Fábio Góis
A oposição na Câmara dos Deputados se prepara nesta semana para articular uma ação em resposta aos desdobramentos do caso Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), tema de reportagem de capa da revista Veja desta semana. A matéria informa que, na semana passada, novos documentos chegaram às mãos do promotor de Justiça José Carlos Blat, que solicitou à Justiça bloqueio das contas da Bancoop e a quebra de sigilo do ex-presidente da entidade João Vaccari Neto, recentemente escolhido como tesoureiro do PT. Segundo investigações do Ministério Público de São Paulo, a Bancoop foi instrumento de um esquema de desvio de dinheiro para o PT e, capitaneado por Vaccari, abasteceu a campanha eleitoral do presidente Lula, em 2002.
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“Um dos dados mais estarrecedores que emergem dos extratos bancários analisados pelo MP é o milionário volume de saques em dinheiro feitos por meio de cheques emitidos pela Bancoop para ela mesma ou para seu banco: 31 milhões de reais só na pequena amostragem analisada. O uso de cheques como esses é uma estratégia comum nos casos em que não se quer revelar o destino do dinheiro”, diz trecho da reportagem intitulada “Caiu a casa do tesoureiro do PT”, em referência àquele que seria “o principal responsável pelo esquema de desvio de dinheiro da cooperativa” e o provável administrador das finanças da campanha eleitoral da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República.
O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse há pouco ao Congresso em Foco que, nesta semana, vai procurar outros líderes oposicionistas – a exemplo de João Almeida (PSDB-BA) e Fernando Coruja (PPS-SC) – para discutir que medida tomar em relação ao caso. Ele avisa que outros assuntos espinhosos para os petistas, como o caso da reativação da Telebrás (leia mais), também estarão em pauta.
“Vamos solicitar ao Ministério Público de São Paulo mais informações sobre a participação deste cidadão, que é o substituto do Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT envolvido no escândalo do mensalão] na tesouraria”, disse Bornhausen, lembrando que já está em curso na Assembléia Legislativa de São Paulo um pedido de instalação de CPI. Para o líder do DEM, as novas denúncias são um mau presságio para a temporada pré-eleitoral deste ano.
“É um caso, no mínimo, mal explicado. É um negócio incrível, são muitas informações que devem ser investigadas. É um início difícil de jornada às vésperas da eleição”, observa. “Não é um fato novo, mas é o aprofundamento de uma investigação. Eu diria que é a volta dos que não foram, o mensalão do PT que vive.
“Lugar nenhum”
Já o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), disse ao Congresso em Foco que o promotor José Carlos Blat age de maneira “política”, porque teria ligações com o tucanato paulista. Segundo o deputado petista, Vaccari deveria acionar Blat judicialmente pelas acusações.
“O promotor fez política. O Vaccari não responde a processo, ele assumiu a Bancoop depois destes fatos. E esse dinheiro era de cheque de uma conta para a conta da Bancoop, e não saque na boca do caixa”, declarou Vaccarezza, para quem uma eventual providência da oposição no Congresso “não vai a lugar nenhum”. “Isso é problema da oposição. Se eles tiverem assinaturas suficientes, tudo bem.”
Vaccarezza também disse ainda ter estranhado algumas movimentações na esfera legislativa estadual. “O mais esquisito é que, antes de o promotor tomar essa decisão, os deputados do PSDB paulista já estavam recolhendo assinaturas para instalar uma CPI [comissão parlamentar de inquérito]”, provocou o deputado, voltando a acusar Blat. “Esse promotor tem uma ligação clara com o PSDB de São Paulo.”
Para Bornhausen, as palavras de Vaccarezza são “conversa afiada”. “Tudo o que tiver esse diapasão tem de ser apurado. O Vaccarezza deveria, no mínimo, pedir o afastamento do tesoureiro do seu partido”, acrescentou o deputado catarinense, em analogia aos afastamentos de quadros do DEM em razão do mensalão do Arruda (ex-DEM), o maior escândalo da história do Governo do Distrito Federal (leia tudo e veja vídeos sobre o caso).
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