Fábio Góis
Veiculada ontem (segunda, 22), segunda edição do programa “Lobotomia”, da MTV, no qual o apresentador Lobão bate um papo de pouco mais de meia hora com uma figura pública (a estreia foi com a senadora Marina Silva), serviu para o presidenciável do PSB, deputado Ciro Gomes (CE), resumir em uma frase como a Câmara dos Deputados é vista, inclusive internamente: “É a pior escória que manda lá hoje”.
A estreia de “Lobotomia”:
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A assertiva deu o tom do descontentamento de Ciro com um grupo governista majoritário que, segundo ele, marca o estilo “pragmático” do PT alçado ao poder. Uma nova era do partido cuja cúpula, em alianças impensáveis há até poucos anos com gente como o ex-presidente impichado Fernando Collor (atualmente senador pelo PTB de Alagoas), “se atraca com tudo o que não presta”.
Realidade que, segundo Ciro, tem levado nomes como o deputado petista José Eduardo Cardoso (SP) e o senador Pedro Simon (PMDB-RS) a decidirem abandonar a política. “Eu me sinto mal com isso, mas troquei para me manter coerente”, disse o parlamentar ao ser questionado sobre suas constantes trocas partidárias. Ciro recorreu, em seguida, à filosofia para sintetizar as mazelas da práxis política. “Montesquieu [filósofo francês do iluminismo] dizia isto: o poder corrompe.”
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Tratando a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV-AC) como “minha irmãzona querida”, e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como “uma mulher extraordinária”, ambas eventuais adversárias nas eleições presidenciais de outubro, Ciro se dirigiu aos jovens – público predominante da MTV – para pedir voto consciente. Inclusive para deputados e senadores, como fez questão de lembrar.
Mas, para Ciro, que é casado com a atriz Patrícia Pillar, não há nada de errado com a epidemia de “candidatos-celebridade” verificada com mais intensidade recentemente. “Nenhum problema”, resumiu o deputado, para quem o importante é que o aspirante a cargo eletivo tenha “decência”. A resposta foi provocada por Lobão ao mencionar o apresentador Netinho e o humorista Sérgio Malandro como possíveis candidatos neste ano.
Afável, ao contrário do comportamento manifestado à época da descoberta, por este site, da farra das passagens (chegou a bradar em plenário “Ministério Público é o caralho!”), Ciro disse que votou contra as restrições à internet impostas pela minirreforma eleitoral (“a melhor imprensa é a imprensa livre”) e criticou a postura “chapa-branca” da União Nacional dos Estudantes (“não gosto de intelectual, artista e estudante a favor do governo”).
Declarou-se também contra o voto facultativo, em recado tácito àqueles que, ao invés de votar, usariam o feriado para “ir à praia” (momento em que a produção do programa enxertou um hilário clipe de surfe). “Mas eu compreendo as razões desse nojo da política”, ponderou, referindo-se aos desmandos que têm sido praticados na Câmara.
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“Lambança”
Com críticas ao sistema de concessão de horário político gratuito (“o governo paga com o dinheiro do povo uma fortuna por esses horários”), Ciro disse que os partidos se relacionam “na base da lambança, numa traficância de poder” para ter mais espaço na televisão. “Tenho esperança que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] acabe com essa mamata”, disse Ciro, reclamando do pouco espaço para se dirigir a uma grande parcela da população.
“Eu falo por 20 milhões de brasileiros. A Marina Silva já fala por 12 milhões.”
Para Ciro, embora Dilma Rousseff apresente qualidades, ainda está “travadona” e dependente da “sombra exuberante do Lula”. Influência que, segundo o deputado, faz parte do passado. “O Lula foi maravilhoso. E daí? Isso é uma conversa olhando para trás, o Brasil é um país por fazer”, criticou o ex-ministro da Integração Nacional de Lula, dando como exemplo a Casa vizinha.
“Um ascensorista do Senado ganha mais que um médico formado.”
Pré-sal
Lobão defendeu ainda a chamada emenda Ibsen, apresentada pelo deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) ao projeto de lei (leia mais aqui, aqui e aqui) que distribui os royalties do petróleo para estados e municípios – numa divisão que resulta em queda de receita anual para o Rio de Janeiro, por exemplo, de cerca de R$ 7 bilhões.
“Você pode reclamar como carioca, mas ele [Ibsen] agiu como brasileiro”, disse o deputado, para quem a divisão deve beneficiar não só os estados produtores. Ciro criticou ainda a postura do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que chorou publicamente pelas perdas de receita e mobilizou uma passeata, na semana passada, que levou milhares de pessoas ao centro da capital fluminense “contra a covardia” feita ao estado.
Para o deputado, o erro do país foi ter feito a diferenciação de tratamento entre o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e as taxas incidentes relacionadas aos royalties do petróleo. “O Serra [governador de São Paulo], na Constituição, fez com que o petróleo fosse cobrado no destino, para beneficiar São Paulo. O resto [a exemplo do ICMS] é cobrado tudo na origem”, acusou Ciro, desafeto político do tucano José Serra.
Para Ciro, a questão pode ser resolvida com “um modelo tributário novo”. Ele finalizou a entrevista criticando o Executivo pelo excesso de medidas provisórias enviadas ao Congresso. “O presidente da República só pode propor. O monopólio da decisão é do Congresso.”
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