficaram alagadas. As principais vítimas são as residências próximas ao córrego Guará – que pode subir consideravelmente o nível em virtude das chuvas. Segundo os moradores, o governo já esteve no local e prometeu ajudá-los a resolver o problema. Foram doadas pela Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth) cestas básicas e uma ajuda de custo de R$ 408 para cada família.
De acordo com a moradora Jéssica dos Santos Nascimento, 24 anos, a água chegou a ficar na altura do peito. “A gente estava dormindo, de repente todos começaram a gritar: está alagando. Tive muito prejuízo, perdi roupas, perdi minha cômoda e todos os meus alimentos”, lamenta. Ela conta que a administração da cidade ajudou, mas não foi como esperavam.
Outra moradora que não quis se identificar, relata que a ajuda de custo de R$ 408,00 dado pelo governo do DF não foi suficiente. Mesmo ciente do risco, é observado que muitas pessoas não tem para onde ir e se negam a serem deslocadas para fora do DF.
No caso de Isaura da Conceição da Silva, 39 anos, outra moradora da vila que teve as perdas semelhantes, a ajuda do governo foi suficiente para repor o prejuízo. Há 22 anos na vila, ela explica não ser a primeira vez que presenciou uma enchente. “Na última, o governo arrumou minhas máquinas de roupa e de costura, e também me deu R$ 408,00 como ajuda de custo. Achei muito bom porque não tinha condições de arrumá-las sozinha”.
A comerciante, Edsandra Benvinda da Costa, 41 anos, que mora no local há 15 anos, também sofreu com os danos da enchente, mas alega que só aceitaria ser deslocada se fosse para dentro da Vila, “Fomos no posto de atendimento da Codhab (Companhia de Habitação) que fica aqui na Vila, mas eles não deram uma resposta definitiva”.
Alto risco
O chefe do Núcleo Operacional da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil, Carlos Alberto dos Reis Silva, alerta que a Vila Cauhy possui uma área de risco muito alta. Além da ameaça aos moradores, também há um grande impacto ambiental. Ele explica que os moradores não respeitam o limite de distância do córrego e por ser um local sem saneamento básico e sem infraestrutura apropriada, todo o esgoto acaba sendo depositado no rio. “A Defesa Civil fez o que pôde para socorrer os moradores nas enchentes. Eles estão cientes dos riscos e mesmo assim não querem se deslocar para outra área”, conta.
O administrador do Núcleo Bandeirante, Cleudimar Sardinha, 43 anos, declarou que a administração da cidade tem um papel neutro para mediar o contato dos moradores com o governo. “É possível a regularização, mas essa regularização vai ter que seguir algumas etapas e obedecer critérios. Um deles é a desocupação da área de 30 metros do córrego”, explica Sardinha.
É possível deslocar os moradores para a mesma área sem desobedecer o limite recomendado, mas tudo depende do processo de regularização da área que ainda está no Ibram (Instituto Brasília Ambiental). O projeto prevê deslocar os moradores para uma região mais alta dentro da própria Vila. Segundo a Administração, não há previsão de quando o processo vai sair do Ibram e voltar para a Codhab e se vai dar para regularizar ou não aquela região.
Segundo o governo, os moradores da Vila Cauhy recebem acompanhamento desde o início. A administração faz intervenções na área, como limpeza do córrego e suas margens, plantio de mudas nativas da região e trabalho de conscientização de descarte de lixo.
De acordo com a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), todas as famílias foram referenciadas no Centro de Referência Assistência Social (Cras) Núcleo Bandeirante e estão sendo acompanhadas. Já a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab) disse que ainda não houve a realocação de moradores, mesmo com o risco de outras inundações. Contudo, está sendo realizado um levantamento para que isso ocorra, mas ainda sem data definida.
O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) declarou, por meio de nota, que a Vila Cauhy está localizada em uma área de proteção ambiental, e, por isso, o processo foi passado para o órgão, mas ainda está sob análise. Os moradores, no entanto, vão ter que aguardar o Instituto terminar a avaliação e devolver o processo para a Companhia de Habitação.
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