Fábio Góis
O senador Mário Couto (PSDB-PA) subiu há pouco à tribuna do plenário para manifestar sua “angústia” e “decepção” contra a retirada de assinaturas que garantiriam a instalação da CPI do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), que ele tenta há quase dois anos. Ontem (24), quatro senadores retiraram suas respectivas assinaturas antes da meia-noite, quando encerrava o prazo para subtração ou inclusão de adesões – o que inviabilizou a criação do colegiado.
Mário Couto tenta instalar a CPI desde meados de 2007 (leia abaixo), quando o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, tomou posse no órgão. Pagot é tido como o braço-direito do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), adversário político do PSDB naquele estado.
A reportagem apurou que João Tenório (PSDB-AL), Valter Pereira (PMDB-MS), Romeu Tuma (PTB-SP) e Eliseu Resende (DEM-MG) são os senadores que retiraram a assinatura do requerimento de instalação da CPI. Assim, antes com 30 nomes, a instalação da CPI ficou inviabilizada com cinco nomes a menos (são necessárias 27 adesões, segundo o regimento). O quinto nome seria de Jefferson Péres, morto em maio do ano passado, e caberia ao requerente obter um substituto.
“Vieram retirar ontem, na calada da noite, as suas assinaturas. São senadores que eu respeitava. Eles me causaram uma decepção profunda. É um sentimento muito profundo de angústia”, esbravejou Mário Couto, sem citar nomes e recorrendo ao hábito de dar socos na mesa da tribuna.
Ele reclamava do comportamento dos ex-signatários que, depois de contar com quase dois anos para excluir suas assinaturas, só o fizeram a poucos instantes do fim do prazo. “Não dormi, tive insônia. Foi uma angústia muito grande, uma decepção muito grande.”
Em plenário no momento do discurso de Mário Couto, Tenório foi o único a responder ao colega. Depois de elogiar a iniciativa do tucano, o senador alagoano disse que o momento de crise por que passa o Senado não seria adequado à instalação da CPI.
“Nós temos experiências muito recentes do que aconteceu com algumas CPIs, que transtornaram demais a vida do Senado”, disse Tenório, fazendo menção à reação da Casa à enxurrada de denúncias. “Então, eu acho que neste momento em que o Senado volta os olhos para dentro de si, (…) eu acho que haveria necessidade de um tempo para que nós nos dedicássemos exclusivamente a esse tema.”
Couto x Pagot
No depoimento de ontem (24), Mário Couto reclamou sobre a falta de investigações diante das supostas irregularidades denunciadas e atribuídas ao Dnit. “No meu estado, pontes assassinas. No meu estado, a Transamazônica. No meu estado, a Santarém-Cuiabá. No meu estado, a BR 316. Enfim, no meu estado, as pontes assassinas da 222. E o que vejo? O Tribunal de Contas da União, sistematicamente, anulando licitações e mostrando irregularidades no Dnit”, bradou, referindo-se às rodovias sob a supervisão do órgão.
Por seu turno, Luiz Antônio Pagot, sobre quem pesam algumas denúncias de participação em irregularidades de licitações, tem dito que não teme a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar sua gestão. Para Pagot, a comissão é “constitucional” e pode fazer um trabalho positivo junto ao Dnit, mas Mário Couto solicitou a instalação da CPI movido por “fins políticos”.
Na tribuna, Mário Couto seguia com a manifestação de descontentamento, afirmando que os senadores que retiraram as assinaturas demonstraram desdém pelo interesse coletivo. “Senadores amigos, que pareciam a mim estarem comprometidos com a sociedade. Que decepção!”, exclamou, para depois receber em aparte o apoio do colega Papaléo Paes (PSDB-AP). “Quero manifestar aqui o nosso ao senador Mário Couto, e dizer que a CPI do Dnit terá muito mais assinaturas do que teve agora, nesse requerimento anterior”, discursou Papaléo.
“Sinto a sensação [sic], que nada temos mais a fazer nesta Casa, que esta Casa perdeu a sua finalidade, que a imprensa tem razão de dizer que este Senado está no fundo do poço. O senador Jarbas Vasconcelos [PMDB-PE] tem razão de dizer que esta Casa é uma Casa desmoralizada”, desabafou o parlamentar paraense, referindo-se à bombástica entrevista de Jarbas na edição de 14 de fevereiro da revista Veja, na qual ele diz que “boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção”.
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