No SBT, Lula ressalta avanços sociais e ações do seu governo. Alckmin defende mudanças administrativas e crescimento econômico
Se você tem vivas na memória as imagens do quentíssimo encontro entre os presidenciáveis promovido dia 8 pela TV Bandeirantes e por acaso não viu o debate realizado hoje (19) à noite pelo SBT, procure imaginar mais ou menos o inverso do que ocorreu 11 dias atrás.
Restringidos pela regra do programa, que impedia ofensas pessoais e procurava estimular a discussão de idéias, os candidatos Lula (PT) e Alckmin (PSDB) enfrentaram-se no SBT num clima de respeito mútuo, deixando de lado as trocas de acusações para se concentrar na avaliação do que cada um fez como gestor público (na Presidência da República e no governo de São Paulo) e no debate de propostas de ação.
Ele dispararam críticas um contra o outro, mas de uma maneira que, comparada ao que se viu no debate do dia 8, conferiu ao embate características de um confronto entre lordes. Que, por sinal, se cumprimentaram cordialidade no início e no fim do debate.
Ao longo de 90 minutos, Lula ressaltou as realizações do seu governo, prometeu fazer mais em um eventual segundo mandato e procurou explorar aspectos que considera incoerentes no discurso do seu adversário. Já Alckmin manteve o tom de crítica à administração petista, mas de modo bem mais suave que o adotado na Band, e sempre tentando pôr em destaque três compromissos básicos: com a ética, o crescimento econômico e a melhoria da gestão.
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Alckmin aposentou a agressividade que, segundo a avaliação da maioria dos analistas, teria lhe garantido a vitória no programa da Bandeirantes. A conclusão é discutível, já que o candidato desde então não pára de despencar nas pesquisas de intenção de votos (apesar de também não haver segurança sobre a relação entre uma coisa e outra).
Lula, desta vez, demonstrou maior firmeza e, em várias oportunidades, dedicou-se – embora de modo menos incisivo – ao esporte exercitado por Alckmin no debate anterior: apontar as perguntas não respondidas pelo adversário.
O debate acabou exatamente às 22h37, pelo horário de Brasília. Várias vezes, os candidatos extrapolaram o tempo a que tinham direito, levando a mediadora, a apresentadora Ana Paula Padrão, a interrompê-los. Isso aconteceu 12 vezes com Alckmin e cinco com Lula.
Como fizemos com o debate na Bandeirantes (leia mais), selecionamos os principais trechos do programa do SBT. Também nos manteremos fiéis à linha de não apontar vencedores. Um bom resumo do que aconteceu segue adiante, cada um que chegue à conclusão que aparecer melhor apropriada.
Veja a seguir os principais momentos do debate, bloco a bloco.
Primeiro bloco
No primeiro bloco, foram sorteados três temas sobre os quais os candidatos deveriam discorrer. O primeiro deles foi agricultura. O presidente Lula destacou os investimentos do governo no setor agrícola. O petista disse que investiu no último plano de safra R$ 60 bilhões, "o maior volume dos últimos 30 anos", e ressaltou que os investimentos que fez no setor foram muito superiores ao do governo anterior. Lula reforçou ainda que atendeu, dentro das possibilidades, todos os pedidos do ex-ministro Roberto Rodrigues.
"A agricultura é um dos pilares do desenvolvimento do país. O problema é que a agricultura passa por crises cíclicas", afirmou, reconhecendo que o setor agrícola enfrentou "problemas sérios" nos últimos dois anos, que ele atribuiu em parte ao aumento da oferta mundial de alimentos.
O ex-governador Geraldo Alckmin criticou as medidas de Lula para a agricultura. Disse que o setor sofreu "a maior crise dos últimos 40 anos", causada pela "omissão do atual governo" e "por um conjunto de problemas trazidos pelo governo Lula". Entre os problemas, o tucano citou a volta da aftosa, a quebra de produção e a paralisia do segmento de produção de máquinas agrícolas.
"O candidato Alckmin comete injustiças graves. Tive como ministro da Agricultura um amigo meu e um amigo dele, uma das pessoas mais competentes do país e que é agricultor. Tudo o que foi pedido pelo Roberto Rodrigues nós fizemos. Acontece que nem sempre o Tesouro tem dinheiro para resolver os problemas na hora certa", afirmou Lula.
