A primeira semana seguinte à cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) será decisiva para o futuro político da Câmara. Uma série de depoimentos com potencial explosivo e o processo de fritura do presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), deve elevar ainda mais a temperatura política em Brasília. Severino pode renunciar ao mandato até amanhã para evitar a perda dos direitos políticos por oito anos em uma eventual cassação. A se confirmar a queda do "rei do baixo clero", também esquentará a briga entre os partidos políticos pelo terceiro cargo mais importante do país. Em caso de renúncia do presidente da Câmara, o regimento interno prevê nova eleição no prazo de cinco sessões.
Entre os depoimentos mais aguardados está o do banqueiro Daniel Dantas às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Mensalão e dos Correios, marcado para quarta-feira (21). Por causa do volumoso repasse feito pelas empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, controladas por Dantas, às agências de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes, alguns membros das CPIs suspeitam da existência de tráfico de influência. O banqueiro é pivô de uma bilionária disputa com os fundos de pensão pelo controle da Brasil Telecom.
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Adiado duas vezes, o depoimento de João Cláudio Genu, chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), está previsto para esta terça-feira (20) na CPI do Mensalão. Conhecido como "o homem da mala", ele está sendo acusado de receber e distribuir o dinheiro do mensalão entre os deputados do PP. As declarações de Genu podem ser decisivas para selar o futuro de pelo menos três lideranças do partido: além do próprio Janene, o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), e o ex-líder na Câmara Pedro Henry (MT).
Ainda na terça-feira, a CPI dos Bingos, em conjunto com as outras duas CPIs da crise, ouve o doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona. Preso no interior do estado de São Paulo por evasão de divisas, entre outros crimes, Toninho acusou, sem apresentar provas, integrantes do governo e do PT de enviar dinheiro ilegalmente para o exterior, em depoimento a um grupo de parlamentares da CPI dos Correios. Ele promete fazer revelaçõe sobre o funcionamento de um suposto esquema de lavagem de dinheiro em troca do benefício da redução da pena, em caso de condenação.
A CPI dos Correios também deve ouvir, no mesmo dia, o advogado Rogério Toletino, sócio de Marcos Valério, e o presidente do Banco BMG, Ricardo Guimarães. Os parlamentares investigam a origem dos empréstimos feitos pela instituição às agências do empresário mineiro. Na semana passada, a CPI tomou depoimento de Kátia Rabelo, presidente do Banco Rural, outro grande financiador de Valério.
Mas a grande expectativa da semana gira em torno é do futuro do presidente da Câmara. Severino pode renunciar ao mandato, pedir licença por problemas de saúde ou até mesmo continuar no cargo. O Conselho de Ética deve instaurar nesta terça-feira o processo de cassação do deputado, pedido por cinco partidos da oposição. Ele é acusado de ter cobrado propina do empresário Sebastião Augusto Buani para prorrogar o contrato de concessão do restaurante do anexo 4 da Casa. Na semana passada, Buani entregou à Polícia Federal um cheque no valor de R$ 7,5 mil endossado a uma secretária do presidente da Câmara.
Após se contradizer em várias ocasiões, Severino adotou a versão de que o dinheiro foi destinado à campanha eleitoral de um de seus filhos. Candidato a uma vaga na Assembléia Legislativa de Pernambuco, Severino Cavalcanti Ferreira Junior (PP) morreu em um acidente de carro, em agosto de 2002, às vésperas da eleição. À Justiça Eleitoral, o comitê da campanha de Junior declarou ter arrecado apenas R$ 1 mil e gastado incríveis R$ 33.
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve analisar esta semana o pedido da Polícia Federal de quebra do sigilo bancário do presidente da Câmara. Enquanto a PF diz que há indícios veementes de que Severino recebeu propina, o advogado do deputado, José Eduardo Alckmin, corre atrás de provas que atestem a inocência de seu cliente. No último sábado, ele mostrou cópias de bilhetes aéreos, com destino a Brasília, emitidos em nome de Severino Junior. A intenção da defesa é comprovar que o filho do presidente da Câmara estava na capital federal no dia em que foi descontado o cheque de R$ 7,5 mil do empresário Sebastião Buani.
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