O presidente Lula decidiu participar diretamente das indicações dos principais postos (presidência e relatoria) da CPI da Petrobras. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (8) pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, após reunião da coordenação política do governo. De acordo com Múcio, Lula pretende “assuntar” sobre a composição desses cargos.
Segundo o ministro, Lula vai se reunir com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com os líderes na Casa do PT, Aloizio Mercadante (SP), e do PMDB, Renan Calheiros (AL). Mas a iniciativa, garante, não visa impor uma conduta aos aliados. “Não há necessidade de panos quentes, está-se discutindo apenas quem vai participar”, explicou Múcio.
Além de pretender solucionar o impasse entre petistas e peemedebistas nas indicações para a CPI, a intervenção direta teria como objetivo minimizar os atritos entre os dois maiores partidos da base aliada no Congresso. Além do potencial de dano que uma investigação pode causar à maior empresa brasileira, Lula tem outra preocupação: às vésperas das eleições majoritárias de 2010, o presidente tenta evitar que uma rusga prolongada estrague os planos de uma aliança nacional entre PT e PMDB, partido com a maior representatividade política atualmente.
O núcleo das divergências é a resistência de Renan Calheiros em aceitar indicações de nomes próximos, como o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) – que teria se lançado ao posto de relator. Além disso, Renan e Mercadante têm se indisposto em relação às negociações para a composição do colegiado.
Em uma reunião na semana passada entre membros da base governista, Renan e Jucá chegaram a travar uma discussão sobre como ficaria a disposição dos postos de comando da CPI. Depois da líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), ter dito que a presidência poderia ficar com o petista João Pedro (AM), Jucá declarou que, sendo assim, poderia exercer a relatoria.
Diante da antecipação do colega, Renan perguntou quem na verdade indicaria os nomes, em auto-referência. Jucá quis saber se o senador alagoano o estava vetando, no que ficou sem resposta. Interlocutores que participaram da reunião afirmaram que o clima foi de absoluto constrangimento.
Adiamento
A CPI deveria ter sido instalada na semana passada, mas, além de os partidos da base não terem chegado a um consenso, outro elemento adiou o início dos trabalhos. A sessão plenária que instalará a CPI está prevista para a próxima quarta-feira (10).
Em 28 de maio, o presidente da CPI das ONGs, Heráclito Fortes (DEM-PI), indicou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), para o posto, após Inácio ter sido incluído entre os titulares da CPI da Petrobras (leia). O regimento do Senado impede esse acúmulo.
A providência de Heráclito – uma resposta ao amplo domínio governista na CPI da Petrobras – irritou os senadores da base, como demonstrou o esvaziamento da sessão que teria instalado a CPI, nesta terça-feira (2). Sem quorum, a Mesa não pode proceder o rito de instalação do colegiado.
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O caráter político que a CPI tem ganhado antes mesmo de entrar em funcionamento também tem preocupado o Planalto. Apesar de descartar uma eventual “pirotecnia” por parte da oposição, José Múcio destacou que a CPI terá um forte caráter político. “A apenas um ano das eleições, não vamos conseguir fugir de um tom político. Isso é do próprio sentimento da Casa, seja lá de que lado for.”
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