O que seria um encontro de um grupo de deputados para apresentar à imprensa propostas contra a corrupção, inclusive apoiando a criação de uma CPI para investigar a máfia das obras públicas e os desdobramentos da Operação Navalha, terminou em muita confusão no Salão Verde da Câmara, hoje (24) à tarde. “A vaidade é um dos principais problemas desta Casa”, soprou um experiente parlamentar.
A chamada Terceira Via, grupo de deputados que apoiou a candidatura de Gustavo Fruet (PSDB-PR) à presidência da Câmara no início do ano, se reuniu no Salão Verde para apresentar algumas propostas, entre elas a instalação da CPI. O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) clamou a necessidade de criar a comissão. Outros parlamentares, como Luiza Erundina (PSB-SP), Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE), discorreriam sobre outros assuntos, como a reforma política.
Mas, logo no ínicio o encontro, o deputado Sílvio Costa (PMN-PE), primeiro parlamentar a assinar a lista de criação de uma CPI Mista (composta por deputados e senadores), se indignou com o que considerou “uma palhaçada”. “Não pode alguns parlamentares se posarem como donos da ética, como se os outros não fossem. Ninguém é mais ético do que eu nesta Casa”, bradou, bastante exaltado.
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Ele declarou que, se a CPI for criada, ficaria a impressão de que ela só foi possível por causa da mobilização de alguns deputados “oportunistas”. Além de retirar o nome da lista, ele prometeu fazer campanha contra a CPI. “Vou fazer campanha para não ter CPI e meu argumento é forte”, disse, reforçando que vai conversar com outros congressistas da base aliada.
Indagado se não há um briga pelos holofotes, Chico Alencar negou: “Acho errado você dizer que há briga. Há um grupo querendo reforçar a criação da CPI. Foi o Sílvio [Costa] que atrapalhou”. Outro integrante da chamada Terceira Via, Ivan Valente (Psol-SP) também comentou o episódio. “É uma atitude lamentável, mas ela pode ter efeito contrário. Pode despertar na sociedade um desejo maior pela investigação”, afirmou. Luciana Genro (Psol-RS), aos berros, dizia que Sílvio Costa se vendeu.
O Congresso em Foco ouviu de duas fontes que o deputado pernambucano foi orientado pela liderança do governo a retirar o nome da lista de requerimento da CPI, o que ele nega . Na terça-feira, após ser o primeiro a assinar o pedido de criação, Costa foi se explicar ao líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE).
Listas
Os deputados Júlio Delgado (PSB-MG) e Augusto Carvalho (PPS-DF), que começaram a colher na terça-feira (22) assinaturas para instalar uma CPI Mista, e que também se encontravam no Salão Verde, ficaram visivelmente chateados com a confusão. Segundo Delgado, “Sílvio Costa encontrou o argumento que precisava para retirar o nome”. Ele também lamentou o episódio, dizendo ser um ato que “depõe contra o Parlamento”.
A lista organizada por eles contava, até as 16h, com a assinatura de 153 deputados e 29 senadores. No Senado, o número mínimo de adesões para a criação da CPI (27) já havia sido superado. Na Câmara, para se chegar ao mínimo faltavam ainda 18 – são necessárias 171. Os parlamentares esperam completar as assinaturas na próxima semana.
Há, no entanto, uma segunda lista de criação de CPI circulando na Câmara. Esta pede a criação de uma comissão parlamentar de inquérito apenas na Câmara e é iniciativa do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). E alguns que assinam uma, se recusam a fazer o mesmo com a outra. Aconteceu com o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), que assinou a lista de Sampaio e se recusou a subscrever a organizada por Carvalho e Delgado. (Lucas Ferraz)
Leia outras notícias publicadas hoje (24)
Navalha: PF liga assessor de ACM Neto a acusados
Escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal e publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo ligam Bruno Reis, assessor parlamentar do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), a dois acusados de colaborar com o esquema de fraude em obras e licitações públicas investigado pela Operação Navalha.
Nas conversas, ele negocia com o ex-superintendente da PF Joel de Almeida Lima e com o lobista Francisco Catelino. Segundo a PF, os dois forneciam informações privilegiadas ao dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, acusado de comandar o esquema.
