A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticou o reajuste de 26,49% aprovado ontem (22) pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara para deputados, senadores, ministros, presidente e vice-presidente da República. As críticas mais duras partiram do vice-presidente da entidade, d. Antônio de Queirós, que condenou a "enorme insensibilidade" dos parlamentares e disse que "não há ética nenhuma" no aumento autoconcedido pelos parlamentares.
O presidente da CNBB, d. Geraldo Majella, afirmou que os congressistas deveriam comparar os seus vencimentos com o salário mínimo, fixado hoje em R$ 350, antes de tomar qualquer decisão. D. Geraldo rebateu, ainda, a declaração do presidente Lula de que seus ministros eram "verdadeiros heróis" por sobreviverem com um salário de R$ 8 mil. “Heróis são os que sobrevivem com o salário mínimo”, afirmou.
O projeto aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação corrige os salários com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, a remuneração de deputados e senadores deve passar dos atuais R$ 12.847,20 para R$ 16.250,42. O salário do presidente passará de R$ 8.885,48 para R$ 11.239,24, enquanto o do vice e dos ministros, dos atuais R$ 8.362,80 para R$ 10.578,11. A proposta ainda precisa ser analisada pelo Plenário antes de entrar em vigor.
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Em entrevista coletiva ao final da 26ª reunião do Conselho Episcopal Pastoral, os bispos revelaram preocupações com o aumento da corrupção e o risco trazido pela intenção de aumentar a produção de etanol. D. Geraldo contestou outra declaração de Lula: a de que os usineiros brasileiros se transformaram em "heróis nacionais e internacionais".
“As pessoas quando se entusiasmam dizem coisas como essa. Acredito que tenha apenas dito que é uma fonte de renda”, declarou o presidente da CNBB. “Nossa preocupação é que se transforme o Brasil em um imenso canavial. Não há país que tenha concentrado na cana-de-açúcar sua fonte de riqueza e tenha prosperado. Não é o etanol que vai salvar o mundo”, alertou.
Relação estremecida
Tradicionalmente simpática às causas sociais defendidas pelo PT, a CNBB não tem poupado críticas ao governo Lula. Além de cobrar mais empenho do governo na redução das desigualdades e do desemprego, a entidade também se queixado dos números tímidos da política de reforma agrária e da falta de atenção com os problemas da Amazônia.
Há três semanas, o presidente Lula citou a Igreja num discurso em que condenou as campanhas contra o uso da camisinha. A resposta da CNBB, por meio de nota, foi imediata: "Não somos hipócritas. Nem o fomos. Nem o seremos. Somos coerentes" (leia mais). (Edson Sardinha)
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