O segundo tema do primeiro bloco foi a corrupção. Alckmin foi o primeiro a falar. O tucano disse que "o governo precisa dar o exemplo para a sociedade. Tem que ser aquele em que a população se espelha". "O que vimos no governo Lula não foram fatos isolados, o que já seria grave. Foi uma questão endêmica, que começou com o caso Valdomiro, passando pelo mensalão, Visanet, o escândalo da Secom, Getech e culminando com a questão do dossiê", disse o tucano.
Ele cobrou a origem do R$ 1,7 milhão apreendido pela Polícia Federal com petistas, no hotel Íbis Congonhas, em São Paulo, e ressaltou que já se passaram 34 dias desde que o esquema foi desmontado. Lula rebateu as críticas dizendo: "Esta campanha vai se tornar a campanha de uma nota só. Se as coisas estão aparecendo é porque o governo está apurando".
O terceiro assunto foi a saúde. Lula citou dados de investimentos do governo nessa área e afirmou que pretende estender à saúde pública o tratamento de oftalmologia. Entre outros números, o presidente disse que aumentou os investimentos em saúde de R$ 28 bilhões para R$ 44,3 bilhões por ano; elevou de 4 mil para 14 mil o total de agendes de saúde bucal; e ampliou em 57% o total de agentes comunitários de saúde, que chegou a 26 mil.
Alckmin rebateu: "A saúde vai muito mal, ela piorou no atual governo. As santas casas estão quebradas porque a tabela do SUS não é corrigida. Arrecadou R$ 30 bilhões da CPMF, não repassou nenhum centavo para as prefeituras, nenhum centavos pros estados". Segundo o presidenciável tucano, o atual governo "abandonou os mutirões de saúde da gestão passada, a Aids piorou no governo Lula, o programa dos genéricos foi abandonado e os hospitais do Rio entraram em colapso". Ele completou: "Pra mim não tá bom. Vou melhorar e corrigir a saúde".
Lula rebateu as afirmações: "Não está bom para o Alckmin porque ele não utiliza a saúde publica, certamente ele usa o convênio médico. Eu sei o que é a saúde pública porque convivo com ela. Estamos longe da saúde que desejamos para nossos filhos, mas o que estamos fazendo na saúde jamais foi feito", afirmou o petista.
Segundo bloco
No segundo bloco, assim como no terceiro, os candidatos fizeram perguntas entre si.
Questionado por Lula sobre suas propostas para a área de segurança, o presidenciável do PSDB afirmou que o problema da violência nas grandes cidades se deve principalmente ao tráfico de drogas e ao contrabando de armas, assuntos da responsabilidade do governo federal, que é incapaz de controlar as fronteiras nacionais. Ele prometeu, se eleito, equipar a Polícia Federal para protegê-las.
"A cidade de São Paulo não tem mais preso em cadeia. Investimos em policiais, fiz a minha parte. Mas por trás da questão de segurança tem o trafico de drogas. O que nos temos é uma omissão do governo federal, que tem a polícia de fronteira, que tem a missão de combater o trafico de drogas, de armas e não faz", afirmou.
Segundo Alckmin, o governo, em vez de investir, cortou verbas da segurança. "O que o governo atual fez com a segurança foi cortar todas as verbas, reduziu à metade o fundo de segurança e o fundo penitenciário. Eu vou assumir como responsabilidade do governo federal. Se esse é um problema do Brasil todo, é um problema do presidente. Vou criar o Ministério da Segurança Pública", declarou.
Lula rebateu as afirmações e ironizou: "Pelo amor de deus. Que o povo de São Paulo não ouça, que vai pensar que vai ter um PCC no Brasil inteiro. Eu não posso ficar chutando, tenho que dizer números exatos", comentou. “Temos 17 mil km de fronteira seca e 86% das armas apreendidas são fabricadas no país, não são contrabandeadas. Propusemos um sistema de integração e só São Paulo não aceitou. Só aceitou agora com o [governador Cláudio] Lembo”.
Alckmin devolveu a provocação de Lula e afirmou que, em São Paulo, "não tem nenhum líder do crime organizado que não esteja preso em penitenciária de segurança máxima". "O que eu lamento é que os criminosos do colarinho branco estejam soltos, sem responder à Justiça", declarou. Segundo Alckmin, Lula também falhou no campo das iniciativas legais: “A legislação é muito fraquinha com o crime organizado e dura com o pequenininho”.
