Fábio Góis
É um encontro marcado pelo ineditismo: em sua primeira visita ao Brasil, o primeiro negro a presidir os Estados Unidos da América recebido pela primeira mulher a chegar ao posto máximo do Executivo brasileiro. O presidente dos EUA acaba de subir a rampa do Palácio do Planalto, em cujo ápice o esperava a presidenta Dilma Rousseff. Ao lado do ministro das Relações Exteriores, o chanceler Antonio Patriota, e da primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, que chegou por um acesso restrito do prédio, Dilma ? trajada com vestido vermelho e echarpe estampada ? fez rápidos cumprimentos em inglês ao chefe de Estado e se posicionou para os rituais oficiais.
Depois de uma chuva matinal renitente, fez-se sol em Brasília à chegada do chefe de Estado ao Palácio do Planalto, por volta das 10h30. Ao lado de Dilma, Michelle e Patriota, Obama ouviu a execução do hino nacional dos dois países, enquanto um grupo de artilharia do Exército realizou uma sequência de 28 tiros de canhão, praxe na visita de chefes de Estado ao Brasil. Antes, o presidente foi recebido pela chefe do cerimonial brasileiro, Antônia Cooper Patriota (esposa do chanceler), quando passou as tropas militares em revista, recebeu os cumprimentos do comandante dos Dragões da Independência e, ao som de uma marcha militar, andou por cerca de cem metros até chegar à rampa do Planalto.
Diversos ministros de Estado e demais autoridades, servidores, jornalistas e militares lotaram o Palácio do Planalto. A chegada de Obama teve continuidade com os cumprimentos dos presidentes aos ministros brasileiros e norte-americanos ? o primeiro a apertar a mão de Obama foi o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, ladeado por ministros como Guido Mantega (Fazenda) e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Logo depois, Obama e Dilma subiram uma rampa onde diversas crianças de uma escola de Brasília, empunhando bandeiras das duas nações, tiveram a oportunidade de receber afagos presidenciais ? uma delas chorava copiosamente, o que mereceu a atenção mais detida tanto de Obama quanto de Dilma.
Dilma e Obama adentraram a sede do Executivo para uma exposição com obras produzidas por mulheres brasileiras, montada especialmente para a visita de Obama. Ainda no Planalto, depois de reunião entre os presidentes, será elaborado documento de acordo bilateral, devidamente assinado por ambos, por meio do qual Obama deve manifestar a simpatia do governo norte-americano ao pleito do Brasil por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, entre outros pontos. Depois desse compromisso, Obama seguirá para o Palácio do Itamaraty, onde encontrará executivos de ambos os países, por ocasião do encerramento do 6º Fórum dos Executivos do Brasil e dos EUA.
No transcorrer do dia, algumas reuniões estão pautadas para o presidente, com autoridades, empresários e executivos de alto escalão ? a primeira, fechada, com a própria presidenta Dilma. Já Michelle terá compromissos paralelos, como visita a localidade de Brasília onde assistirá a uma apresentação de capoeira, executada pelo Centro Cultural Raízes do Brasil, entre outras manifestações culturais.
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Prestígio
Trata-se de uma viagem de cortesia que, antes da ida de Dilma dos EUA, em junho, é vista pela diplomacia brasileira como prestígio brasileiro no cenário internacional. E um sinal de deferência dos norte-americanos em relação ao Brasil. No fim do dia, Obama segue para a segunda parte da visita ao Brasil, no Rio de Janeiro, onde deve fazer, entre outros compromissos, um discurso sobre democracia e inclusão social no Teatro Municipal.
Na chegada de Obama a Brasília, por volta de 8h, cerca de 40 veículos deixaram a base aérea e seguiram em comboio presidencial pelas ruas da capital, em itinerário marcado por forte esquema de segurança. Obama, sua família e membros do governo norte-americano seguiram para uma região de segurança, onde ficarão hospedados em um hotel à beira do Lago Paranoá, a poucos metros do Palácio da Alvorada. Além das precauções por terra, foram feitas restrições para a navegação de barcos e lanchas.
Ontem (sexta, 18), estudantes e membros de partidos como o PSTU fizeram manifestações em frente ao consulado dos EUA no Rio, e chegaram a lançar bomba caseira no prédio ? que, embora não tenha sido atingido, teve um vigilante ferido. A polícia reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha, e 13 manifestantes acabaram detidos e encaminhados para delegacias.
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