O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), empregou até o mês passado um dos acusados de integrar a máfia dos sanguessugas, esquema que desviava recursos do Orçamento da União por meio da venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras do país, de acordo com a Folha de S. Paulo.
Preso na operação da Polícia Federal que, no início de maio, trouxe à tona o escândalo, Ricardo Augusto França da Silva foi denunciado pelo Ministério Público Federal à Justiça. O nome dele e os dados de sua conta bancária (Banco do Brasil, agência 3596-3, conta 266093-8) estão registrados na contabilidade da Planam, empresa que comandou a fraude ao vender os veículos superfaturados às prefeituras.
A Polícia Federal e a Procuradoria dizem acreditar que as contas bancárias registradas pela empresa eram o desaguadouro da propina que seria paga a parlamentares, responsáveis em incluir no Orçamento verbas para que as prefeituras adquirissem as ambulâncias, segundo os repórteres Ranier Bragon e Andréa Michael. O que se sabia até então é o que a PF e o Ministério Público haviam divulgado: que o acusado era funcionário do gabinete do ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC), que também foi preso.
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Documentação obtida pela Folha mostra, entretanto, que França da Silva estava, na verdade, empregado desde abril de 2005 na segunda vice da Câmara, comandada pelo corregedor Ciro Nogueira. A sua exoneração, por ordem de Nogueira, saiu em 16 de maio, 11 dias depois de o escândalo vir à tona.
Até o início de 2005, França da Silva trabalhou na segunda secretaria da Casa, que era ocupada na ocasião pelo ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), um dos principais aliados de Nogueira.
Responsável por investigar o envolvimento de deputados, o corregedor nunca revelou publicamente que abrigara um suspeito de participação na fraude em um gabinete sob seu comando. Nogueira capitaneou uma investigação preliminar contra 64 deputados suspeitos de integrar a fraude, em maio, e arquivou de imediato 36 casos. Dias depois, foi um dos articuladores da decisão da Câmara e do Senado de suspenderem as investigações e remeterem toda a responsabilidade pela apuração para a Procuradoria Geral da República.
Procurado pela Folha na última sexta-feira, Ciro Nogueira disse que a segunda vice da Câmara é loteada politicamente por deputados do PP, seu partido, e que coube a Ronivon Santiago, então deputado federal, a indicação de França da Silva. O corregedor disse não saber quem é seu ex-assessor Ricardo Augusto França da Silva, apesar de tê-lo abrigado na segunda vice-presidência da Câmara por mais de um ano. “Nunca conheci, nem ouvi, não sei nem quem é”, afirmou o deputado, por telefone, à reportagem.
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