Outro tema abordado durante o segundo bloco foi a educação. Lula perguntou a Alckmin: "Você disse que a educação será um dos pilares do seu governo, mas de acordo com os resultados do Enem [programa federal de avaliação do ensino médio] seu governo no estado de São Paulo foi um desastre. A reprovação triplicou no ensino médio, duplicou no ensino fundamental e São Paulo ficou em oitavo lugar na avaliação do Enem. Qual é a sua proposta para a educação?"
"O candidato Lula está fazendo a mesma pergunta do último debate”, observou Alckmin. Ele acrescentou que o sistema de ensino de São Paulo não foi avaliado, foram avaliados os alunos que fizeram o exame. “Faz a prova quem quer. Enquanto o governo federal tinha quatro horas-aula elevamos para seis horas-aula. Levamos a Universidade de São Paulo para a zona leste. Aumentamos o número de Fatecs. E não estou aqui para discutir São Paulo, porque em São Paulo já ganhamos as eleições com José Serra. Estou aqui para discutir o Brasil. No Brasil, temos 2,5 milhões de crianças de sete a 14 anos fora da escola, 250 mil a mais no trabalho infantil. O senador Cristovam Buarque, um dos mais respeitados mestres, foi demitido do Ministério da Educação por telefone. O Fundeb por quatro anos não saiu do papel". E completou: "Vou priorizar creches e fazer a universalização do ensino médio".
Em resposta a Alckmin, Lula disse que o Enem avalia o nível dos alunos, sim, mas exatamente para verificar a qualidade do ensino que eles estão recebendo. "Nós, que não temos toda a sapiência que o candidato Geraldo Alckmin tenta demonstrar, aumentamos o número de universidades". Quanto ao Fundeb (novo fundo de financiamento da educação básica, mais amplo que o Fundef, criado por Fernando Henrique), afirmou que “só não foi aprovado porque o PSDB não quis votar porque parece que ele não quer votar nada que ajude o atual governo”.
Alckmin questionou o presidente sobre o estudo publicado pela revista londrina The Economist no qual o Brasil ficou em último lugar dentre 27 países emergentes analisados. Alckmin quis saber do presidente em qual posição o Brasil havia sido classificado.
Em resposta, Lula disse: "O candidato Geraldo Alckmin é um daqueles brasileiros que acreditam que o que dá no New York Times é verdade e o que deu no jornal local não vale, é colonizado". Para o presidente "não há, em nenhum momento da história brasileira, um momento como este para o crescimento". Como exemplos do crescimento do país, Lula destacou: "A exportação é recorde, temos a maior geração de empregos dos últimos dez anos, melhor distribuição de renda, 19% das pessoas saíram da linha da pobreza, a construção civil está vivendo o melhor momento dos últimos 20 anos”. Lula complementou: “A economia brasileira não está como eu queria, no ápice, mas está preparada para dar o próximo salto para o crescimento".
“O Brasil cresceu 2,3% no ano passado, só não foi pior que o Haiti”, lembrou Alckmin. Mencionando as difíceis condições em que recebeu o país, Lula declarou: “Fico triste de comparar com o Haiti”.
Em seguida, questionou o candidato do PSDB sobre um dos principais pontos explorados neste segundo turno pela campanha petista: as privatizações. Lula afirmou que, no governo passado, “praticamente tudo foi privatizado” e pergunto: “Sem que a gente fique nervoso aqui, só para discutir, qual é a sua visão sobre a privatização?”
Alckmin respondeu que as privatizações foram benéficas para o país e disse que, quando bem feitas, geram resultados positivos para a sociedade. "O candidato não reconhece nada do que foi feito antes dele, tem os olhos no passado. Eu tenho os olhos voltados para o futuro. A privatização teve avanço, como a telefonia. Quem tinha telefone antigamente? US$ 3 mil um telefone. Hoje, 90 milhões de brasileiros tem um celular, fora a telefonia fixa. Aliás, se tivesse errado, ele devia ter reestatizado", replicou Alckmin.
