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Gilmar explicou que devia dinheiro a uma pessoa identificada como Valdeir Fernandes Cardoso – cerca de R$ 7 mil. Depois de dois anos, Valdeir o teria dito que, devido aos juros, o valor já chegava em R$ 20 mil. Gilmar contou que, para quitar as dívidas, Valdeir propôs que ele assinasse então documentos para a abertura de uma empresa com seus dados. “Fui pressionado a aceitar a abertura da empresa. Ele dizia: ‘Você quer pagar a dívida ou não?’ Ele chegou até a mostrar uma arma para mim. Na época, me senti coagido”, disse. Ele reiterou que não conhece Carlinhos Cachoeira e nenhum dos envolvidos no esquema. “Minha contribuição aqui vai até o Valdeir. Não conheço os outros”, disse.
Gilmar afirmou que foram abertas quatro empresas em seu nome no ramo de pneus, construções e transporte. O contador disse que sabia que estava fazendo alguma coisa errada, mas não tinha opção, pois estava sendo ameaçado. “Ele trazia a documentação e eu levava na junta comercial. Às vezes, eu demorava alguns dias para ir e ele me mandava mensagens dizendo: ‘Você vai lá ou vamos resolver de outra forma?'”. Ele disse aos parlamentares que não tem cópia da documentação, pois ela ficou toda com Valdeir.
Roseli é apontada pela Polícia Federal como sócia da empresa Alberto & Pantoja Construções e de outras cinco corporações que seriam usadas para lavar dinheiro do esquema de Cachoeira. Em depoimento à CPI, em 15 de agosto, ela disse não conhecer nenhum desses estabelecimentos. Roseli informou que, há cerca de um ano, deu uma procuração para o ex-marido abrir sua real empresa – uma loja na Feira dos Importados em Brasília. Gilmar contou que é contador autônomo, e a única empresa que abriu para si foi para poder emitir nota fiscal. Ele disse também que não fazia idéia da movimentação financeira estipulada para a Alberto & Pantoja que girava em torno de R$ 20 milhões.
PublicidadePara o relator da CPi, deputado Odair Cunha (PT-MG), os depoimentos de Gilmar e Roseli deixam muito claro que “há um esquema de criação de empresas fantasmas”. O parlamentar pediu à comissão que ajude nas investigações para encontrar Valdeir.
Ele foi chamado às pressas para depor depois que a sua ex-mulher entrou em contato com a CPI para dizer que estava sendo ameaçada. Em entrevista ao Congresso em Foco, ela informou que ontem (terça, 28) policiais civis foram pessoalmente até a casa de parentes dela para fazer as ameaças. “Eles foram muito agressivos. Pediram meu endereço ou onde eu estava escondida. Achei isso estranho porque a Polícia Civil já esteve na minha casa e a CPI tem o meu endereço. Enfim, não é segredo”, contou.
Gilmar disse que Valdeir lhe telefonou ontem a noite, mas desligou assim que iniciaram a conversa.
O vice-presidente da comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP) pediu que encarregados do Senado acompanhassem o contador até o Departamento da Polícia Federal no Ministério da Justiça para ele ser incluído no programa nacional de proteção à testemunha. Disse também que a CPI tomará as providências necessárias para localizar Valdeir. No fim da sessão, os parlamentares elogiaram sua disposição em comparecer à CPI sem advogado, ao que ele respondeu: “Se eu tivesse um milhão na conta, eu vinha com dois”.
Cavendish
Antes do seu depoimento, a CPI recebeu o empresário Fernando Cavendish, dono licenciado da Delta Construções. Munido de um habeas corpus, ele evocou o direito de permanecer em silêncio e não respondeu a nenhuma pergunta. Ele foi em seguida dispensado. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) foi o único que o questionou, sobre sua afirmação de que poderia comprar qualquer senador com R$ 6 milhões. “Só responderei esse assunto no momento oportuno”, foram suas únicas palavras.
O empresário era um dos mais aguardados pelos parlamentares do colegiado. Segundo o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), já é esperado que o empresário não colabore com as investigações. A Delta é uma das maiores construtoras do país e a maior detentora de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo. De acordo com investigações da Polícia Federal, a empresa desviou milhões para empresas de fachada ligadas a Carlinhos Cachoeira. Ele deixou o comando da empresa após a divulgação do envolvimento de Claudio Abreu, ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
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