Soraia Costa
Para reduzir a corrupção no Brasil, "primeiro, é preciso mudar de governo", disse ao Congresso em Foco o candidato do PSDB à Presidência da República, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. "Nunca na história deste país, como gosta de dizer o presidente Lula, cinco ministros foram denunciados ou indiciados por envolvimento em escândalos de corrupção", completou ele.
Logo no início da campanha de primeiro turno, o Congresso em Foco solicitou uma entrevista exclusiva com Alckmin, repetindo um procedimento adotado em relação a todos os presidenciáveis (clique aqui para acessar as demais entrevistas). A assessoria do candidato sugeriu que fossem enviadas perguntas por e-mail, comprometendo-se a submetê-las ao tucano. Somente ontem (quinta, 26), recebemos as respostas.
Confiante, o ex-governador minimiza o significado das pesquisas que apontam o franco favoritismo de Lula. "Obtive, no primeiro turno, quase 40 milhões de votos, apesar de as pesquisas indicarem que eu não iria nem para o segundo turno. Sou um candidato de chegada", afirma, para logo depois acrescentar que "o eleitor é inteligente e sabe escolher e comparar" e a eleição deixará "claro quem está melhor preparado para governar o Brasil".
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Questionado sobre as diferenças que um eventual governo Alckmin teria em relação à administração Fernando Henrique, o candidato respondeu: "O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso teve um papel importante na história do Brasil. Foi o governo do Plano Real, do controle da inflação, condição básica para a retomada do crescimento econômico. A minha geração não sabia o que era estabilidade da moeda. O meu governo será o do crescimento econômico, da geração de emprego, trabalho e renda".
Alckmin também defende uma reforma política imediata, mas feita "por etapas". Ela deve começar, na sua opinião, pela instituição da fidelidade partidária e do voto distrital. No primeiro caso, o objetivo seria impedir a troca de partido de políticos eleitos. No outro, os partidos conquistariam o direito de definir uma lista dos candidatos às eleições parlamentares para cada região. Ao trator do tema, o tucano aproveita para se dedicar ao seu esporte favorito: bater na administração petista. "O governo Lula quer convencer o eleitorado que a origem dos escândalos de corrupção é o atual sistema político. A corrupção na gestão petista vem da frouxidão moral do governo", ataca.
Político precoce, eleito vereador de sua cidade natal (Pindamonhagaba, SP) aos 19 anos, Geraldo Alckmin acumula mais de três décadas de vida pública. Além de governar São Paulo durante cinco anos (de 2001 a 2006), foi prefeito de Pindamonhagaba, deputado estadual e federal. Médico formado pela Universidade de Taubaté (SP), com especialização em Anestesiologia, ele completará 54 anos no próximo dia 7.
Veja abaixo a íntegra da entrevista de Alckmin.
Como o senhor pretende reverter o atual quadro eleitoral, favorável à reeleição de Lula?
Obtive, no primeiro turno, quase 40 milhões de votos, apesar de as pesquisas indicarem que eu não iria nem para o segundo turno. Sou um candidato de chegada. E o fato é que minha candidatura só fez crescer desde que começou. Vamos continuar mostrando para o eleitor que temos a melhor proposta e o melhor time para tirar o Brasil do marasmo, para acabar com a corrupção. O eleitor é inteligente e sabe escolher e comparar. No segundo turno, ficará cada vez mais claro quem está melhor preparado para governar o Brasil pelos próximos quatro anos.
Se eleito, qual será sua primeira atitude à frente do governo? Quais são suas prioridades?
O Brasil tem pressa. Precisa voltar a crescer mais rapidamente para gerar mais empregos, mais renda e mais trabalho. Isso é o que a população quer e é o que nós vamos fazer desde o primeiro dia de governo. Vamos criar as condições para que os investimentos cresçam. Na próxima década, a economia brasileira precisa crescer, em média, 5% ao ano para absorver os jovens que ingressam anualmente no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, os atuais desempregados. O combate à corrupção e ao desperdício de dinheiro público também será iniciado no primeiro dia de governo.
O que o senhor propõe para promover o crescimento econômico do país?
