Há um evidente mal estar na sociedade brasileira. As pessoas estão saudavelmente indignadas, enojadas, saturadas com os níveis inaceitáveis de corrupção que alcançamos. Confesso meu abatimento quando outro dia, no avião, saindo de Brasília, abri o jornal e vi a manchete: “92% dos brasileiros acham que todo político é corrupto”. Para quem vai completar 40 anos de militância e 34 anos desde o primeiro mandato, não é fácil encarar isso.
Em recente conversa com minha filha, admiti que não era esse o país que queríamos entregar às novas gerações. Um sentimento generoso e uma utopia ousada moveram minha geração. Fizemos muito. A redemocratização, o combate à miséria, a estabilização da economia. Mas o Brasil de 2015 não é portador do futuro que imaginávamos. Há uma distância abissal entre cidadãos e o mundo político. Os laços não são de confiança, admiração, esperança. Ao contrário. Mas nesse mesmo dia, na praça onde caminhava, quatro senhoras colhiam assinaturas em apoio a um projeto de lei de iniciativa popular propondo dez medidas contra a corrupção.
A corrupção não nasceu hoje e nem é monopólio brasileiro. Faz parte da condição humana. Onde há burocracia, interesses, balcões de intermediação, poder, dinheiro, potencialmente está a semente da corrupção. A política carrega, como nenhuma outra atividade humana, as contradições de nossa existência, virtudes e pecados. O problema é que no Brasil a corrupção se tornou endêmica, sistêmica, institucionalizada, operada em escala amazônica e industrial. Não há uma cultura republicana vitoriosa. Não houve aprendizado.
A crise de Collor, a CPI do Orçamento, o mensalão não produziram a mudança cultural esperada. Não é à toa que figuras como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro se transformam em verdadeiros heróis nacionais. Essa é a vitória, as instituições estão se fortalecendo. Mas ainda impera certo ceticismo, como se no fim tudo fosse acabar em pizza.
A corrupção corrói o tecido social, mina a confiança, rouba eficiência da economia, dilacera a política, dinamita a solidariedade entre as pessoas. A cruzada anticorrupção deve envolver a todos. Não há corruptos sem corruptores. O empresariado tem papel central estancando o estabelecimento de relações promíscuas.
Maquiavel nunca disse que “os fins justificam os meios” e identificava na corrupção generalizada a razão da queda da República Romana. Jamais a diferença, em Weber, entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade autorizou o assalto aos cofres públicos em nome de uma “boa causa”. Nem os assaltos e sequestros da extrema esquerda nos anos 60, nem a mentira para ganhar eleições, nem a corrupção para comprar apoio parlamentar.
Mas o pior é que hoje, no Brasil, trata-se de corrupção pura e simples, enriquecimento ilícito, roubo do dinheiro de todos. Verdadeiros corruptos sem causa. Os tempos são cinzentos, mas juntos, não tenho dúvidas, reconstruiremos a esperança e a decência.
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