Foto: Ag. Câmara
Por 261 votos a 243, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) acaba de ser eleito o novo presidente da Câmara. Numa disputa acirrada, decidida em segundo turno, Chinaglia precisou dos votos do PSDB para derrotar o candidato à reeleição, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Os votos dos tucanos foram fundamentais para a definição, já que o candidato do partido, Gustavo Fruet (PR), surpreendeu muitos dos seus colegas ao conseguir 98 votos no primeiro turno.
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Na primeira rodada, Chinaglia e Aldo obtiveram, respectivamente, 236 e 175 votos. Uma nova votação foi chamada logo em seguida, uma vez que nenhum dos candidatos obteve os 257 votos necessários para vencer a disputa em primeiro turno.
Com a saída de Fruet, o líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzzio (SP), liberou a bancada para votar como quisesse. “Não vejo sentido que o PSDB indique voto em qualquer dos candidatos, pois os dois são governo”, disse o tucano.
Apontado como favorito para vencer a disputa pela presidência da Câmara, o médico Arlindo Chinaglia (PT-SP) terá a missão de costurar as cicatrizes provocadas na base aliada durante o processo eleitoral. Antes do início da votação, o deputado fez um discurso prometendo defender seus pares de "ataques injustos". O pronunciamento soou como música para o baixo clero (leia mais).
Apoios inusitados
Conhecido pelo temperamento explosivo, Chinaglia conquistou, ao longo da campanha, a simpatia de antigos desafetos, como o ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP); o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), com o qual quase foi aos tapas em 2005; e o governador mineiro Aécio Neves (PSDB), que Chinaglia mandou calar a boca em 1998 e hoje aprova discretamente a movimentação de integrantes de sua bancada pessoal em favor do petista.
Apesar do estilo “bateu-levou”, Chinaglia é respeitado até mesmo por lideranças oposicionistas, que encontram no atual líder do governo uma capacidade de diálogo que nem sempre identificam em outros petistas. Também é reconhecida sua habilidade para conviver com as diversas tendências e personalidades do PT.
Dos três candidatos, foi o que teve o apoio do bloco partidário mais amplo. Ele inclui as duas maiores bancadas da Câmara, PMDB e PT, e ainda PP, PTB, PTC, PT do B e o Partido da República (PR, fruto da fusão entre o PL, o Prona e o PSC).
Com a vitória de Chinaglia, o partido pretende se cacifar para a formação do segundo governo Lula e para a disputa da sucessão presidencial de 2010. Ela também representa o fortalecimento do PT paulista, que foi castigado nas eleições para a Câmara e o governo estadual em 2006.
Entre os principais aliados políticos de Chinaglia, estão o ministro da Articulação Política, Tarso Genro, a ex-prefeita paulista Marta Suplicy – que é considerada pré-candidata às eleições presidenciais dentro do PT – e o ex-ministro José Dirceu. Ele foi brindado ainda com o apoio firme dos partidos com maior número de parlamentares envolvidos nos escândalos do mensalão e dos sanguessugas: o trio formado por PP, PTB e PL (hoje, PR).
Dr. Neto
Aos 57 anos, o paulista de Serra Azul, cidade próxima a Ribeirão Preto, faz questão de ser chamado pela pronúncia italiana de seu sobrenome (Quinalha). Mas nem sempre foi assim. Nos anos 1970, enquanto era médico residente no Hospital Regional de Taguatinga (DF), preferia ser chamado de “Dr. Neto”, pseudônimo adotado em plena ditadura em homenagem ao poeta e líder angolano Agostinho Neto.
Na década seguinte, comandou o Sindicato dos Médicos de São Paulo e foi presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com duas passagens pela Assembléia Legislativa paulista, prepara-se para cumprir o quarto mandato.
Nos últimos 12 anos, propôs 24 projetos de lei, a maioria relacionada a questões ligadas à saúde, e relatou 12 proposições. Entre suas propostas, está a que proíbe a criação de novos cursos médicos e a ampliação de vagas nos cursos existentes por um período de dez anos.
Na última legislatura, Chinaglia fez 466 pronunciamentos. No mesmo período, o ex-líder do PT participou de duas comissões e esteve em 16 (64%) das 25 reuniões realizadas. Justificou a ausência em cinco ocasiões (20%) e, em outras quatro (16%), não apresentou justificativa. Nas sessões deliberativas, o deputado compareceu a 549 (90,3%), das 608 realizadas na atual legislatura. Justificou todas as suas 59 (9,7%) ausências.
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Matérias publicadas em 01.02.07.
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