Reportagem da Folha de S.Paulo mostra que a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), em 2014, pagou o salário de assessores pessoais do presidente Michel Temer (PMDB). Embora o peemedebista tenha registrado uma conta própria na Justiça eleitoral, a chefe de gabinete dele e o atual secretário de Comunicação da Presidência aparecem entre os auxiliares dele que foram remunerados pela “candidata Dilma Rousseff” durante a disputa eleitoral. As informações, registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contrariam a tese da defesa de Temer no processo de cassação da chapa.
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Os advogados do presidente alegam que ele não pode ser responsabilizado por eventuais irregularidades da campanha de Dilma porque suas contas eram mantidas de maneira independente. Em três processos, a chapa tucana, formada por Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP), acusa Dilma e Temer de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2014. Hoje Aloysio é líder do governo Temer no Senado e Aécio um dos principais aliados do peemedebista no Congresso.
De acordo com a reportagem de Cátia Seabra, comprovantes de depósitos e recibos apresentados ao tribunal indicam que quatro colaboradores diretos de Temer – chefe de gabinete, dois assessores de imprensa e o assessor jurídico – receberam, juntos, R$ 543 mil da campanha da petista, de julho a outubro de 2014. A chefe de gabinete, Nara de Deus vieira, recebeu R$ 164,2 mil no período. Embora apareça como responsável pela abertura e movimentação da conta presidencial de Temer, Nara teve seu salário de R$ 41 mil bancado pela campanha de Dilma.
Dois assessores de imprensa – Bernardo Gustavo e Márcio de Freitas Gomes, atual secretário de Comunicação de Temer – receberam salário de R$ 27,3 mil da conta da petista. Ou R$ 109 mil cada entre julho e outubro de 2014. Hercules Fajoses, na época assessor jurídico do então vice, recebeu R$ 160 mil como consultor da campanha da ex-presidente.
Fajoses, até junho de 2015, foi advogado de Temer no TSE nas ações que propõem a impugnação da chapa com Dilma. Em junho de 2015, ele foi nomeado pela presidente como desembargador no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Com isso, o advogado Gustavo Bonini Guedes assumiu a defesa de Temer. Em abril deste ano, Bonini entrou com uma petição no TSE solicitando a “separação das responsabilidades entre titular e vice, o que é perfeitamente possível no caso, diante da movimentação distinta de recursos”.
Em maio, o vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, se manifestou contra o pedido de Temer, afirmando que os atos do titular repercutem na situação do vice. O secretário Márcio de Freitas afirmou à Folha que “a estratégia da defesa [de Michel Temer] sempre foi baseada na separação da arrecadação, não na separação dos gastos”. “Se todos, absolutamente todos, que receberam da campanha, mesmo sem ter conhecimento de como era feita a arrecadação, cometeram crimes, só o TSE pode esclarecer”, alegou. O julgamento da chapa pelo TSE deve ocorrer ainda no primeiro trimestre de 2017.
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