O laudo de exame grafotécnico da Polícia Federal e um depoimento em um dos inquéritos que investigam o chamado “golpe da creche” apontam para o envolvimento de dois ex-deputados nas fraudes. Além de Sandro Mabel (PMDB-GO), parlamentar com “indícios” de participação no esquema, segundo o procurador Bruno Calabrich, o Ministério Público observou sinais também de envolvimento dos ex-parlamentares Raymundo Veloso (PMDB-BA) e Irapuan Teixeira (PP-SP).
21 pessoas foram indiciadas pelo golpe da creche
O chamado “golpe da creche” é uma modalidade de contratação irregular de funcionários fantasmas na Câmara dos Deputados. A quadrilha fazia contato com famílias humildes da periferia de Brasília oferecendo a possibilidade de auxílios de ordem social. Para tanto, exigia das famílias que assinassem documentos que, na verdade, eram papeis de contratação dessas pessoas como servidoras em gabinete de deputados. Feita a contratação, a quadrilha ficava com os salários dos funcionários fantasmas e repassava a eles apenas benefícios sociais que são concedidos, como auxílio-creche, vale-transporte e auxílio-alimentação.
Entenda o golpe da creche
Tudo sobre o golpe da creche
De acordo com análise do laudo do Instituto Nacional de Criminalística (INC), “diversas assinaturas” de Raymundo Veloso em atos de contratação e alteração salarial de servidores fantasmas “foram confirmadas”. Em entrevista ao Congresso em Foco em 2009, o então deputado admitiu ter contratado duas servidoras naquele ano: Rosângela Maria da Rocha e Alda Silva Bandeira. Entretanto, afirmou estar surpreso ao descobrir que elas estavam lotadas em seu gabinete desde 2007. Veloso disse que as contratara por sugestão de sua servidora Abigail Pereira da Silva.
Abigail é mulher de um ex-motorista de Sandro Mabel, Francisco José Feijão de Araújo, o Franzé, apontado pela Polícia da Câmara como o chefe da quadrilha. Procurados pelo site, o casal não foi localizado nos telefones que possuíam.
Raymundo Veloso, que voltou a morar em Ilhéus (BA), não foi localizado pelo Congresso em Foco, que o procurou por meio de seu partido, o PMDB. As funcionárias Rosângela Rocha e Alda Bandeira também não.
Ficha financeira
O Ministério Público Federal aponta a participação de Irapuan Teixeira com base no depoimento de Wellington Luiz da Silva. Ele afirmou nunca ter trabalhado na Câmara, apesar de estar lotado no gabinete do então deputado, conforme ficha financeira em poder dos investigadores.
Wellington foi indiciado pela Polícia da Câmara por estelionato. Ele não foi localizado pela reportagem.
Para Calabrich, tanto Mabel, quanto os dois ex-parlamentares estão envolvidos no golpe da creche. “Há indícios da participação dolosa do deputado federal Sandro Mabel, bem como dos ex-deputados federais Raymundo Veloso Silva e Irapuan Teixeira, em nomeações de secretários parlamentares ‘fantasmas’ em seus gabinetes na Câmara dos Deputados”, disse o procurador da República.
Por haver suposto envolvimento de Mabel, autoridade com foro privilegiado, Calabrich pediu à Justiça que envie o inquérito para o Supremo Tribunal Federal (STF). Lá, outro inquérito semelhante já apura a eventual participação de Mabel nas fraudes.
A reportagem enviou mensagens eletrônicas a Irapuan Teixeira, mas não obteve retorno.
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