O ministro das Relações Institucionais, José Mucio Monteiro, disse agora há pouco, em entrevista coletiva concedida no Palácio do Planalto, que é preciso haver “matéria” para a abertura da “CPI do cartão do corporativo”, a fim de que seja evitado o uso político de uma eventual comissão. “Não sei se cabe isso [a instalação da CPI]. É um motivo específico, e o problema da CPI é o teatro. É válido desde que seja uma coisa para esclarecer”, argumentou o ministro.
Para Mucio, embora desconfortável para o governo, a permanência da ministra Matilde Ribeiro (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) será confirmada caso sejam apresentadas explicações convincentes.
A ministra Matilde é a recordista de gastos com o cartão de crédito corporativo do governo federal, com mais de R$ 171 mil debitados em sua conta em 2007. Entre as despesas consta uma compra de R$ 461 em loja isenta de taxas de importação. De acordo com o Portal da Transparência da Presidência da República, o cartão deve ser usado apenas para gastos de necessidade funcional, como cobrir viagens oficiais ou comprar material de escritório.
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Ao comentar os rumores sobre uma suposta demissão de Matilde pelo presidente Lula, Mucio foi diplomático. “Espero que esse problema se esclareça. Estamos todos aguardando. Mas só quem pode explicar as razões [para os gastos excessivos] é a própria Matilde”, declarou. “[A situação da ministra] é desconfortável talvez enquanto não se explicam os gastos.”
Em relação à demora dos esclarecimentos por parte da ministra, Mucio desconversou. “Talvez ela não tenha achado os documentos, algo assim”, disse, tentando minimizar o problema. "Talvez as regras [de uso do cartão] não estivessem claras. Talvez agora fiquem." Ontem (30), Matilde se reuniu com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para prestar esclarecimentos sobre o caso, mas o encontro aconteceu a portas fechadas.
Há mais de duas semanas denunciado em matéria da Folha de S.Paulo, o uso do cartão pela ministra Matilde ainda não tem explicação pública. Já o ministro Altemir Gregolin (Secretaria da Aqüicultura e Pesca) antecipou-se e, em entrevista coletiva concedida ontem (30), disse não temer investigação da Controladoria-Geral da União sobre os gastos com seu cartão corporativo (R$ 21,6 mil em 2007).
Bem-vindo
A respeito da possível filiação do senador Lobão Filho (sem partido, AM) ao PTB, partido de Mucio, poucas palavras. Mas o ministro manteve a linha diplomática ao comentar o assunto. "[Lobão Filho] será bem-vindo, sempre bem-vindo", sintetizou, dizendo que tem conversado diariamente com o pai do novo senador (Edinho Lobão, como é conhecido, tomou posse ontem), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
"Tem sido agradável trabalhar com ele, porque facilita trabalhar com aquele que tenha entendimento político sobre uma solução que, muitas vezes, alguns imaginam que é só técnica, mas passa também pelo campo político", elogiou.
Em relação à disputa por cargos no setor energético, Mucio não quis entrar em detalhes. "Estão por ser definidos, estamos a caminho de uma solução final." No entanto, o ministro adiantou um nome defendido pelo PMDB: Jorge Luiz Zelada, para Diretor Internacional da Petrobras. "Caminha para isto [a nomeação de Zelada]", revelou. PT e PMDB, partido de Edison Lobão, disputam ainda a chefia de três companhias-chave do setor: Eletrobrás, Eletronorte e Eletrosul, tidas como essenciais pelo PMDB.
Mucio disse ainda que, durante todo o mês de janeiro, o governo priorizou o tema da distribuição de cargos no setor, mas o tempo foi insuficiente. Segundo o ministro, a questão deve estar resolvida antes mesmo da reabertura das atividades legislativas, marcada para o dia 6 de fevereiro (Quarta-Feira de Cinzas). (Fábio Góis)
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