Ricardo Ramos |
Após três meses de trabalho, a CPI dos Correios está definitivamente sem foco de investigação. Ao chegar à metade do caminho, a comissão de inquérito responsável por apurar as irregularidades na estatal perdeu para a CPI do Mensalão o filé mignon das investigações, que é a apuração dos parlamentares que receberam recursos do esquema comandado pelo empresário Marcos Valério Fernandes. Padece ainda com a demora na chegada de novos documentos para avançar nas revelações sobre as denúncias de corrupção na empresa. As denúncias de caixa dois de campanha que envolveram grandes partidos, como o PT, o PSDB e o PFL, também brecaram o ímpeto dos parlamentares. “Não é que tenha uma mão agindo deliberadamente sobre a CPI”, afirma a deputada Juíza Denise Frossard (PPS-RJ). “É que os requerimentos importantes não andam por pressão desses partidos e aí ocorre um emparedamento das investigações”, afirma a deputada, que, na semana passada, causou alvoroço entre os membros da comissão, ao denunciar a articulação de um acordo entre tucanos, pefelistas e petistas para minimizar os resultados das investigações. Leia também A paralisia dos trabalhos ocorre porque, entre outros fatores, os partidos envolvidos não deixam seus adversários diretos apurarem as irregularidades, sob pena de saírem prejudicados politicamente. Um exemplo disso foi a disposição petista para convocar o presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG). Há 15 dias, assim que o nome dele apareceu como beneficiário do esquema de Valério, em 1998, o PT correu para convocá-lo. Azeredo, contudo, foi à CPI dos Correios espontaneamente, e deu explicações sobre o financiamento de sua campanha a governo de Minas. E cobrou, em resposta, a imediata ida dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken à comissão. Gushiken foi convocado ontem e Dirceu, na semana passada. Mas os dois – um vai enfrentar processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara, o outro foi rebaixado duas vezes no governo – não vão depor tão cedo, se depender dos petistas. “Não posso deixar a oposição trucidar Dirceu”, afirmou um governista da CPI dos Correios. O chamado emparedamento, que dificulta o curso normal das investigações, terá em breve novos capítulos. A briga deve se repetir com a definição dos depoimentos de Cláudio Mourão, coordenador da campanha de Azeredo em 1998, e dos petistas Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicação do partido, e Marcus Flora, ex-assessor de Gushiken – cujas convocações foram aprovadas ontem. Conflito de competências Durante reunião administrativa da comissão realizada nessa terça-feira, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) cobrou dos integrantes da comissão que cheguem logo a um consenso sobre as atribuições da CPI daqui pra frente. Ele sugeriu que a CPI se restrinja à analise dos contratos e à movimentação financeira das empresas de Valério. “Esse é o ponto em que há a possibilidade de ser da investigação”, considera. Para o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a comissão precisa realizar um último “ato” em relação à participação direta dos deputados que receberam recursos não declarados das empresas de Valério. A CPI já listou 18 parlamentares que se valeram do esquema do empresário. Segundo ele, a comissão estuda citar, por procuração, ou convocar para depor esses parlamentares. “Não dá para a CPI lavar as mãos”, avalia Serraglio. “Sem dúvida, a CPI perdeu o foco das investigações”, admite o deputado Maurício Rands (PT-PE). Na avaliação dele, a comissão precisa dividir com a CPI do Mensalão as investigações dos parlamentares que se beneficiavam do esquema de Valério. |
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