O pivô do escândalo de corrupção nos Correios, o funcionário da estatal Maurício Marinho, mudou a versão que havia apresentado à comissão de parlamentar de inquérito (CPI) que investiga o caso e disparou contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em depoimento prestado ao Ministério Público Federal. As acusações de Marinho, publicadas na edição de hoje do jornal O Globo , levaram a CPI dos Correios a reconvocá-lo nesta manhã. Segundo a matéria, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios contou, entre outros detalhes, que o deputado comandava “com mão-de-ferro” um esquema de arrecadação de recursos na empresa.
De acordo com a reportagem, Marinho afirmou ainda que o ex-presidente do PTB operou o mesmo esquema em outras estatais. Para fiscalizar a arrecadação, Jefferson escalou, segundo o ex-chefe dos Correios, seu genro, Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira. O genro de Jefferson teria acompanhado as negociações nos Correios. “O Marcos Vinícius funcionava como os olhos e ouvidos de Jefferson nos Correios e nas outras estatais comandadas pelo PTB” relatou Marinho, em seu depoimento.
“Já temos a informação de que Marinho revelou todo o esquema de corrupção nos Correios”, afirmou a senadora Heloísa Helena (Psol-AL). “É um depoimento bomba porque ele fala tudo”, completou. A CPI dos Correios aprovou ontem o pedido para que a Procuradoria da República no Distrito Federal, que colheu o depoimento, envie-o à comissão.
A data do novo depoimento, contudo, ainda não foi definida. O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pediu um tempo para analisar a íntegra das declarações feitas pelo ex-funcionário dos Correios ao Ministério Público.
Veja, abaixo, as principais informações prestadas por Marinho ao Ministério Público:
- Admitiu que integrava o núcleo que operava o direcionamento das licitações nos Correios para arrecadar recursos para os partidos aliados do governo;
- Disse ainda que o esquema era feito com aval do ex-diretor de Administração dos Correios Antônio Osório Batista, indicado pelo PTB, e até mesmo pelo ex-presidente da estatal João Henrique, indicado pelo PMDB;
- Confirmou que, em 2004, Jefferson começou a ficar desconfiado com o tesoureiro informal do partido e então diretor da Embratur, Emerson Palmieri, e que, por isso, repassou atribuições que antes eram de Palmieri para o genro Marcos Vinícius;
- Confirmou o teor da fita divulgada reportagem da Veja na qual mostra que ele fora filmado recebendo uma propina de R$ 3 mil. Na gravação, mostra que ele operava com o aval do então diretor dos Correios Antônio Osório Batista e do deputado Roberto Jefferson;
- Acusou o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, a quem atribuiu as indicações dos diretores que comandavam as áreas de Tecnologia e Operações;
- Apontou irregularidades nas aquisições de máquinas de registrar digitais, de kits para o setor de administração e na construção das salas-cofres da estatal, em São Paulo e Brasília, coordenada pela área de Tecnologia. Também revelou problemas nas aquisições de software e hardware pelos Correios. Voltou a revelar o interesse específico de Sílvio Pereira na compra de leitoras de contas de água e luz, cuja beneficiária seria a empresa HHP;
- Citou também os problemas na licitação para a compra de kits para o banco postal e para serviços de automação que envolveria um contrato de mais de R$ 120 milhões que, segundo ele, teria sido feito com o consórcio Alfa e a Novadata, empresa de informática que pertence ao empresário Mauro Dutra, ligado ao PT;
- Apontou ainda a existência de monopólio para a compra de bicicletas, motos e veículos para os Correios, e
- Voltou a denunciar as irregularidades no direcionamento de grandes clientes para agências franqueadas e reforçou a denúncia de esquema de concessão destas agências a laranjas de parlamentares.
Fonte: Depoimento de Marinho ao Ministério Público e jornal O Globo
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