Divulgação/PT
Erich Decat
Deputado federal em segundo mandato, o candidato à presidência do PT José Eduardo Cardozo (PT-SP), 48 anos, afirma que a crise desencadeada pelo escândalo do mensalão só será superada pelo partido quando o antigo Campo Majoritário (agora rebatizado de Construindo um Novo Brasil) deixar o comando da legenda.
“Enquanto não alterarmos o modo de direção, as causas da crise estarão dadas e, se estiverem dadas, obviamente elas não se superam”, diz Cardozo, nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, sem citar o nome do atual presidente, Ricardo Berzoini, candidato à reeleição.
Um dos sub-relatores da CPI dos Correios, o petista manteve, ao longo das investigações, uma postura de defesa crítica do governo. Discurso que, dois anos depois, não abandonou. Na avaliação dele, o partido precisa ser mais rigoroso na punição dos filiados envolvidos em irregularidades e resgatar a bandeira da ética, empunhada com fervor até as eleições de 2002.
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“Se defendemos a ética para fora, temos que defender a ética para dentro”, afirma. “O militante que transigir com a nossa ética deve ser rigorosamente punido”, acrescenta.
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Congresso em Foco – Quais são as principais propostas da sua candidatura?
José Eduardo Cardozo – Nós avaliamos que temos de mudar o modo de direção do partido para que possamos revitalizá-lo. Hoje temos um pequeno grupo impondo as suas decisões. Isso tem levado a um afastamento da nossa militância, o que é muito ruim para o Partido dos Trabalhadores. Inclusive, temos vistos em vários estados uma militância apagada, o que é algo profundamente equivocado, uma vez que somos um partido transformador e militante.
Quais são as medidas que o senhor propõe para acender novamente a militância?
Ela voltará à medida que perceber que a sua voz pode ser ouvida e que sua participação pode ser efetiva e não meramente formal. Para isso, é preciso, em primeiro lugar, que o presidente nacional do PT tenha uma postura de um presidente como um todo, ou seja, deve dialogar com todos e não apenas buscar a hegemonia e a afirmação da sua corrente. Cabe, portanto, a busca pela revitalização, isso seria feito colocando em pauta temas polêmicos e as discussões que o petista tanto anseia em fazer, mas que muitas vezes é bloqueada ou impossibilitada pela direção partidária.
Essas pautas polêmicas recaem também no debate sobre o mensalão?
Acho que isso entra em um segundo ponto que temos colocado que é a questão da ética. Sempre construímos o PT como um partido que defende a ética na política e fomos muito intransigentes em relação aos nossos adversários. Se defendemos a ética para fora, temos que defender a ética para dentro. Por isso, somos a favor de um código de ética em que ele tenha uma implementação efetiva. O militante que transigir com a nossa ética deve ser rigorosamente punido. Claro que com apuração, mas de forma exemplar.
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, realizada no 3º Congresso do partido, diz que 60% dos integrantes do PT avaliam que a crise vivida pelo PT não foi superada. O senhor tem essa mesma visão?
As crises são sempre efeitos de processos que têm as suas causas. Enquanto as causas não forem modificadas, o efeito permanece. Enquanto não alterarmos o modo de direção, as causas da crise estarão dadas e, se estiverem dadas, obviamente elas não se superam.
Qual é o diferencial da sua candidatura em relação às demais?
Temos dois diferenciais. Em primeiro lugar, nós não somos uma corrente, uma tendência. Somos um agrupamento de pessoas que compartilham uma avaliação partidária clara. Isso foge muito da lógica nacional da disputa do PT. Ou seja, nós temos apoios de militantes que vieram de outras correntes, de outros grupos. Temos o apoio do Tarso Genro [Ministro da Justiça], do Jacques Vagner [governador da Bahia], da Ana Julia Carepa [governadora do Pará]. Isso é um elemento diferencial porque nós não somos daquelas tendências tradicionais do PT e queremos justamente superar esse modelo onde a discussão só flua perante tendências. O segundo diferencial é que nós afirmamos de forma categórica a ética como principio e pressuposto de atuação política.
Quais são as prioridades do seu mandato caso seja eleito?
Revigorar a democracia interna. Aplicar uma política para a juventude petista. Uma política de formação de quadros que foi abandonada. Também queremos buscar um apoio à autonomia dos movimentos, em que possamos dialogar como os movimentos sociais garantindo a sua própria autonomia. E o próprio fortalecimento do partido dentro da formação de um campo centro-esquerda para que possamos ter candidaturas agora em 2008 e também no plano nacional em 2010.
Em relação às próximas eleições municipais, qual seria a estratégia do PT caso o senhor seja eleito?
Temos que buscar ao máximo dialogar com os partidos de centro-esquerda, ou seja, particularmente com PCdoB, PSB, PDT e setores do próprio PMDB.
E para 2010?
Com a atual presidência da República, à frente de estados importantes e tendo o peso político que tem no Congresso Nacional, o PT não pode renunciar a uma candidatura própria. Isso seria totalmente fora de propósito. No entanto, acho que temos que construir uma candidatura sem arrogância e imposição, dialogando com os partidos aliados, respeitando as reivindicações das outras candidaturas.
Qual é o peso do presidente Lula para essa próxima eleição da presidência do PT?
Acredito que ele tenha tomado uma posição eqüidistante. Não vi assumir apoio a candidatura de ninguém. Embora nada impedisse que ele pudesse declarar o seu voto.
O senhor acredita que a postura dele é de afastamento do partido?
Não acho. Ele como membro do nosso partido tem uma tarefa de governo composto por diversas forças políticas, mas enquanto presidente da República corresponde exatamente à nossa expectativa, fazendo um governo transformador, que fez um divisor de águas na história nacional. Nós temos que apoiá-lo e propor políticas para que ele cada vez mais apr
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