Na esteira dos mais recentes desdobramentos da crise do gás na Bolívia, representantes de 29 países divulgaram hoje (15) um manifesto em defesa do presidente boliviano Evo Morales – que, intimidado por uma onda de revolta popular, com o respaldo político de governadores de oposição, estaria sofrendo “agressões fascistas contra a democracia”. Subscrevem o documento intelectuais, profissionais liberais, ativistas e lideranças de movimentos sociais e políticos de países como Brasil, Austrália, Canadá, México, Holanda, Cuba e Itália.
Desde a eclosão da crise, na semana passada, cerca de 30 pessoas morreram em decorrência dos conflitos entre opositores e correligionários do governo boliviano. Os signatários do manifesto denunciam as ameaças que o governo boliviano teria sofrido nos últimos dias, em um quadro de desordem social que atentaria contra o Estado boliviano. Veículos de imprensa internacionais noticiam que grupos oposicionistas armados teriam invadido e destruído escritórios do governo federal, e saqueado feiras e mercados populares indígenas – origem de Evo Morales.
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Gás
Os conflitos culminaram com um incidente em um dos principais gasodutos da Bolívia, na semana passada, que reduziu pela metade o fornecimento de gás ao Brasil. Segundo o consórcio Transierra, responsável pelo gasoduto e do qual a Petrobras faz parte, duas válvulas de segurança foram manipuladas, o que obstruiu totalmente o envio de gás.
Em outro suspeito episódio, uma explosão na área do gasoduto reduziu em cerca de 3 milhões de metros cúbicos diários o fornecimento de gás ao Brasil. Apenas com esse corte, o prejuízo para os cofres bolivianos foi orçado em US$ 8 milhões por dia. Especula-se que o incidente tenha sido provocado por insurgentes locais. A situação levou à convocação de entrevista coletiva pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para quem a crise não traria danos ao Brasil.
Assinaturas
O manifesto é aberto a adesões por meio da internet. Até o momento, o México é o recordista de assinaturas, com 136 registros entre cidadãos e entidades de classe. Por outro lado, países como Cuba, Suíça, Martinica, Honduras, Haiti, Austrália, Noruega, Portugal têm apenas uma adesão, todas individuais.
Os subscritores brasileiros são: Rede Social de Justica e Direitos Humanos, Confederación Sindical de Trabajadores/as de las Americas, Marcha Mundial de las Mujeres, REMTE, Marcelo Carcanholo, Bernardo Mançano Fernandes, Héctor Alimonda, Natalia Paulino, Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae, Laboratório de Estudios de Movimentos Sociales e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense, Carlos Walter Porto-Gonçalves, Emir Sader, Patricia Chaves, Jubileu Sul Brasil, Roberto Efrem Filho, Estrella Bohadana, MST, João Pedro Stedile, Theotonio Dos Santos, Roberto Leher e Plinio de Arruda Sampaio Jr. (Fábio Góis)
Confira a íntegra do manifesto divulgado hoje:
“A Bolívia enfrenta o maior atentado contra a democracia e a constitucionalidade. Repudiamos os atos de vandalismo organizados pela oligarquia e grupos fascistas de Santa Cruz, que tentam provocar uma guerra civil ou um golpe de Estado. Defendemos punição aos responsáveis e esperamos que a oposição mantenha seus pleitos por meios legais e democráticos. Não nos manteremos impassíveis frente a estes acontecimentos. Estamos comprometidos com a democracia, a justiça e a autodeterminação dos povos e as defenderemos em qualquer parte do mundo. Hoje é na Bolívia. E Estamos com a Bolívia.”
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