Debate realizado hoje pela TV Câmara mostrou que três candidatos com discursos bem diferentes disputam os votos dos 513 deputados, na tentativa de se eleger presidente da Casa, na próxima quinta-feira. Gustavo Fruet (PSDB-PR) prega, sobretudo, a recuperação da credibilidade da Câmara dos Deputados. "Temos que sair das páginas policiais", afirmou. Aldo Rebelo (PCdoB-SP) apresenta sua candidatura como um meio de barrar a hipertrofia do poder petista no segundo mandato de Lula. Já Arlindo Chinaglia (PT-SP) não apenas teve o discurso mais governista como tomou a defesa dos partidos envolvidos no escândalo do mensalão, principalmente o PT.
Se no plano político as distinções são flagrantes, em termos de propostas, houve convergência em torno de vários temas. Os três defenderam a autonomia do Legislativo, o resgate da imagem da Câmara e a revisão do teto salarial para o funcionalismo público. Em pouco mais de duas horas de debate, eles trocaram farpas, mas evitaram aprofundar discussões mais polêmicas. Aldo procurou dissociar sua imagem à do Palácio do Planalto, aproximando o seu discurso ao do candidato tucano, que enfatizou que tem a cara da independência da Casa.
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Ex-ministro de Lula, o atual presidente da Câmara voltou suas críticas ao petista e ao Partido dos Trabalhadores. “Não julgo que seja bom para a democracia que seja dado tanto poder a um único partido”, argumentou acrescentando que o PT já tem o chefe do Executivo. “O PT tem legitimidade para disputar qualquer cargo”, retrucou Chinaglia.
Momentos de tensão
Apesar de tentar se desvincular do rótulo de candidato do governo, o que lhe tiraria votos na oposição, Chinaglia foi o único que defendeu os partidos governistas. E deu mais algumas demonstrações do seu pavio curto. Ele protagonizou os momentos de maior tensão durante o debate, irritando-se em pelo menos três ocasiões: com perguntas de Fruet e de duas jornalistas.
Acusado pelo tucano de trabalhar pela anistia do deputado cassado José Dirceu (PT-SP), Chinaglia repreendeu o colega. “Eu prezo a ética e em qualquer debate a gente não pode ficar trabalhando com insinuação. Desafio Vossa Excelência a provar que eu esteja orientando a minha candidatura para promover a anistia do ex-deputado José Dirceu. Por favor, não mencione”, retrucou.
Chinaglia também se irritou ao ser questionado por uma repórter sobre críticas de outros partidos da coalizão sobre a “fome” dos petistas por cargos no governo federal. “O PT tem erros, não é um partido perfeito. Se o PT tem poder é porque o povo quis. Qual é o preconceito, o ódio contra o PT?", rebateu.
O deputado ainda contestou a declaração de uma repórter que afirmou que os partidos envolvidos com o mensalão apoiavam a sua candidatura. “Por causa de um pecado de um dos seguidores, não significa que alguém deva abandonar sua fé. Discordo de que haja partidos de mensaleiros. Até porque houve renovação. Deputados que erraram foram condenados”, afirmou Chinaglia.
Assim como no debate promovido pela Folha de S. Paulo na sexta passada, Aldo tentou descolar sua imagem à do Palácio do Planalto. “Nunca perguntei ao presidente Lula se poderia ser candidato à presidência da Câmara dos Deputados. A minha relação com o presidente é política. Nunca foi e nem será de subordinação. Por meu dever de relação pessoal, comuniquei ao presidente que seria candidato”, afirmou. "Estamos escolhendo o presidente da Câmara dos Deputados, não o líder do governo", completou, em referência ao cargo exercido atualmente por Chinaglia.
Fruet endossou a provocação, mas a estendeu ao próprio Aldo, ex-ministro da Coordenação Política de Lula. "Não podem ser presidente da Câmara líderes de governo ou ministros de Estado. Temos que mudar essas regras a partir de 2007”, disse o tucano. Ao longo do debate, o deputado tentou se mostrar como o único candidato capaz de resgatar a credibilidade moral da Câmara e garantir ao Legislativo o restabelecimento de um diálogo de igualdade com o Executivo e o Judiciário.
Os três candidatos descartaram o reajuste de 91% dos vencimentos dos parlamentares. Aldo e Chinaglia defenderam a unificação do teto salarial do funcionalismo público, tomando o Legislativo como referência. Para o presidente da Câmara, os salários do Judiciário devem ser congelados até que haja uma discussão sobre o assunto. Fruet, por sua vez, defendeu que o reajuste dos deputados e dos senadores se dê apenas com a reposição da inflação acumulada no período.
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