Lula rebateu dizendo que o governo anterior vendeu R$ 200 bilhões em empresas estatais e só conseguiu aumentar a dívida pública. Ele questionou ainda a destinação dos recursos obtidos com a venda de companhias como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional. “Onde foi parar esse dinheiro?”, indagou.
Alckmin respondeu que "não tem problema privatizar" se for feito da forma correta. "O que não pode é mentira, dizer que eu vou privatizar o banco do Brasil, a Caixa Econômica e a Petrobras". O tucano afirmou ainda que o país "andou para trás" porque, quando Lula assumiu, havia 8 milhões de desempregados no país e agora existem 9 milhões. “Ele acha que está bom o Brasil crescer 2%. Aliás, disse que não tem pressa. Eu tenho pressa para crescer. Vou cortar gastos, vou diminuir juros e reduzir impostos para crescer”, afirmou.
Lula retrucou dizendo que criou muito mais empregos que seu antecessor, o também tucano Fernando Henrique Cardoso.
Alckmin retomou o debate em torno da saúde pública e disse que a saúde vai mal, embora não faltem recursos nos cofres da União. Ele alega que o governo não aplica na área, como deveria fazer, os recursos da CPMF. Frisou, ainda, que é usuário da rede pública de saúde: “Fui operado três vezes. Nas três vezes, na Santa Casa de Pindamonhangaba. Quando preciso, me consulto no Incor, que é um hospital público aqui de São Paulo e uma referência em serviços de saúde”. O tucano prometeu aumentar os investimentos no setor e priorizar o atendimento às mulheres. "Acho que a saúde vai mal e pode melhorar muito. E não é por falta de dinheiro. Vou trabalhar na questão da saúde da mulher. Está aumentado o câncer de mama e falta mamógrafo", afirmou o tucano.
Lula replicou dizendo que o adversário não reconhece os avanços do atual governo, mas que a população nunca recebeu atendimento como agora. "Eu não posso esperar nunca que meu adversário reconheça alguma coisa. Obviamente ela precisa melhorar, mas a verdade é que nunca esteve como agora", disse.
O presidente, numa referência ao prefeito do Rio, César Maia (PFL), complementou: "Se a saúde do Rio não está tão boa, é porque a pessoa que está lá te apoiando não aceitou nem as ambulâncias que mandamos para eles. Não queria que os hospitais tivessem uma ajuda de R$ 330 milhões para melhorar os serviços de emergência".
Terceiro bloco
No terceiro bloco do debate, Lula tentou capitalizar a ligeireza com que Alckmin atravessou o tema da privatização no bloco anterior: “As perguntas sobre privatização ele não gosta de responder, nem vou perguntar mais”, ironizou. Em seguida, perguntou qual era a posição de Alckmin em relação ao programa Luz para Todos. Ele afirmou que, enquanto estava à frente do governo de São Paulo, Alckmin foi o único governador que deixou de cumprir o acordo de colaboração e repasse de verbas para o programa (que prevê contrapartida correspondente a 10% dos custos).
Segundo Lula, só “agora que o Cláudio Lembo botou no orçamento do ano que vem” a contrapartida estadual para o programa. Ele ressaltou que o governo federal implementou o programa em São Paulo mesmo sem a participação financeira do estado. “Sonho entrar para a história do país como o presidente que apagou o último candeeiro”, disse
Alckmin respondeu: "O Luz para Todos é o Luz no Campo que o presidente Fernando Henrique fez e que nós vamos manter e ampliar. Mas já que tocamos na questão do campo quero perguntar ao Lula: todos os governos que passaram fizeram irrigação. O governo FHC foi o que mais fez, o Itamar, o Collor. O governo Lula foi o único que não fez".
Lula rebateu: "Eu acho que Alckmin se faz de desentendido quando pergunto. O Luz no Campo não tem nada a ver com o Luz para Todos. O Luz no Campo era um programa tão pequeno, e era pago. O Luz para Todos é gratuito. É um programa que tira a população rural do século XVIII. Foi um acordo entre o governo federal e os governadores e em São Paulo não tivemos o apoio do então governador Alckmin". Na tréplica, Alckmin insistiu na questão da irrigação.
O presidente Lula reforçou que o país nunca aliou crescimento econômico com desenvolvimento social. Ele ainda afirmou que a sociedade sabe quando um candidato tem só discurso ou faz algo de fato.
