“Produzir e consumir informação não são mais pólos opostos da comunicação”. É a partir dessa premissa, proposta por Francilaine Munhoz Moraes e Zélia Leal Adghirni, que o Congresso em Foco virou tema de estudo acadêmico. As duas estudaram o site, na sua relação com os leitores, e esse estudo resultou no artigo “Jornalismo e Democracia: o papel do mediador”, publicado na edição de maio/agosto da revista Ecompos, da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação.
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Francilaine é doutoranda do programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), e Zélia, doutora em Ciências da Informação e da Comunicação pela Universidade de Grenoble 3 (na França), é a professora orientadora de Francilaine no curso de pós-graduação em Comunicação da UnB. Elas resolveram se debruçar sobre o trabalho do Congresso em Foco para observar um fenômeno, surgido com o aparecimento das novas mídias na internet, de nova relação entre os produtores de informação e os consumidores, leitores das notícias. Ao contrário da postura anterior, em que apenas um lado era ativo – o lado do jornalista e dos editores dos jornais, produtores e seletores das informações que seriam disseminadas – e o outro era apenas passivo – o leitor, que apenas consumia a informação que lhe era oferecida, sem possibilidade de interagir –, as novas mídias forçam a existência de uma via de mão dupla entre os meios de informação e seus leitores. E, se essa interação for estimulada, os resultados podem ser os mais interessantes. Foi o que fez o Congresso em Foco, e que chamou a atenção das duas acadêmicas. Um novo processo, em que o leitor ajuda na produção e no aprimoramento da informação que é produzida, e os jornalistas e os meios de comunicação em que atuam são mediadores dessa relação.
Sinal amarelo
Francilaine e Zélia observam que “antes mesmo que o Supremo Tribunal Federal decretasse o fim da obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício do jornalismo [uma decisão tomada pela Corte em 2010], diante da tela do computador, qualquer pessoa já podia exercer o direito à liberdade de expressão pelos sites e pelos blogs”. Para elas, porém, essa nova realidade não suprimiu a necessidade de o jornalista permanecer como mediador nessa relação entre as fontes de informação e os leitores. Em primeiro lugar, porque é o jornalista quem tem, pela própria natureza da sua função, o acesso aos locais onde as informações mais importantes são produzidas, como também é quem tem acesso às pessoas que produzem tais informações. Além disso, o imenso volume de informações produzidas exige também um filtro para o que merece ou não crédito. E é essa mediação que, na opinião das duas acadêmicas, cabe hoje aos jornalistas.
E o espaço ideal para essa mediação é a internet. “Sem contornos territoriais, a rede promove o encontro, na igualdade horizontal, entre jornalistas, cidadãos e eleitos, estimulando a discussão dos temas da atualidade no espaço público”, consideram Francilaine e Zélia. Para as duas, o Congresso em Foco foi autor de uma rica experiência dessa possibilidade de interação e mediação das informações nas eleições de 2010. Na ocasião, o site criou a seção “Sinal amarelo”, que se destinava a disseminar informações sobre os políticos para ajudar os leitores/eleitores na escolha de seus candidatos.
Conheça aqui a seção “Sinal amarelo”
Tratava-se de um serviço dentro do compromisso adotado pelo site para a sua tarefa: fazer “jornalismo para mudar”, ou seja, atuar no sentido de conferir ao leitor/cidadão informações como ferramentas necessárias para transformar o país, garantindo maior qualidade à sua realidade política e social.
Para aumentar a ousadia, nos meses anteriores às eleições, o site literalmente pintou-se de amarelo. Em vez do tradicional branco, o fundo das páginas do Congresso em Foco ficou amarelo. A ideia era destacar aspectos que, no entender do site, deveriam merecer “muita, muita atenção” do leitor/eleitor na escolha do candidato. Condições que poderiam desabonar os candidatos no processo de escolha pelos eleitores: estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa; responder a ação penal na Justiça; já ter sido preso em alguma operação policial, ter respondido a processo de cassação pelos conselhos de ética de algum órgão legislativo do qual tenha feito parte, ou ter sido denunciado como integrante do esquema dos sangessugas, de desvio de recursos na área da Saúde.
Na escolha dos nomes dos candidatos que exigiam “muita, muita atenção”, o Congresso em Foco não se limitou a uma oposição unilateral: não produziu a lista para o consumo dos seus leitores, como faria um veículo tradicional de jornalismo. O site pediu aos leitores que enviassem informações sobre os candidatos nas suas regiões que se enquadravam em pelo menos um dos critérios sugeridos para que fosse aceso sobre ele o “sinal amarelo”. Esse diálogo entre o site e o leitor/eleitor resultou numa lista extensa de candidatos que mereciam algum tipo de alerta.
Até o início do ano, quando o Congresso em Foco bateu novos recordes de audiência, as reportagens produzidas durante o período do “Sinal amarelo” foram as mais lidas da historia do site. Veja aqui algumas das reportagens produzidas nesse período:
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“A análise atenta deste site revela-se emblemática para a interpretação de um novo modo de fazer jornalismo, baseado na rapidez e na interatividade, graças ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação digitais”, escrevem Francilaine e Zélia sobre Congresso em Foco.
“Percebemos, na análise do site Congresso em Foco, o jornalista como mediador no processo de interatividade, uma das principais características do jornalismo digital. Vemos a iniciativa desse grupo de jornalistas como uma forma de uso da rede para fortalecer o debate no espaço público”, concluem as duas acadêmicas.
Para o estudo, Francilaine e Zélia estiveram na redação do Congresso em Foco e acompanharam o processo de apuração e produção do seu noticiário. As duas também fizeram entrevistas com o diretor do site, Sylvio Costa, e os editores Rudolfo Lago e Edson Sardinha.
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