Lúcio Lambranho e Edson Sardinha
Se na Câmara a disputa entre Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) expôs as feridas da base governista, no Senado, a expressiva vantagem de 23 votos do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), reeleito ontem (1º) presidente da Casa, mostrou que a oposição também tem lá suas chagas a serem curadas.
No início da manhã, os coordenadores da campanha de Agripino faziam as contas: o líder do PFL venceria a disputa com dois ou três votos de diferença, ajudado por correligionários do senador alagoano. Na pior das hipóteses, teria o apoio de pelo menos 35 colegas.
A ilusão foi desfeita no início da tarde, quando o placar denunciou: Renan, 51; Agripino, 28. Se os votos do PMDB não vieram, nem os pefelistas sabem – já que a votação foi secreta –, mas uma coisa ficou clara: nem todos os 30 senadores do PFL e do PSDB votaram no potiguar.
Diante da ampla margem de Renan, os oposicionistas evitaram falar em uma “caça às bruxas”. “Perdemos a eleição, mas ficou demonstrado que há oposição ao governo no Senado”, disse o líder do recém-criado bloco formado por PFL (17) e PSDB (13), senador Demóstenes Torres (PFL-GO).
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Casa oposicionista
Que há oposição no Senado, o governo Lula nunca teve dúvida. Afinal, foi ali que colecionou, no primeiro mandato, o maior número de derrotas em Plenário e é ali que não tem maioria para aprovar propostas que requerem maior número de votos. “Nas votações seguramente teremos mais seguidores do que tivemos na disputa pela presidência”, avisa Demóstenes.
Além de unificar o seu discurso, a oposição também acusa o Palácio do Planalto de agir, na última hora, para tirar do líder do PFL votos dados como certos por ele. Entre esses eleitores, estariam dois peemedebistas indecisos: o independente Pedro Simon (RS) e o oposicionista Mão Santa (PI).
Planalto em ação
Segundo a oposição, as suspeitas de que as ofertas do Palácio do Planalto teriam influenciado o processo eleitoral do Legislativo aumentaram com a presença de dois ministros de Lula na solenidade de posse dos novos senadores.
Os ministros das Cidades, Márcio Fortes, e das Minas e Energia, Silas Rondeau, ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), acompanharam de perto a solenidade. "É claro que houve acerto de última hora com esses ministros. Só não sei se houve a interferência direta do presidente. Mas que o Silas rondou, rondou", brincou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).
Três integrantes da oposição ouvidos pelo Congresso em Foco relataram ter informações de que o próprio presidente Lula telefonou para senadores da base aliada que sinalizavam votar em Agripino.
Voto secreto
Entre os assediados, estaria a senadora Patrícia Gomes (PSB-CE), que teria garantido a Agripino, além do próprio voto, o do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) em troca do apoio do PFL à candidatura de Aldo Rebelo na Câmara, mesmo se a disputa, em eventual segundo turno, fosse com o tucano Gustavo Fruet (PR).
Procurada pela reportagem, Patrícia evitou polemizar sobre o assunto. “Deixa a turma sapatear para saber o meu voto”, disse ela. “Não mudei minha opinião, e o voto é secreto”, completou a senadora, que ontem foi indicada para presidir a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), sua principal área de atuação parlamentar.
O líder do PSB, o recém-empossado senador Renato Casagrande (ES), negou o acordo e garantiu que o voto da senadora já era de Renan. "Eles dizem isso, mas também dizem que foram traídos por eles mesmos como os nomes de ACM, Efraim Moraes e outros”, provocou Casagrande.
Agripino garante que não passa por sua cabeça que isso tenha ocorrido, principalmente no que diz respeito ao seu correligionário baiano. "Me conte outra piada, pois o senador ACM foi o primeiro a dar a largada para a recondução do meu nome como líder do PFL", descartou.
"A busca por votos na base do governo não foi como queríamos. Mas não há nenhuma relação entre a derrota na eleição e o tamanho e unidade do bloco, que agora é até maior", acrescentou Efraim.
Governo, sempre
Não se deve desprezar, no entanto, o bom trânsito de Renan entre praticamente todos os partidos políticos. Líder do governo Collor, ministro do governo Fernando Henrique e vice-líder de Lula no Senado, o senador alagoano transformou em rotina as reuniões do Colégio de Líderes.
Nesses encontros, as lideranças dos partidos discutem com a presidência da Casa a pauta e o ritmo das votações. As reuniões são consideradas importantes pela oposição, que enxerga nelas uma oportunidade para amenizar a influência do Executivo nas deliberações.
Além da habilidade política, Renan coleciona outra marca. Dessa, no entanto, ele procura sempre se descolar: a de fisiológico. No próprio PMDB há senadores, como Pedro Simon, que já declararam publicamente que o apego do colega aos sucessivos governos está atrelado à indicação de seus apadrinhados para cargos estratégicos da administração federal.
Por essa perspectiva, o apoio a Lula não seria tão incondicional assim. Qualquer negativa do Planalto poderia causar instabilidade ao governo numa Casa com perfil oposicionista. Nesse caso, segundo analistas, a derrota ontem da oposição não teria sido tão grande assim.
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