Estamos em agosto, e a safra de más notícias está sendo colhida agora, para azar do presidente Lula. Primeiro, o Copom manteve a taxa de juros de 19,75% pelo terceiro mês consecutivo. Segundo, a safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2005 será 4,91% menor do que a do ano passado. A previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que sejam colhidos este ano 113,5 milhões de toneladas, contra 119,3 milhões em 2004. O Brasil está parado, à espera dos resultados das comissões parlamentares de inquérito que estão passando a limpo o país.
O quadro é dramático: nos nove estados da Amazônia Legal, que representam quase dois terços do território nacional, as obras rodoviárias estão paralisadas. Promessas feitas nos palanques pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva não estão sendo – e nem serão – cumpridas. Ninguém acredita que, até o final de 2006, será feito o asfaltamento de rodovias como a Transamazônica e a Santarém-Cuiabá, construídas nos anos de chumbo do “milagre brasileiro”, na ditadura do general Médici. No próximo inverno amazônico, a partir de janeiro de 2006, veremos as imagens dos atoleiros no Jornal Nacional .
Enquanto isso, proliferam a grilagem de terras, os desmatamentos criminosos e as queimadas. Há um silêncio denunciador também nos projetos de cunho social do governo, como o Bolsa-Família. Do finado Fome Zero, nem se fala mais. Houve também redução das ações de projetos que ganharam destaque no governo FHC, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e mesmo na reforma agrária, que estacionou. Para alívio dos latifundiários, o outrora aguerrido Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) parece mais preocupado em engrossar a marcha chapa-branca de apoio ao presidente da República na Esplanada dos Ministérios.
Até os escravocratas estão fazendo festa. Enquanto o Brasil está focado nas emissoras de televisão que transmitem ao vivo os depoimentos nas CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, aumentou substancialmente o número de liminares concedidas pela Justiça, beneficiando fazendeiros flagrados explorando trabalho escravo e que tiveram seus nomes incluídos na “lista suja” elaborada pelo governo.
Os incluídos na “lista suja” ficam proibidos de receber crédito governamental: empréstimo em banco oficial a juros subsidiados ou mesmo incentivo fiscal dos fundos constitucionais. Dos 21 fazendeiros escravocratas excluídos da lista graças a liminares, nove conseguiram o benefício agora em agosto, conforme registrou o repórter Leonardo Sakamoto. Repetindo a célebre frase do ex-presidente da Arena, Francelino Pereira: “Que país é este?”.
* Ronaldo Brasiliense, jornalista paraense, foi chefe da sucursal da Veja na Amazônia, repórter especial do Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e IstoÉ e colunista do Correio Braziliense. Ganhou o Prêmio Esso em 1998 e 2003.
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