"O Brasil já teve um momento em que a economia cresceu 10% ao ano e a questão social era zero nesse país. Nós estamos provando que é possível a gente crescer com distribuição de renda. Aliás, os indicadores mostram a diminuição da pobreza no país. É por isso que existe um fenômeno na sociedade de perceber quando alguém faz só discursos ou faz algo. A economia brasileira só pode crescer se tiver base concreta pra crescer. Nós criamos a base para ela crescer de 5% a mais de 5% ao ano", afirmou Lula.
Alckmin contra-argumentou: "Não é possível acharmos que o Brasil está condenado a crescer 2%. Alguma coisa está errada. O mundo cresce 5%. Sobre a saúde, acho que o Lula não sabe o que é um hospital público para achar que está tudo uma maravilha. E não adianta querer transmitir responsabilidade para o prefeito do Rio, César Maia, porque a maior parte da rede hospitalar do Rio de Janeiro é do governo federal".
Alckmin também questionou Lula sobre o dinheiro destinado ao pagamento de dívidas. "Eu queria perguntar para Lula: R$ 329 bilhões foram gastos com juros, R$ 138 bilhões a mais que no governo Fernando Henrique em igual período, mesmo sem nenhuma crise no cenário mundial e o lucro dos bancos foi o triplo do verificado no período FHC…" A pergunta foi interrompida pela mediadora, a jornalista Ana Paula Padrão, porque o candidato tucano ultrapassou seu tempo.
"Imagina quanto vocês pagavam quando o juro era 30, 40% e não 13%. É bom o banco ganhar dinheiro porque senão ele quebra e aí sim arrasa com a economia do país. Mas não são só os bancos. Noventa por cento dos acordos salariais dos últimos três anos tiveram aumento acima da inflação. Pela primeira vez em dez anos, o lucro das empresas foi maior que o dos bancos. As pessoas estão comendo mais, vivendo mais. Eu estou convencido de que estamos fazendo a política correta. Os juros estão caindo. As pessoas hoje podem comprar um computador com R$ 50 a prestação. Ainda falta muito para ser feito, mas ninguém fez o que a gente fez. Eu próprio acho que podemos fazer muito mais e vamos fazer. Eu acredito que o povo hoje está mais feliz do que estava antes, no governo de vocês", argumentou Lula.
Em resposta, Alckmin falou olhando para a câmera: "Temos aqui duas visões totalmente opostas. Lula acha que está tudo bem. Lula não tem dinheiro para dar aumento aos aposentados, mas aumentou o gasto com juros".
O presidente provocou o seu adversário: "Mas em campanha política vale tudo mesmo. O candidato falar em aumento para aposentados? Nós demos 5% de aumento para os aposentados e demos um aumento maior para o salário mínimo e o PFL e o PSDB, para fazer demagogia, quiseram estender aos aposentados, uma coisa que eles sabem que a Previdência não tinha condições de pagar".
Lula perguntou a Alckmin como ele “vai fazer todos os cortes de gastos que ele diz que vai fazer para agradar um pequeno setor da elite”. O tucano citou dados que apontam redução dos investimentos sociais per capita no governo Lula: "O governo do Lula reduziu na saúde 7,49%, comparado com o governo anterior. Na educação e cultura, foi 5,4%, no saneamento e habitação, 44%. Reduziu tudo. Nós temos uma diferença. Ele vai manter os 34 ministérios, os 40 mil petistas em cargos de comissão, a companheirada. Eu vou fechar as torneiras do desperdício, vou fazer mais com o dinheiro do povo para o Brasil crescer", replicou Alckmin.
Lula lembrou que o tucano, embora tenha dito que vai cortar ministérios, prometeu criar o Ministério da Segurança Pública. E disse que, mais importante do que cortar gastos, é fazer o país crescer.
"Eu acho que o Brasil não tem como cortar como vocês dizem, falar é fácil, tem que ver na hora de fazer. É preciso ter crescimento econômico, que somente nós vamos fazer. Porque no período em que vocês governaram, oito anos, não aumentou a renda como aumento conosco, não cresceu como cresceu conosco e não baixou tanto a inflação como baixou conosco", disse Lula.