Não há indícios de envolvimento direto de ACM Neto, mas, ao menos uma vez, Francisco Catelino tentou contato com o parlamentar. Em 9 de setembro, Catelino conversa com um homem identificado como Luaminho: "Não se esqueça de falar com Neto, aquele negócio de Camaçari", diz Luaminho. "Já liguei para Bruno e disse que preciso conversar com ACM Neto", responde Catelino.
O "negócio de Camaçari" é, segundo a PF, a liberação de R$ 11,5 milhões para obras da Gautama no município baiano.
Bruno Reis aparece nas gravações em conversas relativas ao depósito de um cheque de R$ 10 mil. Catelino tenta depositar o que seria o pagamento por um serviço prestado ao assessor.
Na primeira conversa, gravada em 13 de setembro de 2005, Catelino pede a Joel Lima que ligue para uma pessoa indentificada como Michel para falar do cheque. Michel, segundo disse ACM Neto a O Estado, poderia ser um irmão de Bruno.
Lima orienta o lobista: "A notícia importante nós já demos. A solução para ele foi dada. Eu vou ligar (…), vou botar pressão". Na mesma conversa, Catelino diz que "são dez mil, cinco de cada", e Lima responde: "É, eu preciso para complementar meus trabalhos".
Em 22 de setembro, Bruno Reis atende um telefonema de Catelino no escritório de ACM Neto em Salvador. Eles acertam um encontro para tratar do cheque. No dia 26, Catelino conta a Joel Lima que falou com Reis. Mais uma vez é orientado a dizer que o serviço foi prestado. "Diz para ele: ‘o Joel pegou o cheque em minha mão e vai meter o cheque, porque a noticia foi dada, o serviço foi feito’".
A O Estado, o deputado disse não acreditar que Bruno Reis tenha cometido atos ilícitos. O Congresso em Foco tentou contato com ACM Neto e com o assessor. ACM está em viagem a Nova York e não foi localizado no telefone celular. Bruno Reis e o assessor de imprensa do deputado em Salvador, Alexandre Reis, não estavam no escritório e a secretária disse que só poderia informar outro número de contato dos dois "com autorização dos próprios".
O deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), primo de ACM Neto, é acusado pela PF de receber R$ 20 mil da Gautama. Questionado sobre o envolvimento do sobrinho com a máfia, o senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) declarou, no início da semana, que "corruptor e corrupto de R$ 20 mil são insignificantes". (Carol Ferrare)
Ricardo Barros é novo vice-líder do governo na Câmara
O presidente Lula indicou hoje (24) o deputado Ricardo Barros (PP-PR) para ser um dos vice-líderes do governo na Câmara. No primeiro mandato de Lula, Barros liderava a bancada contra a adesão do PP ao governo.
Ricardo Barros foi líder do governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso em 2002 e vice-líder na Câmara entre 1999 e 2002. Nas últimas eleições, apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência da República.
Ricardo Barros se juntará a Henrique Fontana (PT-RS), Beto Albuquerque (PSB-RS), Wilson Santiago (PMDB-PB) e Milton Monti (PP-BA) na vice-liderança. Os atuais líderes do governo são a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), no Senado, e José Múcio Monteiro (PTB-PE), na Câmara. (Carol Ferrare)
Chinaglia: "Paridade de gênero é irrealismo político"
O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse hoje, em seminário sobre reforma política que acontece na Casa, que a instituição da paridade de gênero no Congresso pode resvalar para o irrealismo político. "Não podemos criar uma representação artificial. Cada partido deve decidir sobre que peso dar à representação feminina", disse.
Apontada como alternativa para aumentar a representatividade feminina na política, a paridade é vista com bons olhos pela bancada feminina. Em 2006, foram eleitas 45 deputadas e quatro senadoras, número equivalente a menos de 10% do total de parlamentares.
Chinaglia disse que é favorável às ações afirmativas de gênero, mas avaliou que paridade pode provocar distorções. "Por que não criarmos a paridade étnica também?", questionou, irônico.
A Lei Eleitoral (9.504/97) obriga os partidos a reservar 30% das vagas de candidatos para mulheres. A regra foi aprovada como resultado de esforços da bancada feminina e segue recomendações da Conferência Mundial da Mulher, realizada em Beijing, China, em 1995. (Carol Ferrare)
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