O Brasil não cresce porque não investe. A carga tributária atual e a insegurança jurídica retiram da iniciativa privada a capacidade e o incentivo para investir. Os investimentos públicos definham e os privados ficam bem abaixo do potencial. É possível mudar essa situação, viabilizar a elevação paulatina de investimentos públicos e principalmente o rápido crescimento dos investimentos privados. Em relação aos investimentos privados, duas sinalizações são essenciais: uma política econômica favorável ao crescimento, com juros baixos, redução paulatina de impostos e financiamento dos bancos oficiais alinhados a esse objetivo; de outro lado, o restabelecimento de marcos regulatórios apropriados e da segurança jurídica necessária para que o investidor, brasileiro ou estrangeiro, tome suas decisões com tranqüilidade. Em relação ao setor público, é indispensável redirecionar os gastos públicos para privilegiar os investimentos e reduzir o peso dos impostos. Faremos uma política fiscal rigorosa que aumente a eficiência dos gastos e reduza o desperdício.
Qual sua opinião sobre a proposta de Imposto Único Federal? Como o senhor pretende reduzir a carga tributária brasileira?
Sou a favor da unificação do ICMS e da redução do número de alíquotas desse imposto estadual. Em São Paulo, reduzimos o ICMS de mais de 200 produtos. No governo federal, vamos trabalhar para reduzir a carga tributária. A diminuição do peso dos impostos na economia passa, necessariamente, por um controle dos gastos públicos. Vamos acabar com o desperdício de dinheiro e cortar gastos supérfluos. Além de reduzir a carga tributária, um governo eficiente precisa ampliar os investimentos nas áreas realmente prioritárias para o desenvolvimento, como saúde, educação e infra-estrutura.
Sua intenção é continuar a privatização iniciada no governo Fernando Henrique?
Por desespero, com medo da derrota, o presidente Lula e seus companheiros iniciaram uma campanha do terrorismo contra a minha candidatura. Espalham rumores de que vou privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa. Mentira. No meu programa de governo, não há uma linha sobre privatizações. Ao contrário, nós vamos valorizar as empresas estatais, que podem contribuir para o crescimento do país.
O que o senhor pretende fazer em relação ao funcionalismo público?
Vamos valorizar o funcionalismo público, investindo nas carreiras de Estado e acabando com o aparelhamento do Estado.
Em que o governo do senhor seria diferente do que foi o do ex-presidente Fernando Henrique?
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso teve um papel importante na história do Brasil. Foi o governo do Plano Real, do controle da inflação, condição básica para a retomada do crescimento econômico. A minha geração não sabia o que era estabilidade da moeda. O meu governo será o do crescimento econômico, da geração de emprego, trabalho e renda. O Brasil não pode ser condenado ao último lugar da fila do crescimento econômico mundial. É inaceitável que o país, em dois anos, tenha superado apenas o Haiti em termos de crescimento em toda a América Latina e Caribe. Este ano, a previsão é que os países emergentes cresçam 7,1%. O Brasil não passará de 3%. Não podemos continuar assim.
O que é preciso fazer para que a corrupção seja reduzida no país?
Primeiro, é preciso mudar de governo. Nunca na história deste país, como gosta de dizer o presidente Lula, cinco ministros foram denunciados ou indiciados por envolvimento em escândalos de corrupção. Isso sem falar nos assessores diretos de Lula e de dois presidentes do PT que também são apontados de envolvimento em esquemas de corrupção. No meu programa de governo, reservamos um capítulo específico com propostas para combater a corrupção. Vamos ampliar as compras eletrônicas para dificultar fraudes e sobrepreço nas compras públicas, como aconteceu no caso da máfia das sanguessugas. Adotamos o pregão eletrônico em São Paulo e, em três anos e meio, economizamos R$ 4 bilhões. Vamos também criar mecanismos para avaliar os resultados dos programas de governo. A ética é também ser eficiente, fazer mais com cada real do contribuinte. Além disso, vamos priorizar a atuação prévia para evitar os crimes. Atualmente, a maior parte dos trabalhos de fiscalização adotados pelos órgãos de controle se dá sobre fatos já ocorridos, quando os recursos públicos já foram desviados.
