Principal algoz do ministro da Fazenda, o ex-secretário de governo da prefeitura de Ribeirão Preto Rogério Buratti afirmou ontem que nunca viu Antonio Palocci participar, na casa alugada por ex-assessores em Brasília, de reuniões de negócios. E negou que tenham ocorrido lá encontros para divisão de dinheiro de origem ilegal, como suspeita a CPI dos Bingos.
“Eu nunca vou dizer quem esteve ou não na casa por uma questão que pega mais pelo lado moral que pelo conjunto da obra. Mas, que eu tenha visto, ele (Palocci) não foi lá. E não houve divisão de dinheiro, até o ponto que eu conheci”, disse Buratti ao jornal Estado de Minas.
Na entrevista, Buratti contradiz o caseiro Francenildo dos Santos Costa, que afirmou ter visto o ministro Palocci “10 ou 20 vezes na casa” e malas de dinheiro no local. De acordo com o advogado, a idéia de alugar uma casa surgiu da direção da Leão Leão e da REK – ambas empresas de limpeza urbana que atuaram em Ribeirão Preto – para “congregar empresários” da cidade na busca de novos negócios. “A Leão Leão e a REK não tinham atividade forte em Brasília. Imaginávamos que poderíamos participar mais”, justificou.
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Do ponto de vista econômico, a alternativa não trouxe grandes resultados, segundo ele. Apesar disso, contou que chegou a freqüentar a segunda casa alugada em Brasília, no Lago Sul, pelos também ex-assessores do ministro, Wladimir Poletto e Ralf Barquete, integrantes da chamada “república de Ribeirão”. Os objetivos eram levantar negócios nas áreas de agropecuária, informática e saneamento básico.
Em matéria publicada neste fim de semana pela revista Veja, Buratti conta que, em outubro de 2003, procurou Palocci para discutir a desativação da casa porque ela acabou ficando pública demais. “O ministro concordou que a casa tinha se transformado em uma coisa perigosa”, disse.
Os negócios tramados na mansão sempre se cruzavam com o Ministério da Fazenda, segundo ele. Uma das propostas feitas à turma da casa teria sido intermediar o fim da intervenção no Banco Mercantil de Pernambuco. O Banco Central, responsável pelo processo, é subordinado a Palocci. Buratti diz que achou estranha a maneira como o assédio aconteceu.
“O presidente da Confederação Nacional da Indústria é filho do dono do banco, tem acesso direto ao ministro. Era evidente que a idéia embutia coisas escusas”, disse Buratti. O lobby pelo fim da intervenção acabou nas mãos do empresário Marcos Valério e do tesoureiro petista Delúbio Soares. O Banco Rural, apontado como um dos alimentadores do mensalão, é um dos controladores do Mercantil de Pernambuco.
Ainda segundo Buratti, Palocci e seus ex-assessores passaram a ser vítimas de chantagem após a desativação da casa. Pessoas que conheciam a rotina do grupo em Brasília começaram a pedir dinheiro e favores em troca do silêncio. “Tive a informação de que foram pagos R$ 100 mil a um advogado de São Paulo. Ouvi isso de pessoas muito próximas ao ministro. Não sei maiores detalhes, mas não tenho dúvida de que a história é verdadeira, até porque eu também fui chantageado.”
Assessor de Palocci em Ribeirão Preto, Buratti se tornou uma pedra no sapato do ministro no ano passado. Preso, acusado de cobrar propina, revelou que Palocci, quando era prefeito, recebia R$ 50 mil por mês de uma empresa de recolhimento de lixo, a Leão&Leão, acusada de superfaturar contratos.
Depois, afirmou que Palocci, durante a campanha de Lula, negociou uma doação clandestina com donos de bingos. Por último, contou ter levado ao ministro uma proposta de suborno feita pela multinacional GTech para renovar um contrato com a Caixa.
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