A CPI do Apagão Aéreo abre, na manhã de hoje (1º), as caixas-pretas do Airbus A320 da TAM, que protagonizou o maior desastre da aviação brasileira na história, com cerca de cerca de 200 pessoas mortas. Antes mesmo do início da sessão secreta em conjunto com oficiais da Aeronáutica, prevista para as 9h, o presidente em exercício da comissão, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), promete levar a imprensa e todos os colegas para verificar a abertura do envelope lacrado contendo o CD e o relatório dos áudios e dos dados técnicos contidos nos artefatos. O material está, desde ontem, trancado em um cofre da Câmara.
De acordo com o presidente em exercício da comissão, os dados técnicos, que incluem informações matemáticas e gráficas sobre os comandos operados na aeronave, não devem dizer muita coisa para os parlamentares inicialmente. São informações que demandam interpretação com outros fatos. Mas Cunha acredita que os últimos 30 minutos de áudio na cabine do avião, contidos na outra caixa preta, sim, serão relevantes. “O aúdio é o ponto. Hoje será o dia ‘D’.”
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Junto com os parlamentares, estarão o coordenador da investigação do acidente na Aeronáutica, o coronel Fernando Camargo, e o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho. Eles auxiliarão a CPI a decifrar eventuais códigos entre os pilotos.
Segundo um parlamentar da comissão, mesmo que os dados técnicos estejam interpretados, será necessário esperar mais. “Eles têm de estar sincronizados com as informações de voz dos pilotos, o que pode nos fazer chegar a outras conclusões”, explicou.
Ontem, os parlamentares fizeram pressão para divulgar o conteúdo das caixas-pretas logo, para evitar especulações e vazamentos parciais. Por isso, se houver consenso na CPI, depois da sessão secreta, haverá uma entrevista coletiva para explicar tudo. Mesmo assim, ontem alguns deputados anunciaram ter recebido informações de oficiais da Aeronáutica sobre partes do conteúdo dos artefatos.
Por conta da sessão secreta, o depoimento do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, foi cancelado.
Jogo de empurra
Os depoimentos de representantes da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) e da TAM mostraram um jogo de empurra para se chegar às causas do acidente. Enquanto o presidente da estatal que cuida dos aeroportos, José Carlos Pereira, assegurou que a pista de Congonhas não teve influência no acidente, o piloto da TAM José Eduardo Batalha Brosco insistiu que a empresa estava correta em não usar os reversos em dias de chuva, mesmo contrariando determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), feita em abril de 2006.
Para Pereira, se a pista pesou no acidente, essa influência foi “ínfima”. À tarde, ele chegou a dizer que, mesmo com 500 metros ou cinco quilômetros a mais, a tragédia não seria evitada. À noite, Brosco disse temer a aderência do asfalto em dias chuvosos. Um dia antes do acidente, ele pousou o mesmo Airbus A320 prefixo PP-MBK em Congonhas, quando chegou a derrapar. “Senti os freios. Eu atribuiria [a derrapagem], sim, à pista. Estava escorregadia”, disse Brosco.
Segundo o relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), é normal que cada testemunha tente dar sua versão. “Mas, se a gente for levar ao pé da letra, parece que nem acidente ocorreu”, ironizou o petista.
A observação da manutenção da TAM
O acidente da TAM aconteceu por volta das 19h do dia 17 de julho. Naquele mesmo dia, quando a aeronave ainda estava em Campo Grande (MS), um relatório de manutenção da TAM informava que o sistema de flaps ou de trem de pouso (que inclui os freios) foi testado e, “posteriormente o item se normalizou”. Em seguida, diz: “Observar nas próximas etapas”. Os outros itens testados pelos mecânicos não continham observações, mas apenas a sigla “NIL” – nenhuma informação a relatar.
Questionado por Maia, Brosco interpretou os códigos do relatório. Mas afirmou que poderia ser um teste normal “de manutenção preventivo ou periódico”. Ao contrário, o relator da CPI entendeu ser necessário aprofundar o caso. Maia disse ser possível convocar os mecânicos para saber melhor que tipo de problema foi encontrado no trem de pouso e nos flaps do avião que viria a explodir horas mais tarde ao tentar pousar em São Paulo. (Eduardo Militão)
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