O diagnóstico da crise pode variar, mas em um ponto governistas e oposicionistas concordam: 2015 será um ano de muita turbulência política e econômica. Reeleita para o seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) começa o novo mandato atolada em problemas herdados de sua primeira gestão que tendem a se agravar. Há motivos de sobra para alimentar a crise: economia estagnada, perspectiva de recessão, indústrias anunciando o fechamento de postos de trabalho e queda na produção industrial.
Para completar, o Congresso Nacional começa nova legislatura sob a expectativa da abertura de investigações e das primeiras denúncias contra parlamentares citados na Operação Lava Jato. Essas denúncias podem precipitar a instauração de processos de cassação e paralisar os trabalhos legislativos da Câmara e do Senado. Por tudo isso, na avaliação de lideranças governistas e oposicionistas ouvidas pelo Congresso em Foco, a petista não terá a tradicional trégua com o Parlamento, que caracteriza o início dos governos no Brasil.
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Dilma venceu a eleição por pequena diferença de votos, numa disputa polarizada com o candidato Aécio Neves (PSDB), o que deu novo fôlego à oposição. Diversos fatores fortaleceram os oposicionistas, como a crise econômica e os escândalos políticos, sobretudo os revelados pela Operação Lava Jato, envolvendo a Petrobras.
“É uma combinação explosiva”, considera o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos principais aliados de Aécio. “Este governo já nasceu envelhecido. Não vai ter a tradicional lua de mel de início de governo”, prevê o deputado, que é presidente do PSDB em Minas.
Um dos principais críticos do governo petista, o líder da oposição na Câmara, Ronaldo Caiado (DEM-GO), acredita que a população sentirá na pele os efeitos das crises política e econômica.
“Jamais existiu um presidente da República com tanto desgaste, com tanta falta de apoio político e popular”, avalia o parlamentar, que assumirá o mandato de senador em 1º de fevereiro e reforçará a bancada oposicionista no Senado. “É um momento extremamente difícil. Infelizmente, a população brasileira vai sofrer, vai ver o aperto da recessão”, acrescenta.
Na avaliação de Marcus Pestana, Dilma começará o segundo mandato “com menos cacife do que outros governantes” para liderar projetos importantes para o país. Aumento de preços e de juros, lembra ele, atinge todos os setores da economia, inclusive os investimentos, que vão ser postergados até que o governo defina o rumo para o país.
“Os primeiros meses serão marcados por muitas tensões, muitos conflitos”, diz o deputado Chico Alencar (Psol-RJ). Para ele, a política econômica ortodoxa, que deve ser adotada pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), vai resultar em desemprego, agravando os conflitos sociais.
No Congresso, segundo ele, todas as atenções estarão voltadas para o Conselho de Ética, encarregado de analisar os processos de cassação de parlamentares suspeitos de envolvimento em irregularidades. “Essa pauta vai ser dominante”, afirma. Para Chico Alencar, o primeiro semestre de 2015 deve ser para arrumar a Casa. “Vai ser difícil fazer outra coisa”, acredita.
Credibilidade fiscal
Ex-líder dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) acredita que a nova gestão terá como prioridade resgatar a credibilidade na economia. “O governo está ajustando a proposta econômica. Isso é fundamental. O governo está redefinindo os parâmetros da economia em busca da credibilidade fiscal, da credibilidade econômica”, observa.
Para que a economia cresça, Jucá sugere o lançamento de um amplo programa de concessões, mas lembra que “o ritmo da reação da economia dependerá do ritmo do crescimento da credibilidade do governo”.
Vice-líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (SP) acredita que, embora o momento seja de turbulência, Dilma tem todas as condições de superar a crise política e econômica.
“A presidente Dilma vem com medidas fortes na área tributária e de combate à corrupção”, diz o deputado. Na avaliação do petista, Dilma fará o ajuste fiscal sem comprometer o crescimento econômico, o emprego e os salários.
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