Os marqueteiros de Lula e Alckmin mostraram na reestréia dos programas eleitorais dos presidenciáveis, veiculados pela televisão entre 13h e 13h20 de hoje, o quanto são infinitas as possibilidades oferecidas por uma edição de vídeo.
Dando sua versão do debate realizado no último domingo na TV Bandeirantes, cada assessoria brindou o distinto telespectador com a imagem que bem entendeu do que se passou no estúdio da Band, em São Paulo.
Alckmin aparece propositivo, falando de seus planos para a saúde, a segurança e enfatizando a necessidade de novos investimentos. Em nenhum momento, surgiu na tela o candidato agressivo, quase raivoso, que acusou o presidente de mentir, ser "fraco" e que cobrou com dureza respostas para a origem do dinheiro apreendido que seria usado na compra do dossiê Vedoin.
Ficaram de fora da edição os trechos mais fortes dos questionamentos feitos por Alckmin. Exatamente aqueles que lavaram a alma da classe média inconformada com os escândalos da era Lula. Aqueles, enfim, que conduziram ao veredito de que o tucano ganhou o debate, como indicou a maioria dos internautas ouvidos em enquetes realizadas pelos portais Globo Online (56%) e UOL (62%).
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No programa de Lula, quase todo ocupado pela seleção de trechos do programa da Bandeirantes, o presidente aparece em seus melhores momentos no debate. Cobrando de Alckmin algum reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por um governo que afinal tem considerável índice de aprovação popular. Mostrando resultados de sua administração. Questionando as supostas intenções privatistas de Alckmin e seu grupo político. Acusando o PSDB de não apurar casos de corrupção que possam atingi-lo. E até dando explicação sobre a embaraçosa questão do dossiê.
O Lula hesitante que se embaralha ao manusear papéis na tentativa de questionar o oponente, obviamente, não foi ao ar. No lugar dele, um homem sempre tranqüilo e autoconfiante que depois é apresentado pela locutora com uma pergunta do gênero daqueles concursos de shopping centers, a resposta já vem implícita na própria indagação. "Você ainda tem alguma dúvida sobre qual é o candidato mais preparado?", pergunta ela.
A maquiagem de cada um
O botox midiático providenciado para os dois candidatos tem explicação fácil no caso de Lula. Embora tenha tido bons momentos no debate, em vários outros, o presidente não foi capaz de responder à altura aos ataques do adversário. Na maior parte do tempo, é certo, manteve-se calmo.
Mas a pouca energia que ele demonstrou nos instantes em que a artilharia de Alckmin atingiu o ponto máximo sugeriu exatamente o contrário da resposta deixada no ar pela apresentadora. Ou seja, a idéia de que fraquejou na defesa da conduta ética de sua administração e do seu partido e de que não estava adequadamente preparado para o debate. Assim, o programa eleitoral do presidente priorizou os momentos em que tais fragilidades foram menos visíveis.
Quanto a Alckmin, tudo leva a crer que os resultados das enquetes na internet – coincidentes, aliás, com a avaliação da maioria dos comentaristas da grande imprensa e dos analistas políticos – não batem com a percepção do público que não acessa a WEB e, portanto, não vota em levantamentos desse tipo. Pesquisas qualitativas realizadas pelos dois comitês eleitorais demonstraram que muitos eleitores, sobretudo dos estratos mais baixos de renda nos quais Lula tem sua maior força, não gostaram do tom usado pelo candidato do PSDB.
Ele teria sido agressivo demais em sua atitude, que, pouco depois da transmissão do programa da Bandeirantes, este Congresso em Foco chegou a comparar com o estilo consagrado por políticos como Jânio Quadros e Carlos Lacerda (leia mais).
Daí, provavelmente, duas escolhas verificadas no programa de hoje da coligação PSDB/PFL. A primeira é que, enquanto o programa de Lula foi dedicado quase exclusivamente ao debate, o de Alckmin reservou somente uma pequena parte ao tratamento do tema. A outra é que foram eliminadas da edição do confronto na Band os momentos em que o ex-governador paulista foi mais agressivo.
Veja a seguir o que mais rolou na volta do horário eleitoral dos presidenciáveis:
"Não sou policial"
Logo no início do primeiro bloco, o presidente Lula agradeceu os votos que recebeu nas urnas (46.662.365) e pediu apoio para que possa continuar realizando as mudanças necessárias para que o Brasil cresça. O resto do programa foi dedicado a mostrar trechos do debate em que Lula falou sobre ética, mudanças na economia, política externa, dossiê Vedoin e privatizações.
