Edson Sardinha |
Os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Ideli Salvatti (PT-SC) foram acusados de incendiários quando, em fevereiro, propuseram a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar todas as denúncias de corrupção desde 1994, no lugar das CPIs do bicho e do Waldomiro, propostas pela oposição. A idéia foi recebida como uma espécie de chantagem, inclusive por parlamentares da base governista. No mesmo dia, Ideli ressuscitou o caso Lunus, remexendo em feridas ainda não cicatrizadas do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do governo no Congresso. Lunus é o nome da empresa pertencente ao marido de Roseana Sarney (PFL-MA), Jorge Murad, onde foram apreendidos R$ 1,4 milhão pela Polícia Federal, em espécie, nas eleições de 2002. Na tentativa de mostrar que outros partidos estariam envolvidos em escândalos sobre financiamento de campanha, a senadora propôs a reabertura das investigações para apurar o caso. Leia também A exibição do dinheiro espalhado sobre uma mesa levou à renúncia da candidatura de Roseana, que, então, liderava as pesquisas para a presidência da República. Mirando no PFL e no PSDB, Ideli acertou no presidente do Senado. A emenda saiu pior do que o soneto, na avaliação do próprio ministro da Casa Civil, José Dirceu. “Nunca vi tantos erros em um só dia”, resumiu na época o ministro, sob forte bombardeio da oposição. Semana passada, Ideli submeteu o Palácio do Planalto a novo constrangimento quando perguntou ao líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), se poderia contar com o voto dele em plenário, diante da debandada dos aliados. Testemunhada por oposicionistas, a “brincadeira” foi um prato cheio para tucanos e pefelistas, que subiram à tribuna para denunciar a falta de entrosamento dos governistas no Senado. Não é a primeira vez que o “humor” de Ideli causa estranheza entre os colegas. Ano passado, ao rebater as críticas do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM),à então ministra da Assistência Social, Benedita da Silva, ela insinuou que o tucano teria utilizado dinheiro público nas comemorações do Carnaval carioca em 2002. Segundo ela, Virgílio não teria moral para recriminar o suposto uso de verba oficial por parte de Benedita em viagem pessoal a Argentina. O senador, que era secretário-geral da Presidência na ocasião da suposta irregularidade, apresentou documentos comprovando que havia utilizado recursos próprios durante a festa. Coube a Mercadante interceder em favor do tucano e cobrar de Ideli, então vice-líder do PT, um pedido público de desculpas ao líder do PSDB. “Nós não podemos caminhar na direção de agredir o interlocutor. A honra do senador Arthur Virgílio nunca esteve em discussão nesta Casa”, disse o petista, tentando apagar o incêndio. No dia seguinte, a senadora subiu à tribuna, desculpou-se e classificou a afirmação do dia anterior como uma simples brincadeira. Virgílio aceitou as desculpas, mas não achou graça. “Com o tempo as pessoas vão conhecendo melhor o terreno onde pisam. E o meu é movediço”, alertou o oposicionista. Ideli foi uma das principais defensoras da expulsão da senadora Heloísa Helena (sem partido-AL) do PT. Separadas por poucas cadeiras, na mesma fileira, as duas evitam até a troca de olhares. A catarinense apelidou a alagoana de “senatriz”, numa referência à suposta teatralidade do choro derramado por Heloísa Helena em plenário ao discursar contra a reforma da Previdência no final do ano passado. Irritada, a ex-petista retrucou de imediato, insinuando que Ideli não passaria de uma “porquinha treinada para cantar”. Dias antes, a senadora catarinense havia protagonizado um episódio inusitado em plenário ao trocar o discurso por uma série de clássicos sambistas, em homenagem ao Dia do Samba. O senador José Jorge (PFL-PE), vice-líder do partido no Senado, considera que a líder petista vai ter muito trabalho daqui para a frente. “A derrota da MP dos bingos é só a primeira de uma série de derrotas que o governo deve sofrer. Os líderes governistas terão uma prova de fogo a partir de agora”, disse. A senadora tem até o final do ano, quando expira a sua permanência na liderança, para mostrar ao governo que não é líder de uma nota só. |
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