Um dia após a absolvição dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), os integrantes do Conselho de Ética reconheceram que a decisão do Plenário desmoraliza as investigações do colegiado e abre caminho para os demais cassáveis se livrarem da perda do mandato. A avaliação predominante é de que os deputados simplesmente ignoraram os pareceres elaborados pelo Conselho e votaram com base na biografia dos acusados.
“Me sinto frustrado. A impressão que tenho é que a grande maioria não conhece o processo, vota pela história do parlamentar. Os deputados não analisam o relatório do Conselho de Ética. Os deputados conhecem a vida de cada um e estão votando de acordo com isso, e não com o trabalho do Conselho de Ética”, reclamou o presidente do colegiado, Ricardo Izar (PTB-SP).
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) disse que a decisão de ontem do Plenário mostra que saques no valerioduto e caixa dois não são mais passíveis de cassação. “O Plenário não lê nossos pareceres. Há um processo de desmoralização do Conselho de Ética. Fica claro pela votação de ontem que o saque do valerioduto não é mais passível de cassação. Caixa dois então nem se fala”, reclamou. Segundo Alencar, se a Câmara mantiver a coerência, vai absolver todos os cassáveis, porque os demais casos são semelhantes aos de Brant e Luizinho.
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"Estamos trabalhando em vão. Nosso trabalho cai no vazio", afirmou Orlando Fantazzini (Psol-SP), cujo relatório pedindo a cassação de Pedro Henry (PT-MT) foi derrubado pelo próprio Conselho há duas semanas. “O Plenário não tem moral mais pra cassar ninguém”, lamentou.
O descontentamento dos parlamentares com a decisão do Plenário gerou bate-boca até ente os membros do Conselho, que não aceitaram as explicações de Izar para o adiamento da votação do relatório do deputado Edmar Moreira (PFL-MG) sobre o processo de cassação de José Mentor (PT-SP), previsto para hoje. Muitos entenderam que Izar teria mudado de idéia por causa da ressaca provocada pela decisão dos deputados ontem à noite.
“Eu quero explicação para não votar isso hoje. Cheguei a ser chamado de dedo-duro e ouvi que o Conselho precisa de férias”, disse Delgado, ao afirmar que o Conselho não pode parar por causa das decisões do plenário.
Izar não gostou da crítica e elevou a voz para dizer que a votação estava prevista para o dia 16, e não para esta quinta-feira. O deputado José Carlos Araújo (PL-BA) também cobrou a votação imediata do relatório de Mentor. “Isso aqui não é Casa de curar ressaca nem muro das lamentações. O que devemos é fazer nosso trabalho e o plenário fazer o papel dele”, disse Araújo.
Antes da reunião, Delgado discutiu com o vice-líder do PT Fernando Ferro (PE), que defendeu em Plenário a absolvição de Brant. Por pouco os dois não partiram para a agressão física. A imagem do petista defendendo o pefelista foi apontada pelo mineiro como flagrante do acordão. “O discurso de Fernando Ferro em favor do Brant e o do Musa Demes em favor de Luizinho foi a senha em favor do acordão”, dizia Delgado a jornalistas sem saber que o vice-líder do PT passava pelo local e ouvia as declarações.
Ferro interrompeu o colega aos gritos: “O senhor me respeite, você que está querendo aparecer! Tenha um pouco de dignidade!”. O socialista retrucou: “Você é corporativista mesmo!". O petista insistiu: “Me respeite, você está na segunda lista do Marcos Valério, na lista do mensalão. O que você está falando contra mim é uma covardia”.
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