Antonio Vital*
O investimento em ciência e tecnologia é apontado por especialistas como um dos segredos do crescimento e desenvolvimento dos países ricos. Mas será que o Brasil está seguindo esta receita? E qual a real relação entre desenvolvimento científico e crescimento econômico? O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Machado Rezende, aceitou debater essas questões com dois deputados da oposição e o representante da Unesco no Brasil no programa Expressão Nacional, da TV Câmara. E o que aconteceu foi uma discussão em que o embate político foi substituído por uma análise que concluiu, grosso modo, o seguinte: há deficiências mas também motivos para otimismo.
O ministro debateu o tema com os deputados Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) e Eduardo Sciarra (DEM-PR). Também participou o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny. Rezende explicou o plano de ação do ministério para os próximos três anos.
Serão R$ 40 bilhões em investimentos até 2010. A meta é formar 16 mil doutores neste período e fazer com que a iniciativa privada aumente seu investimento atual, que é de 0,7% do faturamento, para 1,2% em pesquisas.
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Aumentar a participação das empresas neste processo é uma preocupação de todos. Hoje, 70% dos cientistas em atividade no Brasil estão concentrados em instituições acadêmicas. Apenas 10% dos pesquisadores estão no setor privado. Como a participação estatal no processo é predominante, Nárcio Rodrigues manifestou o temor de contingencimento dos recursos prometidos, o que inviabilizaria o tal "PAC" – uma referência ao Plano de Aceleração do Crescimento do governo, que acabou batizando estratégias de outras áreas. Rezende descartou a possibilidade de corte dos recursos e admitiu algumas fragilidades históricas do Brasil na área.
O Brasil investe 1,4% do seu PIB em ciência e tecnologia. Isso é cinco vezes menos do que investem os países desenvolvidos. Estamos atrás, por exemplo, de todos os outros BRICs – sigla que virou sinônimo dos países emergentes ao reunir no mesmo conceito o Brasil, a Rússia, a Índia e a China. Sem contar as distorções regionais.
Dos 219 melhores programas de pós-graduação, 78% estão no Sudeste. São Paulo concentra a maior parte, 108 (49%). Depois, vêm Rio (19,6%) e Rio Grande do Sul (10,5%). E, do total de 2.266 mestrados e doutorados do país, apenas 10% têm nível, digamos, europeu. Para Vincent Defourny, da Unesco, tão importante quanto investir na área é criar uma cultura de ciência nos estudantes, desde a infância. "A ciência passa pelo ensino da ciência", disse.
Os motivos para otimismo são vários. A Vale do Rio Doce, por exemplo, está investindo R$ 200 milhões em um centro de pesquisa. Os recursos estatais também vêm aumentando. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) terá orçamento recorde de R$ 2,8 bilhões em 2008 – contra R$ 1,4 bilhão no ano passado. Além disso, o Brasil ocupa hoje a 15ª posição no ranking mundial de trabalhos científicos publicados em revistas especializadas. O país subiu duas posições na lista, ultrapassando a Suécia e a Suíça.
O outro lado é que essas pesquisas ainda não se refletem nas inovações tecnológicas. Enquanto os pesquisadores brasileiros são responsáveis por 1,7% das publicações científicas no mundo, as patentes depositadas aqui somam apenas 0,2% dos depósitos mundiais.
Em 1990, o Escritório de Patentes dos EUA concedeu 41 desses privilégios ao Brasil e, para citar outro país em desenvolvimento, 225 à Coréia do Sul. Em 2004, foram respectivamente 192 e 4.590. Para nos igualar aos países desenvolvidos, teríamos ainda que ter 500 mil pesquisadores, e não os atuais 60 mil. "Sem contar a exclusão digital, já que hoje apenas 25% da população têm acesso à internet", disse Sciarra.
Apesar do otimismo generalizado em relação ao futuro, Sérgio Machado Rezende não teve dúvidas ao responder a uma pergunta a respeito de quando, finalmente, o Brasil vai ganhar um prêmio Nobel em ciência e tecnologia. "Isso é impossível de prever", disse.
O programa sobre ciência e tecnologia será reprisado sexta-feira (09), às 4h e 11h30; sábado (10), às 12h; domingo (11), às 9h30; e segunda (12), às 6h.
Próximo programa
Na próxima terça-feira (13), ao vivo, às 22h, o Expressão Nacional será sobre a defesa nacional. O Brasil precisa investir mais nas Forças Armadas? Os telespectadores podem enviar perguntas ou sugestões pelo e-mail expressaonacional@camara.gov.br ou então pelo telefone gratuito 0800 619 619. Basta indicar quem quer que responda a pergunta. Se estiver havendo sessão do Plenário da Câmara, o programa é transmitido ao vivo na internet (www.camara.gov.br/tv).
* Antonio Vital é apresentador do programa Expressão Nacional, da TV Câmara.
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