João Baptista Herkenhoff (*)
O admirável papa Francisco instituiu 2016 como o Ano Jubilar da Misericórdia. O tempo de Natal é muito apropriado para refletir sobre o tema.
A iniciativa de Francisco tem pertinência com o mundo contemporâneo? Creio que sim.
As guerras entre países, as lutas fratricidas dentro de um mesmo país, os anátemas contra os divergentes, a intolerância política, religiosa, racial – todos esses fatos demonstram que nosso tempo está carente de misericórdia.
Somente o toque da graça de Deus no coração humano poderá impedir que o Caim de hoje continui a matar o irmão Abel. Somente quando todos os homens entenderem que somos filhos de um mesmo pai e, portanto, todos irmãos, é que poderá haver paz e harmonia. Somente quando a luz da fé brilhar no coração humano é que poderemos criar um mundo onde o homem não precise mais implorar por seus direitos humanos.
Vejo muita intolerância no Brasil de hoje. Não se respeitam as divergências políticas, que são absolutamente legítimas num sistema democrático.
Quem está a favor de Lula ou Dilma é bandido para quem está contra. Quem está contra Lula ou Dilma é inimigo da pátria, na ótica de quem está a favor desses líderes.
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Em síntese: todos se consideram donos da verdade. A minha verdade deve ser a verdade geral. Quem não pensa, como eu penso, está errado. No inconsciente de muitos vive uma ideia que, por medo, deixa de ser expressada: morte aos divergentes ou, pelo menos, cassação da palavra aos divergentes.
Parece-me que se faz necessário estabelecer, no Brasil de hoje, uma grande corrente em favor da complacência, da transigência.
Isto não significa abrir mão de princípios, nem abdicar da luta em busca da concretização de nossas opções políticas ou ideológicas. Apenas ter consciência de algo muito simples: não sou dono da verdade, não sou um deus, não sou iluminado. Sou apenas um ser humano.
(*) Magistrado aposentado (ES), professor e escritor. Acaba de publicar: A fé e os direitos humanos (Porto de Ideias Editora, São Paulo)
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