Além da carregada pauta no Congresso (veja as agendas da Câmara e do Senado) e das especulações de que o ministério do segundo governo Lula enfim pode sair (saiba mais), a semana promete uma agenda cheia e nervosa.
Na terça, o presidente receberá os 27 governadores. Sua idéia é discutir ações conjuntas em áreas como educação e segurança pública. Os governadores, porém, só pensam em uma coisa: querem mais dinheiro federal para apoiar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – saiba mais.
Quinta e sexta, o presidente George W. Bush estará no país para discutir com Lula um acordo de cooperação na área de biocombustíveis. A proposta foi feita pelo presidente brasileiro em 2003, e será usada agora por Bush para estreitar o relacionamento com o Brasil. Na tentativa de fortalecer Lula, neutralizando a influência do venezuelano Hugo Chávez na América Latina, a Casa Branca também admite negociar uma ação conjunta contra os subsídios agrícolas europeus.
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Como o acordo de biocombustíveis só deve ser anunciado nos Estados Unidos, quando Lula lá estiver, ainda em março, os olhos dos observadores políticos e econômicos deverão estar mais voltados, antes disso, para o Banco Central (BC).
De lá sairá, também nesta semana (na quarta, 7), a decisão sobre a taxa básica de juros, assunto sobre o qual o Comitê de Política Monetária (Copom), formado pelos diretores do BC, vai deliberar pela segunda vez neste ano. Na primeira, o colegiado deixou até mesmo Lula furioso, ao cortar apenas 0,25 ponto percentual da taxa de juros mais alta do mundo logo após o anúncio do PAC.
Meirelles sob pressão
Pelo menos dois fatores explicam o grande interesse sobre o que o BC fará daqui pra frente. O primeiro diz respeito à resposta da instituição aos reiterados apelos públicos, inclusive de autoridades federais, em favor de uma política monetária um pouco mais ousada. Mesmo escaldados pela água fria dos últimos quatro anos de arrocho monetário, muitos aliados ou membros do governo têm esperança de que o coro dos descontentes provoque algum efeito no comportamento do Banco Central.
Os críticos daquilo que é visto como um conservadorismo exagerado do BC estão convencidos de que o banco presidido por Henrique Meirelles poderá selar a sorte dos níveis de desenvolvimento econômico brasileiro no segundo mandato de Lula. Se tudo continuar como foi até aqui, pensam, não há chance de o país atingir os 5% de crescimento anual prometidos por Lula.
Vem daí a atitude contraditória do presidente da República. De um lado, elogia Meirelles. Do outro, permite que sua política seja questionada abertamente por ministros importantes, como Guido Mantega (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil); nomeia um inimigo feroz da atual política monetária, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., para representar o Brasil no Fundo Monetário Internacional; e, discretamente, festeja a saída de quem é pintado como a “linha dura” do Copom: o direitor de política monetária do BC, Afonso Bevilaqua, que anunciou seu afastamento do cargo na última quinta-feira.
Esse movimento pendular deixou uma pergunta no ar: Meirelles terá força para indicar o substituto de Bevilacqua (emplacando, como deseja, o economista Mário Mesquita) e o novo diretor de administração do Banco Central – cargo hoje ocupado interinamente por Gustavo Matos do Vale?
Mas um segundo fator, não menos importante, atrai para o BC as atenções gerais: a turbulência nas bolsas do mundo inteiro, desencadeada semana passada pela queda repentina da bolsa chinesa de Xangai (que caiu 8,8% na terça, 27). Veio do Oriente o sinal vermelho que levou muitos a questionarem o atual valor das ações nos Estados Unidos, e nas demais nações do mundo, levando à maior desvalorização ocorrida no mercado de capitais desde o atentado às torres gêmeas em setembro de 2001.
Um cenário que, de certa forma, fortalece a ortodoxia, já que a ninguém parece recomendável ousar em situações de crise. Mas que, de todo modo, lança outro tipo de dúvidas: que chances há de o já chamado “efeito China” prejudicar a economia brasileira, desafiando os tais “fundamentos econômicos” (reservas altas, inflação baixa, controle fiscal etc.), cantados em prosa e verso pela “economicracia” pátria? Um cenário, como se vê, em que há mais perguntas a listar do que respostas a oferecer.
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