Na campanha que faz pela reeleição, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), mira na sucessão ao governo da Bahia em 2018. Ele e quase todos os adversários já dão como certa sua vitória no pleito de outubro na cidade com 1,9 milhão de eleitores, o terceiro maior colégio eleitoral, atrás de São Paulo (8,8 milhões) e Rio de Janeiro (4,8 milhões). Sua preocupação é conseguir se eleger logo no primeiro turno com uma expressiva votação, com o objetivo de engordar ainda mais seu capital político.
Com habilidade, Neto costurou agora uma aliança mais ampla que a conseguida no auge do poder do seu avô, o senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães, falecido em 2007. O velho ACM – que no início da carreira, ainda durante a ditadura militar, também foi prefeito (biônico) de Salvador – formou um grupo forte, mas sem a mesma expressão do que é ostentado pelo herdeiro político atualmente. Na eleição de 2012, Neto obteve mais de 700 mil votos no segundo turno, quando ampliou a aliança. Ele tem maioria na Câmara de vereadores e hoje, com o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN) – investigado por corrupção – Neto passou a ser o nome mais importante do partido.
Na campanha deste ano, Neto vai confirmar na convenção da próxima semana uma aliança com pelo menos seis partidos além do seu. Também deve conseguir apoio dos ex-comunistas do PPS. Nesse grupo está o PMDB de Geddel Vieira Lima, o hoje ministro do governo Michel Temer que ACM detestava, e os deputados tucanos Jutahy Magalhães e Antônio Imbassahy. O primeiro tinha rompido com o grupo “carlista” há quase 30 anos, quando Neto ainda era criança, e o segundo se afastou do antigo senador. Nos últimos quatro anos, Neto aproximou adversários, curou mágoas políticas e até atraiu políticos distantes do seu ideário, como os ambientalistas do Partido Verde da sua vice, Célia Sacramento.
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O prefeito tem um cardápio com cinco nomes para escolher qual deles será seu próximo vice. Já descartou Célia, mesmo considerando que a militante do movimento negro atrai votos em áreas onde a sigla ACM nunca foi benquista. Na lista de pretendentes está João Roma, um técnico pernambucano que o assessorou na liderança do DEM na Câmara. Roma é seu amigo pessoal e ex-secretário municipal, e hoje está filiado ao PRB. O PSDB oferece um nome ligado ao deputado Jutahy Junior e o PMDB indicou dois pretendentes.
Todos da lista foram secretários municipais do prefeito e deixaram os cargos para disputar o lugar de vice. Sonham administrar a terceira maior capital quando Neto deixar a prefeitura, no início de 2018, para a segunda fase da sua campanha ao governo estadual. Prático, o prefeito deve escolher um nome do PMDB, porque o partido dirigido por Geddel é maior e oferece mais tempo de TV para a campanha. Mas, pelo gosto pessoal, Neto escolheria Luiz Carreira, hoje filiado ao PV, mas um quadro formado pelo velho ACM.Para ter tantas opções e não correr qualquer risco na sua estratégia virar governador, Neto inseminou aliados em vários partidos utilizados como barriga de aluguel. Transformou Luiz Carreira em ambientalista e o filiou ao PV. Além disso, despachou o amigo João Roma para atuar no PRB, legenda dominada pelos evangélicos e “dona” do grupo TV Itapoan/Rádio Sociedade – o segundo em audiência, atrás apenas da TV Bahia, emissora do espólio de ACM e herdada por Neto. Ele inseminou até o PMDB ao filiar o ex-assessor e amigo Bruno Reis no partido.
Habilidoso, o baixinho Neto quer manter e até ampliar a atual aliança para a campanha de 2018. Nos últimos dias está tentando driblar a crise criada pelo PRB, que ameaça lançar a deputada Tia Eron (aquela amiga de Eduardo Cunha que abandonou o ex-presidente da Câmara e votou pela sua cassação no Conselho de Ética) à prefeitura de Salvador se a legenda não ficar na vice. Se ceder à chantagem, o máximo que pode acontecer com Neto é escolher o amigo João Roma, sua barriga de aluguel na legenda. Mas faz questão de manter todo o PRB na aliança de olho na campanha estadual.
Neto terá que engolir o PMDB como vice, já que Geddel virou ministro poderoso do governo Michel Temer. Mas tentará escolher seu amigo e ex-assessor Bruno Reis, também seu afilhado e resultado da barriga de aluguel peemedebista. O PDT, que terá candidatura própria à Prefeitura de Salvador, é dirigido pelo deputado Felix Mendonça Júnior, filho de Felix Mendonça, ex-parlamentar e um dos amigos mais íntimos do velho ACM. A legenda deve aderir ao prefeito após as eleições. Andrea, irmã de Felix Junior, foi vereadora da base de Neto e sua secretária de Ação Social.
Efeito colateral
Mas nem toda inseminação tentada por Neto deu certo. O prefeito ajudou a fundar o PTN na Bahia, hoje dirigido pelo deputado João Bacelar, que não vai apoiá-lo na reeleição. Dos seis vereadores da legenda eleitos na capital há quatro anos, na aliança com o prefeito, só ficaram dois após o rompimento político. Neto terá como principal adversária a deputada Alice Portugal (PCdoB), que terá apoio do PT e do atual governador baiano, Rui Costa. Outros dois nomes menos expressivos também concorrem.
O senador baiano Otto Alencar (PSD), ex-aliado de ACM, apoia Alice. Mas apesar do prestígio e votos, o parlamentar dificilmente conseguirá alavancar a frágil candidatura da deputada. Otto ainda é amigo da família do antigo senador e não se dispõe a atrapalhar Neto na sua estratégia de chegar ao governo do estado, em 2018.
Aos 36 anos e formado em Administração, Neto é workaholic. Dorme pouco, come menos ainda, se dispõe a infinitas negociações políticas e cobra muito dos assessores. Em apenas quatro meses no cargo se livrou de administrar o inacabado metrô de Salvador e abriu folga no orçamento. Com dinheiro em caixa, encheu a cidade de obras e, com muito marketing, conseguiu elevada aprovação da sua gestão.
De olho na campanha estadual, uma vez por semana ele abre a agenda para receber outros prefeitos amigos do interior para visitas de cortesia, com direito e fotos. Quer chegar em 2018 com um número ainda maior de aliados na capital e no interior.
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