Uma nova bandeira é a esperança do Partido da Frente Liberal (PFL) de tornar a legenda mais popular e conseguir reverter o declínio do número de parlamentares no Congresso Nacional. Com a mudança do nome para Partido Democrata, programada para valer a partir de 28 de março, os pefelistas tentam se distanciar da trajetória da direita liberal para se apresentarem como representantes do centro democrático.
Apesar da mudança de direção na linha ideológica, o líder da legenda na Câmara, deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), disse em entrevista ao Congresso em Foco que o partido não altera sua posição política. “A oposição somos nós. Oposição clara, forte, que não teme enfrentamento, que busca o confronto com o governo e que questiona, fiscaliza e denuncia, quem está fazendo é o PFL e vai continuar fazendo.”
Aos 52 anos, Onyx cumpre seu segundo mandato na Casa. No início deste ano conseguiu se destacar ao derrotar ACM Neto (PFL-BA) na disputa pela liderança do partido. Empresário e veterinário, o parlamentar promete fazer uma crítica contundente e ferrenha ao PT e classifica a oposição como principal projeto da sua atuação à frente da bancada.
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“Porque nós reafirmamos com segurança absoluta: faz muito mal para o Brasil ter um governo incompetente e corrupto como esse que o presidente Lula comanda”, ataca o líder.
Simultaneamente ao combate dos ideais governistas, Onyx diz que articulará a aprovação das reformas política e tributária. Para ele, é necessário estabelecer pontos importantes para melhorar a estrutura do sistema político do país como a fidelidade partidária, o financiamento público de campanhas, a lista fechada e a cláusula de barreira. Além disso, defende a redução gradual da carga tributária para 25% do Produto Interno Bruto (PIB) com a atenção nos impostos não declaratórios.
“Isso vai fazer o Brasil ser o maior e mais forte país da América Latina. O dia em que nós estivermos no poder, nós vamos fazer isso e o Brasil vai crescer como nunca cresceu antes.” Na lista de críticas do líder também se encontra o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), um pacote do governo que não deverá contar com o apoio dos pefelistas. “Não tem nenhum país que esteja crescendo de maneira consistente no mundo que use os conceitos que o PAC tem.”
Enfraquecido?
Mesmo com uma bancada menor em 2007 do que na legislatura anterior – com a perda de 19 cadeiras na Câmara e uma no Senado, além de emplacar apenas um candidato a governador no Distrito Federal –, o líder do PFL acredita que o partido tenha saído fortalecido das últimas eleições. Para o deputado, a legenda perdeu em locais onde dominava como no Nordeste, mas se fortaleceu em nichos mais exigentes no Sul e Sudeste, onde pretende fixar as raízes.
“Porque nós perdemos um espaço pelo pêndulo político e por fadiga de poder. Então nós reduzimos lá no nordeste. Em contrapartida, nós nos consolidamos com período de oposição forte, vigorosa, fiscalizadora no Sudeste, Centro-Oeste e no Sul do Brasil. […] Ou seja, o PFL ganhou um eleitor muito mais difícil de ser conquistado que é o eleitor de classe média, muito mais exigente, mas por outro lado com capacidade de fidelização”, justifica.
Confira a entrevista:
O PFL começa a legislatura mudando de nome. O que isso significa substancialmente na postura do partido?
O PFL entende que há um espaço no universo político partidário brasileiro para um partido de perfil centro-reformista. E o Partido Democrata vem com essa missão para construir um novo caminho e uma nova proposta para o país. Além disso, nós identificamos um crescimento na América Latina do populismo de perfil autoritário que tem conseguido crescer de maneira assustadora. Lamentavelmente os primeiros sinais de que isso começa a contaminar o Brasil estão aparecendo em representantes e agentes do governo Lula. Então, poder abrir o espaço para que os democratas se unam na luta pela consolidação da democracia no Brasil e para enfrentar o avanço do populismo autoritário na América Latina é quase um dever patriótico. O PFL tem a compreensão de que pode avançar nessa direção. Há condição de reunir sobre a bandeira dos democratas um conjunto de forças políticas que de outra forma não estariam conosco e que são necessárias para poder a gente vencer essa ditadura do pensamento único do projeto tucano que se continuou no governo Lula e que aponta para uma fórmula que é a fórmula do mal para o Brasil. Imposto alto e juros alto não nos permitem crescer.
O PFL tem a tradição de fazer parte da direita, a mudança de nome também muda a orientação do partido?
Bom, quem anda para a direita ou para a esquerda não anda para frente. O PFL é um partido de inspiração liberal e no momento em que ele se reposiciona no centro-democrático, indo para a Internacional Democrática de Centro ao lado de partidos como o Partido Popular de Espanha, como a CDU alemã, como o partido conservador Britânico, o PFL entra em outra linha programática dando consolidação à refundação que foi feita há dois anos. O PFL tem um programa, tem uma carta de princípios exatamente para poder oferecer um caminho seguro para as pessoas que queiram ingressar num partido de centro e tem como desafio construir uma proposta para o país que possa fazer o Brasil crescer nos níveis das necessidades que ele tem.
