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Às vésperas de depor no Conselho de Ética da Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP) começa a sentir os efeitos da fritura dentro do seu próprio partido à medida que novas denúncias comprometem o outrora mais poderoso ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A revelação de que um assessor de Dirceu, Roberto Marques, foi autorizado a sacar R$ 50 mil da conta da SMP&B Comunicação, de Marcos Valério Fernandes, em junho de 2004, deve antecipar a convocação do petista na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. “A oitiva do José Dirceu é inevitável. Está ficando impossível não acontecer”, confirmou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O requerimento de convocação pode ser votado já amanhã, quando Dirceu depõe na Câmara. Investigado pelo Conselho de Ética, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), pivô da maior crise política do governo Lula, promete comparecer à reunião para confrontar o ex-ministro. Leia também A situação de Dirceu pode se complicar ainda mais hoje durante depoimento da diretora-financeira da SMP&B, Simone Reis Vasconcelos, à Polícia Federal. Uma das maiores sacadoras das contas das empresas – ela teria retirado R$ 6 milhões em dinheiro vivo –, Simone antecipou ao jornal Folha de S. Paulo que vai confirmar a autorização do saque para o assessor do ex-ministro. Simone, que será ouvida pela CPI dos Correios quarta-feira, seria responsável pela distribuição dos recursos a parlamentares e emissários dos políticos beneficiados pelo suposto esquema. É grande a expectativa pelo depoimento dela. Segundo o relator da CPI, a diretora-financeira poderá ser processada por sonegação fiscal se não revelar o destino do dinheiro. “Se ela não identificar quem levou o dinheiro, passa a ser a responsável e vai ter de pagar milhões de Imposto de Renda. É uma questão tributária”, afirma Serraglio. Ameaças de todos os lados De acordo com o jornal Estado de Minas, Valério teria dito a amigos que possui documentos que comprovam que Dirceu sabia dos empréstimos feitos por ele para o PT, que chegam a R$ 40 milhões, e que teria intermediado encontros entre o então ministro e empresários. O publicitário já pediu ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, nova audiência para fazer mais revelações que comprometeriam o ex-chefe da Casa Civil. O nome de Marques, amigo de Dirceu há 20 anos, aparece em um documento encaminhado pelo Banco Rural à CPI dos Correios. Ele nega ter recebido a autorização e ser assessor do deputado. A própria SMP&B admite que a quantia pode ter sido sacada por outra pessoa: Luiz C. Mazano. À Procuradoria-Geral da República, Valério havia citado Manzano como uma das pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para sacar o dinheiro em favor do partido. O advogado de Marques nega que seu cliente tenha recebido a autorização para o saque. Apesar de confirmar que o número da carteira de identidade que aparece no material em poder da CPI é o mesmo do assessor de Dirceu, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), um dos sub-relatores da comissão, levanta suspeitas sob a autenticidade do documento, que, segundo ele, poderia ter sido “plantado”. "A assinatura de autorização não é a mesma que consta de outros documentos semelhantes", pondera o petista. Dirceu divulgou uma nota em que contesta reportagem da revista Veja, que, além de fazer a ligação entre o nome de seu assessor e Valério, diz que o ex-ministro estaria mandando "recados ameaçadores" ao governo (leia a nota). Risco de cassação Enquanto isso, cresce a pressão no partido para que Dirceu se explique. O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, deu prazo até quinta-feira, quando a executiva nacional do partido se reúne, para que todos os petistas envolvidos no escândalo dêem suas explicações. Do contrário, eles poderão ser levados à comissão de ética partidária sob o risco de serem expulsos do partido. Petistas que integram a CPI dos Correios já defendem abertamente a convocação do ex-ministro da Casa Civil. “Todas as pessoas envolvidas têm que depor. O Zé Dirceu terá que comparecer o mais rapidamente possível”, diz o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), vice-líder do partido na Câmara. Um partido, duas bancadas Ainda não se sabe qual será o comportamento dos deputados do PT no depoimento de Dirceu à Comissão de Ética, já que a bancada está cada vez mais dividida. Nesse fim de semana, 21 deputados da esquerda do PT decidiram que vão formalizar sua separação da bancada do partido na Câmara. Contrariados com as orientações da liderança partidária, eles pretendem formar um grupo a ser batizado de “PT Autêntico” ou “PT Livre”, numa mostra do aprofundamento do racha no partido. |
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