Sônia Mossri |
Além das divergências entre ministros e do escândalo provocado pelo ex-assessor da Presidência da República, Waldomiro Diniz, o presidente Lula enfrenta uma crise nas Forças Armadas. Insatisfeitos com o achatamento salarial e a busca dos corpos dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, os militares vão levar seu descontentamento ao Congresso. No próximo dia 31 de março, quando o golpe de 64 faz 40 anos, militares promoverão manifestação, colocando 122 cruzes brancas relativas aos mortos por movimentos de esquerda durante os anos de chumbo. Preocupado com o elevado grau de contrariedade dos militares, o comandante do Exército (cargo equivalente a ministro do Exército antes da criação do Ministério da Defesa), general-de-exército Francisco Roberto de Albuquerque, reuniu-se na última sexta-feira (19) com oficiais da reserva, na sede do Lago Sul do Clube do Exército, em Brasília. Leia também O comandante Albuquerque fez uma longa exposição aos oficiais e repetiu que tem recebido o apoio do presidente Lula. A melhor notícia foi a de que o governo estuda conceder um aumento de 35% para militares da ativa e reserva. Essa proposta foi levada pelo ministro da Defesa, José Viegas, ao presidente. No Ministério da Defesa, porém, fala-se que dificilmente haverá correção salarial em 2004. Um dos integrantes do Alto Comando das Forças Armadas disse ao Congresso em Foco que os órgãos de inteligência do Exército, Marinha e Aeronáutica estão monitorando com atenção as manifestações de insatisfação dos militares, que estão mais acirradas entre oficiais de direita, antigamente chamados de “linha dura”. O achatamento salarial da tropa repercutiu na Poupex (Associação de Poupança e Empréstimo do Exército), instituição do Exército voltada para financiamento imobiliário, captação de poupança e empréstimos. Com baixos salários, os militares se juntaram aos demais brasileiros e se endividam para conseguir pagar as despesas até o final do mês. Apenas em fevereiro, a Poupex desembolsou o equivalente a R$ 100 milhões em empréstimos para militares. Esse número sobe para R$ 200 milhões se considerarmos os dois primeiros meses do ano e a primeira quinzena de março. A sede da Poupex, no anexo do antigo prédio do Ministério do Exército, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, surpreende pela fila de militares e familiares solicitando linhas de crédito. Os financiamentos da Poupex são vantajosos em relação ao sistema financeiro. Os juros são bem mais baixos que os oferecidos pelo sistema bancário, podendo alcançar até a metade das taxas cobradas por financeiras. Os empréstimos são descontados na folha de pagamento, de modo semelhante aos que existem atualmente em sindicatos de trabalhadores e cooperativas. |
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