O senhor assume a liderança do partido na Câmara com quais propósitos?
Primeiro com o desafio de unir o partido. Segundo com a necessidade de enfrentar o desafio de construir essa proposta democrática que nós estamos oferecendo ao Brasil e um caminho para que o Brasil possa se equiparar aos países emergentes e que estão crescendo no mundo todo. A fórmula que o governo Lula usa é uma fórmula que tem impedido o crescimento do Brasil. O crescimento não é mero número estatístico. O crescimento brasileiro, na verdade, é uma necessidade para a vida das pessoas. As pessoas não têm emprego, os jovens não conseguem oportunidade no mercado de trabalho, as pessoas com mais de quarenta anos têm imensas dificuldades para conseguir uma colocação. Esse é o ponto. O PFL quer, ao se transformar em Partido Democrata, mudar isso.
Do campo ideológico para o prático. O que o senhor traz para a Câmara? O que é preciso aprovar e fazer?
No campo prático eu trago uma experiência de um parlamentar forjado na oposição. Nunca dependi de governo para me eleger, quer deputado estadual, quer deputado federal. Eu faço um combate muito duro à doutrina que o PT defende. Enfrentei isso na minha cidade de Porto Alegre durante muitos anos e enfrentei isso no governo do estado, na primeira experiência petista no Rio Grande do Sul com Olívio Dutra. Estou no meu segundo mandato aqui exatamente com esta ação de poder coordenar uma bancada que é a bancada que faz a oposição de maneira mais forte ao governo e que confronta as teses petistas. Porque nós reafirmamos com segurança absoluta, faz muito mal para o Brasil ter um governo incompetente e corrupto como esse que o presidente Lula comanda.
Como fica essa oposição, uma vez que o PFL apoiou um candidato da base governista à presidência da Câmara?
A administração da Câmara não tem nada a ver com o perfil ideológico dos partidos.
Esses apoios e as formações de blocos entre partidos de ideologias diferentes mudaram alguma coisa nas relações entre governo e oposição?
Até o presente momento não. A oposição somos nós. Oposição clara, forte, que não teme enfrentamento, que busca o confronto com o governo e que questiona, fiscaliza e denuncia, quem está fazendo é o PFL e vai continuar fazendo.
O PFL saiu das urnas, no ano passado, um pouco mais fraco. Isso muda a cabeça do partido?
Eu discordo da avaliação, respeitosamente. O PFL, na verdade, saiu fortalecido da última eleição. Porque nós perdemos um espaço pelo pêndulo político e por fadiga de poder. Há muitos anos estamos no poder em Pernambuco, na Bahia. Então nós reduzimos lá no nordeste. Em contrapartida, nós nos consolidamos com período de oposição forte, vigorosa, fiscalizadora no Sudeste, Centro-Oeste e no Sul do Brasil. A bancada do Paraná triplicou de tamanho, a bancada de Santa Catarina dobrou, a do Rio Grande do Sul dobrou, a de Minas também triplicou, a de São Paulo se consolidou, a do Rio também. Ou seja, o PFL ganhou um eleitor muito mais difícil de ser conquistado que é o eleitor de classe média, muito mais exigente, mas por outro lado com capacidade de fidelização. O PFL, com um período de oposição, ele ganhou um eleitor que não tinha e isso seguramente é um eleitor que vai saber manter.
E as reformas?
Reforma tributária e a reforma política. Mas reforma tributária a favor do cidadão e reforma política para tentar acabar com a corrupção no universo político brasileiro.
Quais pontos principais o PFL defende em cada uma delas?
Na reforma política, a fidelidade partidária, financiamento público, lista fechada, a perda do mandato com a troca de partido e a cláusula de barreira. São os pontos fundamentais para nós. E na reforma tributária, um projeto inovador que privilegie os impostos não declaratórios, que se use dos novos impostos que nós podemos ter e, principalmente, fazer um trabalho para que a carga tributária vá decrescendo ano a ano até que num delta de tempo, em torno de dez anos, o Brasil volte a ter uma carga não superior a 25% do PIB. Isso vai fazer o Brasil ser o maior e mais forte país da América Latina. O dia em que nós estivermos no poder, nós vamos fazer isso e o Brasil vai crescer como nunca cresceu antes.
Se depender do PFL, o PAC sai?
O PAC é um arremedo de projetos. O PAC é tão ruim que o presidente do Banco Central não foi no lançamento. É ruim conceitualmente. O PAC como conceito estava adequado para um governo entre 1950 e 1960, lá no século passado. Não tem nenhum país que esteja crescendo de maneira consistente no mundo que use os conceitos que o PAC tem.
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