"Todo mundo sabe que foram o PSDB e o PFL que privatizaram o país. Aliás, aqui em São Paulo, vocês acabaram de privatizar uma empresa pública de linha de transmissão", aparecendo dizendo Lula. Em outro momento, Lula afirma que a diferença entre o seu governo e o de Alckmin é que ele jamais abafou escândalos.
Repetiu-se também o trecho do debate em que Lula, ao responder sobre a origem do dinheiro do dossiê Vedoin, disse: "Quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico. Quero saber o conteúdo do dossiê. Quero saber a origem do dinheiro. Não sou policial, sou presidente da República. O que cabia fazer ao presidente da República foi feito, afastamos todas as pessoas envolvidas. Agora, vamos deixar a polícia fazer o trabalho dela".
O programa insistiu ainda no questionamento feito por Lula sobre a pouca disposição do PSDB para apurar, quando está no poder, os casos de corrupção que possam atingi-lo. "É melhor aparecer a corrupção combatendo ela do que não aparecer porque não combateu", afirmou ele, depois de se referir à compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição.
Também foram selecionadas as imagens em que Lula conta que encontrou um país "falido", em que o ministro da Fazenda precisava fazer anualmente um périplo no exterior para fechar as contas do governo, e que hoje tem US$ 76 bilhões em reservas e elevados saldos de exportações. "É um país que está dando certo e que está preparado para dar muito mais certo no próximo mandato", afirmou o petista.
Houve espaço, ainda, para Lula listar algumas de suas prioridades em termos de investimento, como a implantação dos pólos siderúrgicos do Rio de Janeiro e do Nordeste, da Transnordestina, da refinaria de Pernambuco e do pólo petroquímico fluminense, além do desenvolvimento do programa de biodiesel, "que arrumou emprego em 20 meses para 205 mil famílias".
Logo na introdução, os marqueteiros de Lula deixaram uma indicação de que o programa da noite, que irá ao ar a partir das 20h30, será diferente. "Depois a gente conversa à noite", avisaram.
"Um novo tempo"
Já o ex-governador de São Paulo apareceu falando mais dos problemas do país e de soluções que pretende adotar. Na primeira parte, o locutor da propaganda de Alckmin destaca que ele foi o vencedor do debate, porque apresentou as melhores propostas nas áreas de saúde e emprego. Ressaltou que quando foi preciso, Alckmin "falou duro com Lula e trouxe esperança ao povo brasileiro".
Em seguida, foram apresentados depoimentos de pessoas falando que Alckmin venceu o debate, além de reproduções de matérias e artigos na imprensa que chegaram à mesma conclusão. A propaganda também mostrou que Alckmin foi capa, nesta semana, das revistas Veja e Época. O ex-governador de São Paulo agradeceu o apoio recebido no primeiro turno, no qual teve 39.968.369 votos.
"Obrigado pelo voto. Obrigado pelo carinho. Obrigado pela confiança. Chego ao segundo turno com a esperança redobrada, com a fé redobrada e acreditando ainda mais no Brasil melhor, do trabalho honesto, do emprego, das oportunidades, enfim, acredito na força do Brasil e do povo brasileiro".
Na segunda parte, Alckmin diz que o Brasil tem pressa de obra, trabalho e emprego. Afirma que "o Brasil dos escândalos, do imposto alto e de um só partido tem que ficar no passado, porque isso só prejudicou o país": "Agora, chegou a hora de um novo tempo. Tempo de dar incentivo para quem quer produzir e emprego para quem quer trabalhar. Tempo de investir na educação para dar novos horizontes às nossas crianças e mais oportunidades aos jovens".
Alckmin conclama os "brasileiros de bem" para uma união com o objetivo de implantar o plano nacional de segurança e outras políticas. "É hora de colocar em prática o plano nacional de desenvolvimento para gerar empregos e fazer o nosso país avançar".
O programa mostrou o tucano em diversos locais do país, visitando obras, cumprimentando pessoas, recebendo apoio popular e destacando fragilidades do governo atual: a falta de vigilância nas fronteiras do país, a situação de famílias que vivem em áreas de risco, denunciando in loco o péssimo estado de conservação das estradas ou a falta de apoio à indústria têxtil.
No resto do programa, a edição tenta realçar o estilo dinâmico e realizador com que Alckmin teria governado São Paulo. "Geraldo dá força aos trabalhadores gerando empregos. Apóia os empresários reduzindo impostos", diz o locutor.
O candidato também mencionou o Dia da Criança, deixando uma homenagem protocolar a quem representa "o futuro da nação", e afirmou: "Quero ser presidente para continuar o Bolsa Família, aumentar o Bolsa Família, melhorar o Bolsa Família".
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