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O registro da ida do bicheiro aliado do chefe da “organização criminosa” desbaratada faz parte de um inquérito que apura a responsabilidade pelo vazamento da Operação. A visita aconteceu em meio a várias conversas entre Queiroga, Cachoeira e sua quadrilha em que eles demonstram já conhecerem detalhes da Operação em curso: nome da investigação, vara onde corria o inquérito, nome do juiz responsável e relatórios sobre o ex-senador Demóstenes Torres. Num dos diálogos, de cinco dias antes, o bando diz aguardar nova ida de Queiroga até a cidade de Goiânia, para buscar mais informações.
Porém, para os investigadores, não houve prejuízo à ação da PF e do Ministério Público, que conseguiu efetuar as prisões em 29 de fevereiro. Esse é o principal argumento do juiz Leão Aparecido para argumentar que ele não repassou nenhuma informação sigilosa à quadrilha. Mas, como mostrou o Congresso em Foco, os responsáveis pela investigação dizem que ela só não acabou desbaratada porque Cachoeira não acreditou no relato de Queiroga. Investigadores ouvidos pelo site avaliam que o sucesso da operação acabou sendo uma questão de “sorte”.
PF investiga vazamento da Operação Monte Carlo
Tudo sobre o caso Cachoeira.
Leia outros destaques de hoje no Congresso em Foco
PublicidadeA mulher do magistrado, Maria do Carmo Alves, já foi ouvida pela polícia, quando negou ter repassado informações a Queiroga. Em nota, o juiz nega qualquer responsabilidade tanto sua quanto de sua mulher nos vazamentos.
Mulher “da Justiça”
Apesar da vigilância e da constatação da visita no dia 7 de fevereiro, investigadores ouvidos pelo site disseram que, ao menos por enquanto, não encontraram provas da participação do juiz na revelação das informações. Um deles argumentou que, se a apuração revelasse indícios, a essa altura o material que poderia comprometer Leão já estaria no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, onde o magistrado poderia ser investigado, porque tem direito a foro privilegiado.
Mas falta ainda a tomada de depoimentos para complementar a investigação da PF. Ainda não foram ouvidos, por exemplo, todos os funcionários da Justiça Federal. Em um dos grampos, revelados pelo Congresso em Foco, Cachoeira disse que Olímpio Queiroga lhe revelou que sua fonte era uma mulher “da Justiça”.
Como mostrou este site, em 2 de fevereiro, às 22h17, Cachoeira fala com o ex-sargento Idalberto “Dadá” Matias sobre a insatisfação com as informações trazidas por Queiroga. Ao final da conversa, Dadá diz que é melhor esperar o aliado ir a Goiânia novamente buscar mais dados. Cinco dias depois, em 7 de fevereiro, a PF registra os passos dele Queiroga até a casa do juiz Leão Aparecido Alves. Mas o magistrado não estava lá.
Aviso
Em janeiro e parte de fevereiro, Leão esteve em Brasília auxiliando magistrados da capital. Numa conversa grampeada no mesmo dia 7 de fevereiro, Cachoeira diz a um interlocutor que o juiz Leão voltará dia 14 e, assim, poderia ajudar a confirmar algum problema para o grupo. “Dia 14, o Leão assume a Vara, e ele ficou de avisar se vai ter prisão ou não”, afirmou o bicheiro.
Mas o juiz afirma que, como houve as prisões, é fato que ele não avisou a quadrilha da Operação Monte Carlo. “Se eles foram presos, significa que ela [a pessoa acusada, o juiz] não avisou”, disse o magistrado na nota.
“Além disso, em depoimento à Polícia Federal, minha esposa negou que tivesse prometido informações a José Olímpio. Esse fato foi confirmado por José Olímpio em declaração entregue à autoridade policial federal”, continua o juiz.
Legal ou ilegal?
Paralelamente à investigação criminal, o TRF faz uma apuração administrativa sobre o caso, solicitada pelo próprio Leão. Entretanto, o objetivo da Corregedoria do tribunal não é saber se o juiz da 11ª Vara vazou ou não a Monte Carlo. As conclusões se voltarão apenas para o fato de Leão ter sido ou não investigado ilegalmente pela PF.
A investigação da Corregedoria deveria terminar dias atrás, mas ainda prossegue. O corregedor, desembargador Carlos Olavo Pacheco, é quem vai apresentar o relatório sobre o caso.
Rádio Nextel
Leão disse em nota que, se houvesse vazamento por parte de algum funcionário da Justiça, a quadrilha do bicheiro saberia que seus rádios Nextel não eram à prova de grampos, como imaginavam. Porém, um diálogo mostra que Cachoeira já tinha essa desconfiança. Em 14 de fevereiro, ele conversa com o delegado Fernando Byron e pergunta se ele já tinha resposta sobre uma consulta que fizera sobre a possibilidade de grampo nos Nextel.
“Aquele negócio lá de Brasília vocês… eles não devolveram a resposta, não?”, pergunta Cachoeira. “Com relação àquele negócio do rádio, não. Mas eu tô achando que eles vão demorar pra responder”, explica Byron, que fica de obter mais esclarecimentos na PF. A Polícia resumiu o diálogo como “Carlos questiona sobre a possibilidade de monitoramento dos rádios”.
Celular do filho
Leão já informou que os registros telefônicos de sua esposa foram quebrados. As contas mostram ligações para linhas telefônicas em nome de parentes de Carlinhos Cachoeira. Mas Leão afirmou que se trata de um engano já que o seu filho é amigo de um filho de Cachoeira, ambos estudando juntos na mesma sala de aula há cinco anos.
“Em não raras ocasiões”, o filho de Cachoeira emprestou o celular para o filho do juiz falar com Maria do Carmo. Leão disse que não há registros de conversas entre ele e Olímpio Queiroga, de quem é amigo. Afirmou que Maria do Carmo telefonou várias vezes para a irmã de Queiroga, madrinha de batismo do filho do casal.
Em férias
Procurado, Leão não respondeu às perguntas enviadas por escrito para o correio eletrônico de seu gabinete. Ele não foi localizado pela reportagem, pela sua assessoria e pelo setor de comunicação da Justiça Federal em Goiás. De acordo com seus auxiliares, Leão está em férias. Desde o dia 5 de julho, eles dizem não conseguir localizar o magistrado.
Assessores do juiz disseram que ele é uma pessoa “íntegra” e que não está fugindo dos esclarecimentos. Lembraram ainda da nota divulgada por Leão em que detalhou sua versão para o caso.
O advogado de Queiroga, Edson Marauí, disse que não comentaria o caso. O advogado de Carlinhos Cachoeira, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, afirmou ao site que responderia às questões na semana passada. Mas os esclarecimentos não foram prestados até o fechamento da edição.
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