Como o senhor pretende reduzir a violência e a criminalidade?
A violência é hoje um fenômeno que atinge as principais cidades brasileiras, não se limita a um estado ou região. Por ser um problema nacional, o presidente da República precisa assumir pessoalmente a responsabilidade de enfrentar a criminalidade. Eu não serei omisso. É necessário unir o país em torno deste tema, ajudando as polícias estaduais, liberando os recursos necessários, integrando este trabalho para pôr fim ao crime organizado no Brasil. Investir em inteligência e em equipamentos modernos é essencial para enfrentar o crime organizado. Vou propor a revisão de toda a legislação, da Lei de Execução Penal e do Código Penal. A lei é muito dura com os pequenos delitos e muito leniente com o crime organizado. Já assumi também o compromisso de criar a Polícia Federal fardada para policiar as fronteiras; para combater o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Também vou promover a integração da Receita Federal e do Banco Central em ações contra a lavagem de dinheiro, que é fator de alimentação tanto do crime organizado, como da corrupção. Sem coibir o contrabando de armas, as polícias estaduais ficam enxugando gelo.
Quais são as prioridades do senhor no campo das políticas sociais? O senhor dará continuidade ao Bolsa Família ou adotará estratégias diferentes?
Já assumi o compromisso de manter e ampliar o Bolsa Família. Dado o nível de desigualdade social e pobreza do país é preciso garantir a transferência de renda. Mas é preciso ter consciência que o Bolsa Família é insuficiente para que as famílias superem a pobreza. E estimular os mais pobres a viverem de benefícios não é promover a inclusão social. É preciso garantir aos mais pobres um pacote adequado de serviços sociais e de infra-estrutura: educação, saúde, habitação, saneamento básico, água tratada e energia elétrica. A educação, não apenas a fundamental, mas também a profissionalizante, é a principal prioridade, pois permitirá que as famílias aproveitem as oportunidades que surgirão com o maior crescimento econômico.
Quais as principais metas do senhor para as áreas de educação e saúde?
Precisamos melhorar a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população, sobretudo, na área de educação e saúde. Na educação, nossa principal meta é garantir para os alunos do ensino fundamental um ensino de qualidade. Até 2008, temos o objetivo de implementar o ensino fundamental de nove anos para crianças a partir de seis anos; queremos também até 2010 universalizar a jornada escolar de cinco horas. Vamos trabalhar no sentido de criar condições para que, em 2017, 95% dos alunos concluam o ensino fundamental cumprindo os padrões de desempenho adequados para cada série. Na saúde, o desafio é garantir um financiamento adequado. Com mais recursos para a saúde será possível reduzir as filas e assegurar qualidade no atendimento. Vamos regulamentar a PEC 29, que estabelece que tipos de gastos podem ser considerados como de saúde para cumprimento das despesas mínimas constitucionais. Vamos também criar um programa para a recuperação das Santas Casas, que enfrentam uma grave crise financeira. Vamos ainda reajustar a tabela do SUS para garantir uma remuneração adequada para os hospitais que prestam serviço para o sistema.
E com relação à geração de empregos?
É preciso deixar claro que a iniciativa privada é a principal responsável pela geração de emprego. O compromisso do nosso governo é criar as condições para que haja mais investimentos, que possibilitarão um maior crescimento econômico. Com crescimento econômico vamos gerar os empregos necessários.
O que o senhor pensa sobre a necessidade de se fazer uma reforma política?
Primeiro, é preciso deixar clara a falta de compromisso com a ética, com a seriedade e com o espírito público do atual governo. Essa deficiência moral não será resolvida por uma reforma política, mas com a mudança do governante. O governo Lula quer convencer o eleitorado que a origem dos escândalos de corrupção é o atual sistema político. A corrupção na gestão petista vem da frouxidão moral do governo. Meu compromisso com a reforma política é enviar, antes mesmo do fim do recesso parlamentar, uma proposta para criar a fidelidade partidária e o voto distrital. Não é possível um deputado mudar de partido toda hora. Insisto que não podemos abrir muito o debate, senão torna-se um processo infindável. É preciso fazer a reforma por etapas.
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