Criada com o apoio do Palácio do Planalto como contraofensiva às gravações de Joesley Batista, a CPI mista da JBS já reúne cerca de 100 requerimentos de informações, convocações e convites de autoridades e investigados. Deputados e senadores pretendem aprovar, já na reunião desta terça-feira (12), a convocação dos empresários Joesley e Wesley Batista, do diretor de Relações Institucionais da J&F, controladora da JBS, Ricardo Saud, do ex-procurador Marcello Miller e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A votação pode ocorrer na reunião marcada para a escolha do relator, cujo nome será indicado pelo PMDB. Um dos líderes da tropa de choque do ex-deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do presidente Michel Temer, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) é o mais cotado para a função. Por causa da ligação com os dois peemedebistas, Marun enfrenta forte resistência da oposição, que alega falta de independência dele para conduzir as investigações. Outros dois nomes são vistos como alternativa, Delegado Francischini (Solidariedade-PR) e Hugo Leal (PSB-RJ).
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Os pedidos de convocação apresentados por governistas e oposicionistas miram, entre outros, os ex-presidentes Lula e Dilma (PT), os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci, o operador financeiro Lúcio Funaro, o ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o ex-presidente do BNDES, Ricardo Coutinho, além do próprio Cunha. O atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que trabalhou para o grupo, também é alvo da oposição.
Do BNDES às delações
A comissão foi desengavetada na semana passada, três meses após ter sido criada. Inicialmente, a CPI focaria nos empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à J&F nos governos Lula e Dilma. Com a reviravolta nas delações, a comissão deve ser utilizada pelos governistas para atacar o acordo de colaboração premiada fechado com o grupo empresarial.
Autor do pedido de criação da CPI e presidente eleito da CPI, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) foi recebido pelo presidente Michel Temer no último fim de semana, no Palácio do Jaburu. Além do presidente, também se reuniram com Ataídes os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), além de Meirelles. O senador nega conflito de interesses e diz que não tratou das investigações com a cúpula do governo, mas da construção de uma ponte ligando o Tocantins ao Pará.
A CPI mista é composta de 17 vagas titulares para senadores e 17 cadeiras titulares para deputados titulares. No entanto, nem todos os partidos fizeram as indicações. O colegiado terá prazo de 120 dias (prorrogáveis por mais dois meses) para apresentar um relatório final.
O colegiado também investigará supostas irregularidades envolvendo as empresas JBS e J&F em operações realizadas com o BNDES e BNDES-PAR ocorridas entre os anos de 2007 a 2016, que geraram prejuízos ao interesse público.
Crime e castigo
Presos temporariamente desde domingo (10), Joesley e Saud foram transferidos de São Paulo para Brasília nessa segunda-feira. Os executivos foram recebidas com um protesto de um pequeno grupo de manifestantes que soltaram fogos de artifício e seguravam bandeiras do Brasil cartazes com dizeres “Somos todos Sérgio Moro” e “Bem-vindo, Joesley, Papuda te espera de braços abertos”.
Joesley e Saud foram presos por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, a pedido de Janot, após a divulgação de um áudio de quatro horas de diálogo entre ambos que, de acordo com a PGR, aponta que eles omitiram informações durante o acordo de delação premiada. Em razão disso, os acordos de delação premiada dos dois e de leniência da J&F foram suspensos. Marcello Miller, cujo pedido de prisão foi negado por Fachin, é acusado de fazer jogo duplo, atuando na força-tarefa da Operação Lava Jato e advogando para o grupo. Ontem a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas residências de Joesley, Saud e Miller, atrás de documentos e gravações não entregues.
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