As denúncias contra as propagandas consideradas impróprias nos anos da ditadura não partiam somente dos escritórios da censura. Cidadãos podiam relatar episódios assistidos aos oficiais para que estes tomassem providências. E foi assim que a propaganda da cueca Hering caiu nas tesouras da censura.
O comercial mostrava um homem, de vastos bigodes à moda dos anos 80, vestindo uma camiseta. “Toda aquela gostosa maciez das camisetas Hering agora foi esticada mais para baixo”, diz uma locutora, com voz sensual. A câmera começa, então, a descer, até dar um close da cueca.
Um cidadão, então, fez uma denúncia à censura por considerar a propaganda imprópria. E o censor que analisou o caso concordou com a alegação. “O signatário está com a razão, pois o anúncio é imoral”, diz o censor Augusto Costa na carta para Hélio Guerreiro. Na mesma carta, ele expressa ainda outra preocupação. “Posteriormente, deverão também aparecer na TV mulheres de calcinha íntima, já que propaladamente os direitos são iguais”.
Alguns dias depois, o mesmo censor Augusto da Costa manda outra carta para seu chefe. Na correspondência, informa ter visto na TV um anúncio de lingerie da marca Poesi. “Levo ao conhecimento de V.Sa. que assisti na TV um comercial onde aparece uma mulher usando calcinha e soutien (sic), publicidade da Poesi”, diz ele. “Conforme informação dada quando do exame das cuecas Hering, dizia eu que já era esperada publicidade de peças íntimas femininas”, reiterava, lamentando que seu alerta tivesse sido ignorado. E seguia, indignado: “Aparecem os bicos dos seios e a penugem por baixo da calcinha”. Augusto pedia, então, a Hélio Guerreiro que providenciasse uma campanha que explicasse que a censura não tinha mais poder de vetar propagandas.
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Assista abaixo ao vídeo que causou indignação dos censores:
Com base na Lei de Acesso à Informação, a Revista Congresso em Foco chegou até os documentos da Censura Federal, em Brasília, e resolveu concentrar-se em um de seus capítulos menos conhecidos: a censura à propaganda. O Congresso em Foco publica hoje apenas uma parte desse material. A íntegra da reportagem está disponível no quarto número da revista, em circulação em todo o país.
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