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Em meio às denúncias de corrupção nos Correios e de compra de deputados, o Supremo Tribunal Federal (STF) ressuscitou ontem a primeira crise do governo Lula, ao determinar a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. Por nove votos a um, o STF decidiu que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), terá de indicar os representantes dos partidos na CPI dos Bingos, abafada pela base governista há mais de um ano. A decisão do Supremo ocorreu no dia em que o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), numa sessão tumultuada, retornou à Câmara e o ministro de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, teve, pela primeira vez, o seu nome associado ao caso dos Correios, mantendo a crise no Palácio do Planalto. Em depoimento à CPI, o ex-funcionário da estatal Maurício Marinho sugeriu a investigação dos contratos dos Correios com agências de propaganda vinculados, segundo ele, ao ministro. Titular da secretaria responsável por cuidar da publicidade das ações do governo, Gushiken havia sido poupado da artilharia de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Leia também A pouco mais de um ano das eleições gerais e depois do desgaste provocado pela resistência às investigações nos Correios, o governo Lula terá o desafio de enfrentar três CPIs e convencer o Congresso a examinar a chamada agenda positiva, que inclui, entre outras propostas, a reforma tributária e uma série de projetos voltados para pequenas e microempresas. Às CPIs dos Bingos e dos Correios, vai se juntar a comissão que irá investigar a existência do mensalão. O início dos trabalhos do colegiado está previsto para a próxima quarta-feira. A oposição vai tentar aproveitar a volta do caso Waldomiro para associar a imagem do governo à corrupção e empurrar a crise cada vez mais para o Planalto. Um dos principais assessores de Dirceu na Casa Civil, Waldomiro foi flagrado em um vídeo pedindo propina ao bicheiro Carlinhos Cachoeira quando presidia a Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). O caso foi parar no STF depois que o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiu não indicar os representantes dos partidos para compor a CPI, apesar de haver número suficiente de assinaturas para a abertura das investigações. Aliado do Planalto, como Sarney, o atual presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai tentar convencer os líderes partidários a adiarem o início dos trabalhos. O adiamento seria providencial para o governo se concentrar na defesa das acusações feitas contra a cúpula do PT na CPI dos Correios. No segundo dia de depoimento à comissão, Maurício Marinho reiterou a denúncia de que o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, teria cometido ingerência nos contratos relacionados à diretoria de Tecnologia em favor de uma empresa com a qual teria vínculos. Segundo o ex-funcionário dos Correios, os contratos da diretoria de Tecnologia, ocupado por um funcionário indicado pelo PT, seriam fechados sob influência política. Além de incluir o nome do ministro Gushiken entre os responsáveis por eventuais irregularidades contratuais, Marinho sugeriu um roteiro com 15 linhas de investigações. Acusado de cobrar propina, ele aconselhou a comissão a investigar os contratos de publicidade da estatal. "Isso está vinculado à Secretaria de Comunicação do Governo, do dr. Luiz Gushiken, por meio do departamento de marketing da ECT", afirmou. A Secretaria de Comunicação de Governo divulgou nota negando participação nos contratos de publicidade dos Correios. De acordo com a Secom, a secretaria pode participar das comissões de licitação apenas para analisar as propostas técnicas apresentadas. Sílvio Pereira também contestou que tenha feito qualquer indicação para o preenchimento de cargos na estatal. |
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