O presidente afirmou que o orçamento de quatro secretarias com status de ministério (entre elas, Igualdade Racial, Políticas para a Mulher e Pesca) representa relativamente pouco no conjunto dos gastos federais (em torno de R$ 100 milhões), “mas o retorno para a população é inestimável”. Alckmin provocou e disse que o Aerolula, comprado por R$ 150 milhões, custou mais que quatro ministérios.
"O governante precisa dar exemplos. Eu aprendi a fazer com gastos de melhor qualidade, gastar naquilo que interessa para o povo. É possível cobrar menos imposto e o Brasil crescer mais. O Brasil tá perdendo tempo", emendou o tucano.
Alckmin acusou Lula de não regulamentar a emenda constitucional número 29 para poder reduzir os investimentos na saúde. “Embora tenha a CPMF, no ano passado deixou de investir na saúde R$ 1,6 bilhão", acusou o tucano. Lula provocou o adversário: "O Alckmin faz parte de um tipo de gente que acha que investir em comida para o povo não é investir em saúde".
O presidente citou dados comparativos entre o governo atual e a gestão passada e destacou o trabalho feito na área de assistência odontológica pública. "No Brasil, tratamento odontológico não existia para pobre, pobre arrancava dente. Agora, nós estamos permitindo que o pobre tenha ortodontia para que possa ter todos os dentes na boca", afirmou.
Alckmin insistiu na tecla do corte de gastos no setor. "Retirar R$ 1,6 bilhão da saúde não está correto. Governar é escolher. Não dá para tirar recurso da saúde, quando a população precisa do SUS. A primeira tarefa que vou fazer é retomar o investimento na saúde", disse Alckmin.
O presidente rebateu e disse que o atual governo faz o que deveria ter sido feito "20 ou 30 anos atrás". "Você que é médico sabe. Uma pessoa gastava R$ 130 para comprar insulina. Agora gasta R$ 13. Está economizando um terço do salário mínimo para poder, quem sabe, no fim do ano tirar umas férias", finalizou Lula, referindo-se à Farmácia Popular.
Quarto bloco
No quarto e último bloco, os candidatos puderam fazer, rapidamente, suas considerações finais. Lula foi o primeiro a falar:
"De um lado nós temos um candidato e um partido que depois de governar oito anos o Brasil e um estado 12 anos não fez grandes mudanças. Do outro, temos um governo que em quatro anos promoveu a redução da miséria e da desigualdade, a criação de oportunidades de trabalho e a formalização de empregos. Com a redução da fome, 8,4 milhões saíram da miséria. O salário mínimo não comprava uma cesta básica, agora dá pra comprar 1,6 cesta básica. Ajudamos a reduzir o analfabetismo. Ampliamos o Bolsa Família para 11 milhões de famílias. Estamos aumentando a comercialização de biodiesel. Os números fluem na boca de muitas pessoas e cada um diz o que quer, mas o passado condena alguns e absolve outros. Tenho o sonho de transformar o Brasil no país mais democrático do mundo em termos de acesso a universidades. Porque sei a diferença que ter emprego, ter renda, faz na vida de uma pessoa. Estamos criando oportunidades para melhorar a capacitação dos profissionais e aumentar o número de trabalhadores com carteira assinada".
Para concluir, Lula pediu aos brasileiros que votassem na educação. "No emprego, na educação e na saúde" e que dessem a ele a oportunidade de governar por mais quatro anos.
Geraldo Alckmin, por sua vez, disse: "O PT teve a sua oportunidade, quatro anos, e o que nós vimos? Sob o ponto de vista ético, um descalabro. Sob o ponto de vista da gestão, a saúde piorando, a educação piorando, a segurança pública piorando. Sob o ponto de vista do crescimento, o Brasil perdeu a oportunidade de crescer e cresceu 2 % ao ano. Não vou permitir nas empresas estatais a privatização para o partido, como o PT fez. Governo é para servir o povo. Vamos trabalhar pelo emprego, este é o grande programa brasileiro. Governo só gera emprego de forma complementar, quem gera empregos são os empresários. Tem que baixar juros, incentivar o país a crescer. Quero dar oportunidade para que os jovens tenham oportunidade de independência. Vamos trabalhar para pôr o Brasil na linha certa. O Brasil está com a receita errada, nós vamos trabalhar para que tenha a receita certa. O Brasil pode mais e merece mais".
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