O ex-agente do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento negou na noite desta quarta-feira (17), em depoimento à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência, que tenha participado de “qualquer atividade de coordenação de grampos telefônicos”.
“Nego qualquer participação em escutas legais ou ilegais. Não tenho formação técnica para fazer esse trabalho”, afirmou Ambrósio. Para um plenário esvaziado, o ex-agente depôs durante cerca de uma hora.
Em seu depoimento inicial, Ambrósio discorreu sobre sua trajetória que, segundo ele, nunca teve passagem pela Polícia Federal (PF). Ele explicou que foi contratado como “colaborador eventual” pelo delegado federal Protógenes Queiroz (coordenador da Operação Satiagraha), por indicação de “um amigo”, para realizar "serviços burocráticos" de separação de e-mails e documentos. "Não fui designado para trabalhar na operação pela Abin [Agência Nacional de Inteligência]. Jamais fui braço-direito de Protógenes”, destacou.
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Entrada clandestina
Aposentado desde 1998, Ambrósio afirma que esta foi a primeira e única prestação de serviço que realizou desde sua aposentadoria. Ele teria sido contratado em meados de fevereiro e dispensado no dia 8 de julho, data de início da Operação Satiagraha. De acordo com reportagem da IstoÉ, Ambrósio teria coordenado, na PF, escutas telefônicas contra congressistas, ministros e jornalistas. “Sai no dia 8 de julho. O grampo na conversa de Gilmar Mendes [presidente do STF] foi no dia 15. Eu já estava afastado da operação”, declarou.
Ambrósio negou também que suas entradas nas terminações da PF eram clandestinas ou por meio de uso de identidade falsa, como divulgado na reportagem da revista. Segundo o ex-agente da SNI, todos os dias ao chegar à sede da PF, em Brasília, ele se identificava na portaria e subia ao 5ª andar, local onde trabalha o diretor de Inteligência da PF, delegado Daniel Lorenz. “Todos os dias eu chegava às 8h da manhã e eu já encontrava o computador ligado”, disse para explicar como ingressava em um local sigiloso já que não tinha senha.
Apoio
A Operação Satiagraha culminou na prisão do banqueiro Daniel Dantas no início de julho deste ano. Além de Dantas, também foram presos o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Os três são acusados de participação em um bilionário esquema de crimes financeiros.
Em relação à falta de apoio da PF para a operação, alegada pelo delegado Protógenes que teria utilizado isso como desculpa para pedir apoio à Abin, Ambrósio afirma que não ter conhecimento se recursos e materiais foram negados ou não por parte da direção. “Mas sei que havia falta de material lá”, declarou.
Sobre a reportagem da IstoÉ, Ambrósio afirma que “absolutamente aquilo não condiz com a verdade”. “Faltou um certo aprofundamento por parte da reportagem. Se tivesse procurado outras fontes, iria saber que minha formação não é essa”, disse o ex-agente se referindo a atividade de realizar escutas telefônicas. (Renata Camargo)
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