Ricardo Ramos |
Enquanto dá início ao processo de escolha de um candidato próprio do PMDB ao Palácio do Planalto, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), diminui o tom das críticas ao governo Lula e até elogia a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Um dos principais articuladores do movimento que resultou na declaração de independência do PMDB em relação ao governo, no final do ano passado, Temer também se destacou como crítico do receituário de Palocci. A mudança de discurso é notória. “Na área macroeconômica, o governo vai indo bem. Não permitiu o retorno da inflação, deu seqüência a um plano (econômico) anteriormente estabelecido, o que é uma coisa até inteligente. Porque, no geral, os governos assumem e querem destruir tudo o que o governo anterior fez. E acho que nesse sentido o governo Lula procedeu bem”, diz o deputado. Leia também Os elogios de hoje em nada lembram as críticas feitas por Temer em entrevista concedida ao Congresso em Foco dez meses atrás. “Evidentemente, ele (o ministro Palocci) deve estar conversando com a área econômica e deve estar convencido que esse é o melhor caminho. Nós não achamos, mas eu não creio que essa seja a posição do presidente (Lula)”, afirmou, na edição de 8 de junho de 2004 (leia mais). Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Temer reitera o que disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontro realizado há um mês no Palácio do Planalto: o partido não pretende criar embaraços para o governo nas votações, mas não abre mão da candidatura própria em 2006. Michel Temer – A Convenção Nacional chegou a ser impugnada judicialmente, mas foi convalidada. Agora, nós queremos colocar em prática as decisões da convenção. Em primeiro lugar, vamos fazer um recredenciamento de todos os filiados. E, logo em seguida, organizar as prévias partidárias para a escolha do candidato do partido à presidência da República. Essas eram as principais decisões da convenção que estamos começando a implementar. Devo dizer que ainda existe uma pendência judicial: que as liminares, agravos e embargos que foram oferecidos – e que agora foram liquidados – nasceram de uma ação ordinária, da convenção. Ela vai ser julgada um dia, mas será daqui a três anos, como uma ação comum. Enfim, estamos implementando as decisões da convenção. Mas a manutenção de dois ministros peemedebistas no governo não enfraquece o projeto do partido de ter candidatura própria à sucessão presidencial? Não há dúvida de que cria problemas. A essa altura, confesso que ainda não fui ao Tribunal Superior Eleitoral em face da pendência na Justiça relativa à Convenção Nacional, e também porque existe uma ação ordinária ainda em andamento. Então, eu não poderia dizer em cumprir essa parte da decisão. As outras partes, recredenciamento e as prévias, serão feitas. Então, qual é o acordo a ser cumprido: a saída do governo (com a entrega de cargos) e a candidatura própria? Sem dúvida alguma, a decisão da convenção foi nessa direção. Todo o trabalho está sendo feito nesse rumo. O ingresso de Anthony Garotinho no PMDB fortaleceu o partido? Ele é um dos principais presidenciáveis? Fortaleceu, sim. Ele trouxe consigo um grande número de deputados federais, estaduais e prefeitos do Rio de Janeiro, de modo que fortaleceu o partido. E ele é uma das hipóteses de candidatura própria do PMDB, não tenha dúvida disso. Ao lado, naturalmente, de outros que possam oferecer-se, como os governadores Rigotto (Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul), Requião (Roberto Requião, do Paraná) e Roriz (Joaquim Roriz, do Distrito Federal). E quando o partido pretende fechar questão sobre a candidatura presidencial? Houve uma decisão de convenção. É evidente que outra decisão de convenção pode modificar a anterior. Mas, até para modificá-la, é necessária a votação de dois terços dos membros da nova convenção. A próxima convenção oficial, legalmente estabelecida, é a de junho de 2006. Acho que essa convenção deverá ratificar o que já decidiu a anterior. Mas, enfim, estamos ainda distantes de junho de 2006. “Na área macroeconômica, o governo vai indo bem. Qual a avaliação do governo Lula nesses dois primeiros anos de governo? Na área macroeconômica, o governo vai indo bem. Não permitiu o retorno da inflação, deu seqüência a um plano (econômico) anteriormente estabelecido, o que é uma coisa até inteligente. Porque, no geral, os governos assumem e querem destruir tudo o que o governo anterior fez. E acho que nesse sentido o governo Lula procedeu bem. É claro que há muitas angústias sociais que ainda não foram solucionadas. O senhor acha que os programas sociais, como Bolsa-Família e Fome Zero, não têm solucionado essas carências e angústias sociais? Eles atuam num sentido assistencialista, o que ainda é necessário. O que nós precisamos, entretanto, é de uma postura mais ativa. Quer dizer, algo que gere crescimento, desenvolvimento e, portanto, emprego. Nada dignifica mais a pessoa do que ganhar o seu sustento por um trabalho efetivamente prestado, e não por força, digamos assim, da caridade do poder público. “O que é que o PMDB vai fazer? Os projetos que Recentemente o senhor esteve com o presidente Lula. E teve tratativas sobre o eventual apoio do PMDB para a governabilidade do país. Qual é, afinal, o papel do PMDB junto ao governo Lula? Eu acho que é apoiar a chamada governabilidade. Nós temos que apoiar os projetos do governo que sejam úteis para o país, até porque a concepção que as pessoas têm de oposição é uma concepção equivocada. A idéia é que, se o sujeito perdeu a eleição, ele necessariamente têm de atrapalhar o governo. E não é assim. Mesmo os partidos que estão na oposição ou numa linha de independência existem para ajudar a governar. Quando fazem críticas, é para ajudar a governar. O que é que o PMDB vai fazer? Os projetos que forem interessantes para o país terão o apoio do PMDB, e o conteúdo da minha conversa com o presidente Lula foi exatamente nesse sentido. O presidente está desejoso de ter esse apoio do PMDB, que é, como você sabe, um partido numericamente forte tanto na Câmara quanto no Senado. Isso independentemente da questão da candidatura própria. É uma coisa que, enfim, é direito do partido, o que não significa que vamos atrapalhar o governo. “Aliás, o presidente Lula foi até claro. Ele me disse: O governo não manobra com o fato de haver vários interlocutores dentro do PMDB, sem um discurso único, o que permite que ele negocie a varejo votações de seu interesse? Isso é ruim para o partido. Agora, é legítimo que o governo pretenda ter o apoio do PMDB no ano que vem. Aliás, o presidente Lula foi até claro. Ele me disse: “Se eu disser a você que não quero o apoio do PMDB em 2006, eu não serei verdadeiro. Claro que eu gostaria de ter esse apoio, embora reconheça que o PMDB terá uma posição própria, decidiu em convenção ter uma candidatura própria, mas, se eu puder trabalhar para ter uma aliança, eu gostaria muito de ter essa aliança com o partido”. A liderança da bancada do PMDB na Câmara já superou as divergências do início do ano com a disputa entre os deputados Saraiva Felipe (MG) e José Borba (PR)? Ainda há uma disputa. Você sabe que o Saraiva Felipe ainda está na disputa da liderança. Eu até tenho proposto, como presidente do partido, que o deputado José Borba convoque uma reunião da bancada e democraticamente se eleja o líder. Pode ser ele, pode ser o Saraiva, enfim, quem se apresentar como candidato poderá ser escolhido líder. Pacificaria as questões internas na Câmara dos Deputados. Eu acho que vamos acabar conseguindo essa escolha da bancada.
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